(220) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte Final).

Chegamos à última mensagem da série sobre a “necessidade humanista” de conhecer o autismo. Exatamente no término do mês de abril, mundialmente dedicado à conscientização desse transtorno de desenvolvimento neurológico. Estou vivenciando uma forte emoção interior de “sentimento de ajuda” (estado de alma, assim explicado pela minha seguidora, doutora Daniela Benzecry, médica clínica, homeopata, e analista junguiana, no Rio de Janeiro: – “Quando uma emoção está ocorrendo no organismo (formado por corpo e mente) ela é percebida conscientemente pelo sentimento gerado.”

Durante a escrita de todas as mensagens desta série, sempre lembrei deste ensinamento do neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro que, juntamente com outros, enriqueceu a proposta do livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, com tradução de Fernando Santos, que para os interessados indico como sendo leitura obrigatória:

– Os seres humanos se inserem na dimensão das realidades sociais que eles criaram por meio de suas interações, da observação dos outros e do compartilhamento de suas observações e experiências subjetivas. Esses processos de comunicação lhes permitem compartilhar um consenso sobre a legitimidade dessas experiências atribuindo-lhes qualificações (nomes ou símbolos): é assim que eles asseguram que essas experiências sejam comuns a todos os seres humanos.

Faço apenas duas perguntas para você:

– NAS NOSSAS INTERAÇÕES, SEJAM DE QUE NAUREZA FOREM, QUAL É A NOSSA RESPONSABILIDADE “EXISTENCIAL” E “ESPIRITUAL” NA CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE DE UMA CRIANÇA AUTISTA ?

– QUAL É O LUGAR DA CRIANÇA AUTISTA, NA SOCIEDADE MODERNA ?

Somente cada um de nós poderá responder, de acordo com a percepção humanista da nossa realidade social. Pessoalmente gosto desta observação do mundo da criança em nossas vidas, feita pela doutora Danielle Cristina Wolf, psicóloga de formação e especialista em educação infantil pela USP (na sua abordagem “Desconstrução da infância”, publicada na Edição 99, Ano VIII, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora ESCALA):

– A criança, desde muito pequena, é um ser humano que está em constante desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo, afetivo e social. Que possui marcas por sua história de vida, definidas também pelas tramas sociais e culturais do momento em que vive e onde está inserida. Tem uma extraordinária capacidade de se relacionar com o mundo que a circunda, e a cada nova relação com o meio, se apropria de todos os elementos presentes na experiência vivida, dentro de suas condições físicas, neurológicas, biológicas, sociais. A criança se relaciona com o mudo físico e social tal qual ele se apresenta a ela: com todos os sons, cores, objetos, fenômenos, pessoas e relações presentes. Um mundo que não é feito de recortes, mas de totalidades.

É para os educadores que pertencem a essas totalidades (responsáveis pela “educação inclusiva das crianças autistas”), que peço atenção para estas respostas do psicopedagogo Eugênio Cunha, na entrevista citada na terceira parte desta série de mensagens:

1.Sobre como os educadores devem lidar com o aluno autista.
Eugênio Cunha. Eu sempre digo que não há receita de bolo. Digo também que não conheço dois autistas iguais. O que funciona com um pode não funcionar com outro. Porém, há aspectos básicos na aprendizagem humana que são inerentes também a alunos com autismo: a afetividade do aluno, os seus interesses e a funcionalidade do trabalho pedagógico. O que se ensina precisa fazer sentido. É necessário mergulhar nos afetos do autista: descobrir seus interesses, desejos, sonhos, possibilidades, dificuldades, enfim, conhece-lo bem. Em termos pedagógicos, o professor precisa descobrir quais habilidades seu aluno já possui e quais ele precisa adquirir. A partir daí, escolher os materiais adequados. Podem ser habilidades sociais ou acadêmicas. Sempre priorizando a comunicação e a socialização. É preciso estabelecer um plano de ensino em conjunto com a família. Muitas vezes, a elaboração de uma rotina em casa, articulada com uma rotina na escola, é um caminho para ajudar o autista a autorregular-se e a inserir-se no espaço escolar. As práticas de ensino devem ter predicados de ludicidade. Independentemente da idade, do nível de ensino ou do grau de comprometimento, o espaço escolar deve favorecer o prazer de aprender.

2.Sobre a possibilidade de integração dos alunos autistas em sala de aula, mesmo nos casos mais severos.
Eugênio Cunha. Sim. Se a escola tem projetos inclusivos, estratégias adequadas, parceria com a família e, principalmente, professores capacitados, o trabalho de inclusão obterá sucesso.

3. Sobre qual a melhor instituição de ensino para os autistas.
Eugênio Cunha. O tipo de atendimento depende do tipo de aluno e do contexto. Há famílias que buscam escolas que tenham bons profissionais. Lógico que a preferência será sempre por escolas do ensino comum, mas nem sempre ela será suficiente ou estará preparada para incluir. O autismo é uma síndrome com sintomas bem diferentes em cada indivíduo. Então, dependendo dos comprometimentos, é totalmente possível e até natural que alunos com autismo estudem em classes comuns, mesmo começando por classe especial. Não somente isso, mas que cheguem à universidade. (…) A inclusão não se faz apenas em classes do ensino comum, mas também com o apoio de espaços especializados e com a parceria da família.

4.Sobre as diferenças de metodologia entre os dois tipos de instituição.
Eugênio Cunha. A legislação diz que o atendimento especializado deverá ser feito no contraturno. Isso porque o ideal será sempre a escola do ensino regular, se ela estiver preparada. Porém, muitos pais optam por matricular seus filhos em escolas especializadas. O atendimento em instituições especiais traz muitas vantagens individuais, pois essas instituições normalmente contam com diversos profissionais de apoio. Então, por exemplo, o aluno pode ter o atendimento de fonoaudiologia, de psicomotricidade etc. que vão atuar em áreas bem específicas do seu aprendizado. Numa boa escola do ensino comum, a grande vantagem está na socialização, nos desafios, na convivência com o diferente em um ambiente que é muito mais inclusivo, que prepara o indivíduo para os desafios da vida social. A classe regular deve trazer modelos positivos, em razão da convivência com as diferenças, tanto para alunos com autismo quanto para alunos neurotípicos.

5.Sobre se as consequências do autismo na sociabilidade do aluno podem ser superadas pelos outros alunos.
Eugênio Cunha. No campo de convívio, sim. Por isso é importante que o trabalho na escola não se restrinja apenas ao aluno incluído, mas também abarque a família do aluno incluído e as demais famílias, que precisam ver a inclusão como um processo social irreversível de convivência com as diferenças.

6.Sobre as expectativas dos pais e professores, em relação ao desenvolvimento intelectual do filho e do aluno autista.
Eugênio Cunha. O aluno autista aprende, pois a aprendizagem é característica do ser humano. Mas é necessário estabelecer vínculos com situações concretas da escola. Vínculos, principalmente, com a condição discente. Educar o aprendente com autismo é constituir uma relação dialógica que pressupõe um jeito diferente de aprender e, como consequência, um jeito diferente de ensinar.

7. Sobre se o ensino público e particular está preparado para atender crianças com autismo, com aprendizagem de qualidade.
Eugênio Cunha. Infelizmente não. Ainda há muitas deficiências no atendimento e na relação com o aluno com TEA. (…) Há dificuldades na elaboração de programas específicos em sala de aula comum, diante da premência de atender alunos com deficiência e sem deficiência ao mesmo tempo. As escolas dão pouco suporte aos professores. Uma pesquisa realizada por nós em escolas públicas e particulares mostrou que o comportamento e a condição intelectual são os elementos que mais contribuem para inclusão-exclusão.

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br

Muita paz e harmonização interior.

(219) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte IV).

Existe em Portugal o site Psicologia.pt, excelente “Portal dos Psicólogos” que aprecio pela diversidade dos temas que, em sua maioria, são apresentados com facilidade de compreensão. Nele encontrei esta advertência (é como defino a minha avaliação) feita no artigo “A expressão da sexualidade das pessoas com autismo”, assinado pela doutora Marina da Silveira Rodrigues Almeida, Consultora em Educação Inclusiva, Psicóloga e Especialista do Instituto Inclusão Brasil:

– A pessoa com Autismo tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e único, como qualquer pessoa (…). Observamos nos casos em que a sexualidade é bem encaminhada na vida destas pessoas: melhora o seu desenvolvimento afetivo, transcurso da puberdade/adolescência/vida adulta mais tranquila e feliz, facilita a capacidade de se relacionar, melhora a auto-estima, permite a construção da identidade adulta e a adequação à sociedade.

A maior parte dos indivíduos portadores de TID (transtorno invasivos do desenvolvimento) apresentam um desenvolvimento biológico normal da sexualidade. Entretanto, no desenvolvimento psicológico ocorre uma série de alterações que se manifestam na conduta e podem variar de intensidade e freqüência, dependendo do grau de distúrbio e do nível intelectual. Em alguns deles predomina a necessidade de satisfação imediata dos próprios impulsos. Segundo Haracopos e Pederson (1989), em outros casos, a capacidade de conter os impulsos sexuais e agressivos é rudimentar, havendo pouca ou nenhuma autocrítica. Pode ocorrer também uma distorção da percepção da realidade, bem como capacidade limitada ou ausente de fantasiar ou imaginar, assim como ansiedade ligada ao sentimento de excitação sexual, associações bizarras e pensamento concreto. Haracopos e Pederson (1989)

A partir do momento que pudermos pensar em sexualidade relacionada a afetos, relacionamentos afetivos e não mais puramente da esfera dos genitais, conseguiremos intervir criativamente nas situações, sem tantos sobressaltos, medos, reservas, preconceitos, autoritarismos, castigos. A pessoa com Autismo vai precisar de apoios para compreender o mundo a sua volta de forma a desenvolverem sua identidade como jovem e futuro adulto libertando-se do modelo infantilizado, de maneira concreta, firme, vivenciando a experiência através de teatros, escrevendo, desenhando, expressando-se artisticamente.

Em seguida, conclui a doutora Marina:

A ambiguidade no comportamento dos pais e profissionais frente à sexualidade do deficiente levam aos conflitos e atitudes incoerentes de ambas as partes, gerando frustração, dor e muita angústia. A ansiedade e falta de confiança no potencial afetivo-sexual das pessoas com deficiência intelectual e autismo, faz com que fiquemos agitados e irracionais quando temos de lidar com um problema, uma situação. O que sabemos é que tanto as pessoas com deficiência intelectual e autismo sentem, desejam, sonham, sofrem, como qualquer ser humano, portanto nós é que precisamos libertar-nos dos nossos preconceitos frente à sexualidade humana e proporcionar uma vida com qualidade e respeito as singularidades individuais.

Sempre ressalvando que não sou da área de saúde, entendo que essas considerações da doutora Marina cabem para a qualquer tipo de comprometimento da capacidade psíquica ou física do indivíduo, observadas as variações dos graus de deficiências que lhes são causadas. Justifico, em razão da abrangência do conceito de “pessoa deficiente”, assim definido pela ONU (Organização das Nações Unidas):

– O termo “pessoa deficiente” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas e mentais”.

O “despertar da sexualidade” (principalmente nos autistas) merece atenção aumentada na adolescência, quando correm as transformações assim explicadas por Giancarlo Spizzirri, psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq), da Faculdade de Medicina da USP:

– Adolescência é uma fase do desenvolvimento, que geralmente ocorre dos 10 aos 19 anos de idade. Para a Organização Mundial da Saúde, a puberdade se distingue por mudanças envolvidas com particularidades físicas (por exemplo, pela influência dos hormônios no desenvolvimento das características sexuais secundárias), emocionais, relacionadas, entre outras. Com a maturação das gônadas (ovários e testículos), a função reprodutora passa a se constituir uma possibilidade, além do mais, é nessa fase que as práticas sexuais ganham outra dimensão, e normalmente costumam ser mais empreendidas, como a masturbação, brincadeiras e jogos com a finalidade de gratificação sexual. Entretanto, não podemos resumir esse período somente como sendo o qual novas práticas sexuais são exploradas; ele é também um momento importante de interação dos adolescentes com seus pares, família e sociedade.

Certo é que, no ser humano, a sexualidade é uma sensória descoberta interior “de si mesmo”.

Termino esta mensagem com a síntese de um artigo sobre a sexualidade no autismo, publicado pelo Journal of Autism and Developmental Disorders. Relata um estudo, no estado da Carolina do Norte, EUA, com 21 autistas adultos (sendo 11 homens e 10 mulheres) referente ao conhecimento de sexo. Uma hipótese aponta que sujeitos do sexo masculino com autismo demonstraram um interesse maior do que as mulheres, e alguns com experiências sexuais, porém, a maioria somente praticava a masturbação. O resultado da pesquisa demonstra que há um interesse sexual por parte dos indivíduos com autismo maior do que a literatura sobre o tema sugere e os programas de Educação Sexual devem se basear no que estes indivíduos sabem, querem e precisam.

Esse artigo, noticiado na Edição 101, Ano VIII, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala (Colaboração de Priscila Sampaio, a serviço da revista Sentidos), foi complementado com esta observação da doutora Adriana Cintra Moraes, pedagoga habilitada em deficiência intelectual:

– A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma, e eu concordo, que a sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade. Integra o modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações influenciando nossa saúde física e mental. Por isso devemos ter uma atenção maior para as pessoas com autismo.

Fiquem com este belo depoimento de mãe e filho:

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br
3.Vídeo youtube (“Autismo – Sexualidade e Relacionamento”)

Muita paz e harmonização interior.

(218) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte III).

Dando continuidade à série de mensagens sobre “autismo”, merecem atenção as seguintes informações selecionadas da entrevista concedida pelo doutor Eugênio Cunha ao jornalista Lucas Vasques, publicada na Edição 145 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:

1.Sobre a dificuldade dos profissionais da saúde, para diagnosticar o “autismo”.
Eugênio Cunha. O diagnóstico do autismo é com base no comportamento. Por essa razão ainda existem muitas dificuldades para o profissional avaliar, principalmente nos casos mais leves. O transtorno compreende um conjunto de comportamentos agrupados numa tríade principal: comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social e atividades restritivas e repetitivas. Mas os sintomas variam de indivíduo para indivíduo, dificultando em muitos casos o diagnóstico.

2.Sobre o que está na origem de uma personalidade autista. O gatilho é algo que ocorre no cérebro?
Eugênio Cunha. O gatilho é uma síndrome proveniente de causas ainda desconhecidas, mas com grande contribuição de fatores genéticos. trata-se de um transtorno complexo com sintomas e quadros comportamentais distintos. Atualmente, estudos da neurociência têm relacionado o número cada vez mais de casos de autismo e de outros transtornos a fatores ambientais. As pesquisas mostram um grande número de crianças afetadas por danos tóxicos no desenvolvimento do cérebro. Há redução na capacidade de atenção, atraso no desenvolvimento e mau desempenho escolar. Produtos químicos industriais somados à predisposição genética estão agora emergindo como causas mais prováveis.

3. Sobre o que é necessário ainda estudar para compreender melhor esse tipo de condição e os problemas consequentes.
Eugênio Cunha. Penso que são as contribuições dos fatores ambientais na incrementação dos sintomas do autismo. A coisa é séria. Nossa saúde é cada vez mais prejudicada por alimentos contaminados por pesticidas, alimentos industrializados contendo muito açúcar, conservantes, corantes e sódio. Isso tem provocado intoxicações severas, principalmente em autistas. O texto da Lei n. 12.764/12, Lei do Autismo, também conhecida como Lei Berenice Piana, estabelece em seu artigo terceiro que a pessoa com TEA tem direito a nutrição adequada e a terapia nutricional. Se não fosse algo tão importante, não estaria na lei.

4.Sobre os principais sintomas do autismo.
Eugênio Cunha. Os sintomas são: dificuldade para compreender símbolos da linguagem e códigos sociais; dificuldade de interagir com as pessoas; estereotipias e, em alguns casos, deficiência intelectual. Há alguns sinais que podem ser percebidos desde cedo: isolamento social, ausência de contato visual, resistência a mudanças de rotina, manuseio não apropriado de objetos, transtorno de processamento sensorial e movimentos circulares no corpo.

5.Sobre em qual idade esses sintomas aparecem com mais frequência.
Eugênio Cunha. É mais comum identificarmos o autismo por volta dos três anos de idade, principalmente quando a criança está na escola e qualquer diferença de comportamento ou dificuldade de socialização é mais bem percebida. Mas é comum identificar sinais de autismo precocemente, quando, por exemplo, o bebê não faz contato com os olhos, não sorrir, chora muito, não balbucia palavras e não aponta.

6. Sobre a dúvida dos pais a respeito de como educar a criança autista.
Eugênio Cunha. Sim, mas isso é natural. O autismo, como falamos anteriormente, está envolvido ainda pelo desconhecido. Além disso, o diagnóstico nem sempre é fácil, o que aumenta a insegurança dos pais. Somam-se a esses fatores a dificuldade de encontrar tratamento adequado, com qualidade, profissionais preparados e escolas inclusivas.

7.Sobre os tratamentos adequados para a criança, o adolescente e o adulto autista.
Eugênio Cunha. Não há receitas. O que será preciso fazer dependerá da pessoa. Normalmente, habilidades de socialização e a linguagem deverão ser estimuladas. Os materiais da escola deverão ser adaptados. Além disso, deverão ser observadas questões ligadas ao processamento sensorial, alergias em razão da alimentação inadequada, as quais alteram profundamente o comportamento,além de aspectos relacionados a possíveis inoxicações por conta da exposição a metais pesados.

8.Sobre se a sociedade moderna está mais preparada para lidar com pessoas autistas, sem o estigma que o transtorno provoca.
Eugênio Cunha. Sem dúvida houve grandes progressos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Há muitos casos de preconceito e discriminação em distintos espaços sociais, como a escola e o trabalho, inclusive com o uso pejorativo do autismo.

9.Sobre os avanços dos estudos científicos sobre o transtorno.
Eugênio Cunha. Há estudos bem promissores que procuram entender a genética do autismo e estudos advindos da neurociência que buscam conhecer melhor o cérebro humano. Há também uma grande contribuição das tecnologias digitais na educação, como suporte ao ensino e à aprendizagem. Atualmente, não se pode pensar em aprendizagem sem atentar para as novas articulações cognitivas que surgiram em razão das instrumentações digitais. Elas têm contribuído com novos conceitos epistemológicos relacionados à educação.

Complemento esta bela e esclarecedora entrevista, com estas explicações do doutor Caio Abujadi, médico psiquiatra infantil, especialista em autismo:

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br
3. O Dr. Eugênio Cunha é autor dos seguintes livros sobre autismo; “Autismo e inclusão” e “Autismo na Escola”, publicados no Brasil pela Wak Editora. E-mail para contato: eugenio@eugeniocunha.com / Dr. Caio Abujadi, fone (11) 32571697 ou contato@clinicamarcolin, em São Paulo.
4.Vídeo do youtube (“Programa Especial – Caio Abujadi”).

Muita paz e harmonização interior.

(217) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte II).

Reforço preliminar de um esclarecimento necessário: – Nesta nossa caminhada de “autoconhecimento”, em mensagens anteriores ficou registrado que a criação deste espaço virtual surgiu da uma “percepção sensória” de um “chamado interior”, na época com motivação consciente completamente desconhecida (mensagem 044, dentre outras). Com o fluir ilusório do passar do “tempo”, percebi que estava assumindo um compromisso existencial e espiritual de “AJUDA” (Entenda-se essa “ajuda”, no sentido de transmitir a “necessidade” e os “benefícios” que podemos alcançar com o conhecimento da nossa “subjetividade”, tentando descobrir os significados das nossas “emoções” e “sentimentos”. Com esse “semear virtual”, a primeira colheita surgiu com a mensagem 030 pelos comentários recebidos, consegue cativar com a força do “AMOR” nos cuidados do marido à sua esposa com “alzheimer”, há 14 anos. Agora, com esta série sobre “autismo”, sinto-me no dever de novamente esclarecer que não sou da área de saúde. Por esta razão de “responsabilidade ética”, todas as informações serão prestadas ou comentadas com a indicação das respectivas especialidades dos seus autores.

No final da mensagem anterior (postada em 26/04/2018), antecipei que nesta oportunidade seriam feitas considerações sobre esta observação do neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro, que merecem a atenção de familiares, cuidadores e educadores de pessoas com “TEA”:

– Crianças autistas, por exemplo, têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções. Isso lhes torna difícil deduzir das expressões faciais dos cuidadores se elas se comportaram bem ou mal, e essa incapacidade as impede de desenvolver a capacidade de socialização.
Quando crianças autistas realizam uma tarefa, acabam sempre olhando para o cuidador que as acompanha para avaliar se o comportamento delas está correto ou não. Se não conseguem interpretar as expressões dos cuidadores, é difícil para elas desenvolver suas funções cognitivas e se relacionar com o mundo, de modo que ficam cada vez mais isoladas. Esse isolamento é outra explicação da imensa capacidade de memorização de algumas crianças autistas. Considerando que não são capazes de investir nas relações sociais, seu entorno fica extremamente empobrecido; elas dirigem, então, toda a atenção para outras fontes de informação, como tabelas de horários e calendários, que decoram, repetem e memorizam. Como não sou especialista na matéria, aceite com cautela o que acabei de dizer.

Trata-se, portanto, de uma questão essencialmente relacionada às “vinculações sensórias” presentes nas interações existenciais de manifestações interiores de “subjetividades” (ou seja, a da criança autista, com a de outras pessoas). Entendo que essas experiências vivenciadas com os portadores de transtornos autísticos (designados como Transtornos Globais do Desenvolvimento, na décima versão da CID-10 da Classificação Internacional de Doenças), também são valiosas experiências de “autoconhecimento”. Sempre ressalvando que não sou da área de saúde, assim explico este meu pensar sobre a observação do doutor Wolf Singer: Como as crianças autistas “têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções” (o que impede desenvolver a capacidade de socialização), deve a outra pessoa com quem elas estão interagindo (familiares, cuidadores ou educadores, dentre outros) “voltarem-se para si mesmo” (prática de “autoconhecimento”) e, assim, poder “sentir”, “querer entender” e “avaliar” com a criança autista em face da sua dificuldade de socialização. Resumindo: Para mim, as manifestações de “transtornos de autísticos” refletem matizes sensórias da “subjetividade interior” dos seus portadores (mostragem definida pelas conhecidas limitações relativas ao atraso no desenvolvimento da linguagem, às dificuldades nas relações sociais e aos comportamentos estereotipados. Exemplos:

1. Como esclarece a psiquiatra infantíl da Unicamp, doutora Lídia Straus: “A criança autista tem dificuldade de interpretar afeto e metáforas. Ela não compreende as entrelinhas. Geralmente ela tem dificuldade de interpretar o todo, ela se atém a detalhes. Elas têm uma visão diferente das demais crianças”.

2. Como o autista não consegue distinguir suas sensações internas daquelas que lhe chegam do exterior, esclarece a psicanalista Leda Bernardino, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba: “O paradoxo está na estrutura do processo de construção da subjetividade, que necessita da união com o outro para a montagem da identidade da criança. Como a criança autista não vive a operação psíquica da união, também não pode entender o sentido da separação”.

Termino esta mensagem com estes sinais de alerta, selecionados pelo neurologista Adailton Tadeu Pontes:

1.COMUNICAÇÃO: Não responde ao próprio nome. Não consegue dizer o que quer. Atraso na linguagem. Não atende as ordens. Aparenta ser surdo algumas vezes. Não aponta, nem acena tchau. Falava algumas palavras e agora não fala mais.

2.SOCIALIZAÇÃO: Não sorri socialmente. Prefere brincar sozinho. Ele mesmo pega o que deseja. É muito independente. Faz determinadas coisas precocemente. Faz pouco contato com o olhar. Vive em seu próprio mundo. Ele nos ignora. Não tem interesse em outras crianças.

3. COMPORTAMENTO: Crises de raiva. Hiperativo, opositivo, não coopera. Não sabe brincar com brinquedos. Anda na ponta dos pés. Tem o hábito de se interessar demasiadamente por outros objetos. Gosta de enfileirar objetos. É muito sensível a determinadas texturas e sons. Faz movimentos estranhos.

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br
3.A citação do entendimento pessoal do neurobiologista Wolf Singer foi retirada do livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, que recomendo para os meus seguidores desta jornada para o “autoconhecimento”.
4.A citações de especialistas da área de saúde, foram feitas dos artigos “Criança Encapsulada”, da jornalista Roberta de Medeiros, e “Transtornos Autistas”, do médico neurologista Carlos A. N. J. Gadia, publicados na Edição 74, Ano VI, de Fevereiro de 2012, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.

Muita paz e harmonização interior.

(216) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte I).

Nesta nossa jornada para o “autoconhecimento”, todas as mensagens me foram intuídas por uma envolvente necessidade interior de querer contribuir, de alguma forma, para a conscientização de que nesta dimensão de vida todos nós temos uma finalidade bem definida de possibilidades de crescimento existencial e espiritual. Defino-a como sendo um “propósito de vida” que precisa ser “desperto em nós” por contagiantes sentimentos humanistas de “amor”, de “ajuda” e de “solidariedade”. Assim, como acredito, pretendo consolidar nos nossos corações este ensinamento de Jesus: – “Ame o próximo como a ti mesmo”. Talvez tenha sido esse “propósito de vida” que imantou este “sentir” de Cora Coralina (mensagem 001):

Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Com esta mensagem desejo “semear” em você informações sobre a nossa oportunidade de poder ajudar na interação “humana” e “social” dos “autistas”, em nossas vidas. Por sua relevância, inicio com esta mensagem que será sucessivamente sequenciada por outras.

Quem primeiro procurou descrever o “autismo” foi o psiquiatra austríaco Leo Kanner, em 1943. Ele tentou diferenciar da esquizofrenia infantil, definindo o “autismo” como sendo uma incapacidade “para estabelecer relações normais com pessoas e reagir a situações”. Por sua vez, o consagrado psicólogo Luca Surian (2010, na sua conhecida obra “Autismo: informações essenciais para familiares, educadores e profissionais da saúde”, lançada no Brasil pela Editora Paulinas, sustenta o seguinte entendimento:

– O autismo é um distúrbio do desenvolvimento neuropsicológico que se manifesta através de dificuldades marcantes e persistentes na inteiração social, na comunicação e no repertório de interesses e atividades.

Sobre essa dificuldade de manter laços sociais (em muitos casos, com prevalência comportamental de “isolamento” e de “indiferenças”), peço a sua atenção para a subjetividade desta explicação da psicóloga e psicanalista Silvana Rabello, citada pela jornalista Roberta de Medeiros no seu artigo “Criança Encapsulada”, publicada na Edição 74, Ano VI, fevereiro de 2012, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala [na época, a doutora Silvana coordenava o projeto “Espaço Palavra”, da PUC-SP, destinado ao acolhimento de crianças com psicose e autismo]:

– Sem a compreensão das emoções, as crianças autistas “podem” ter dificuldade de reconhecer os sentimentos dos outros (o que é resultado de uma não realização simbólica do outro). Explica: “A ideia do ‘eu’ e do ‘outro’ é desenvolvida na criança normal e a partir daí ela conquista o código linguístico e os padrões afetivos de relacionamento. Com isso, essa criança recebe injeção de cultura de tudo o que a sociedade vem construindo há milhares de anos. Mas isso não ocorre na criança autista.”

Em seguida, complementa a jornalista Roberta de Medeiros:

– O não reconhecimento do outro leva à estereotipia, um padrão de linguagem bastante restrito, que tende a uma repetição infinita. Isso ocorre porque essa comunicação não é claramente dirigida ao outro. “Essa comunicação, então, começa a ser desprezada pelo adulto, que precisa ter uma configuração do outro”, diz Silvana. Ela lembra que todas as pessoas apresentam uma estereotipia, embora em uma escala reduzida. “A tendência é repetir o discurso sempre que sentimos que a nossa comunicação não foi bem sucedida, mas isso é mais acentuado na criança autista”, observa.

Termino esta primeira mensagem da série sobre “autismo”, antecipando o enfoque principal da próxima. Será sobre a capacidade extraordinária dos “autistas savants” (especificamente sobre como eles lidam com as emoções), assim comentada pelo neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro:

– Crianças autistas, por exemplo, têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções. Isso lhes torna difícil deduzir das expressões faciais dos cuidadores se elas se comportaram bem ou mal, e essa incapacidade as impede de desenvolver a capacidade de socialização.
Quando crianças autistas realizam uma tarefa, acabam sempre olhando para o cuidador que as acompanha para avaliar se o comportamento delas está correto ou não. Se não conseguem interpretar as expressões dos cuidadores, é difícil para elas desenvolver suas funções cognitivas e se relacionar com o mundo, de modo que ficam cada vez mais isoladas. Esse isolamento é outra explicação da imensa capacidade de memorização de algumas crianças autistas. Considerando que não são capazes de investir nas relações sociais, seu entorno fica extremamente empobrecido; elas dirigem, então, toda a atenção para outras fontes de informação, como tabelas de horários e calendários, que decoram, repetem e memorizam. Como não sou especialista na matéria, aceite com cautela o que acabei de dizer.

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.Havendo, neste espaço virtual, qualquer citação ou reprodução de vídeos que sejam contrários à vontade dos seus autores, serão imediatamente retiradas após o recebimento de solicitação feita em “comentários” no final de cada postagem, ou para edsonbsb@uol.com.br
3.Foi o entendimento do doutor Wolf Singer que motivou a idealização desta mensagem. A reprodução acima foi feita do livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, que estou lendo e recomendo aos seguidores do “Sensibilidade da Alma”.
4.Consultem a Lei 12.764 de 27 de dezembro de 2012 (Lei do Autismo, também conhecida por Lei Berenice Piana), que Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Muita paz e harmonização interior.

(215) Sentindo o “escutar interior” da nossa intuição.

Muito pouco se sabe sobre a nossa capacidade intuitiva. Para Carl G. Jung, a “intuição” é uma função psicológica (OC, Tipos Psicológicos, vol. 7). A sua origem etimológica vem do latim “intueri”, que significa “ver por dentro”. Na linguagem popular, a manifestação feminina também é conhecida por “sexto sentido”. O ensaísta francês Joseph Joubert dizia que pela razão podemos ser advertidos sobre “o que devemos evitar”; pela intuição, sobre “o que devemos fazer”. Pelo meu “sentir”, intuição é percepção de “sabedoria interior” e, portanto, fonte sensória de “autoconhecimento”. Por sua vez, sendo a nossa consciência “transpessoal” (mensagem 191) acredito que em razão do nosso atual ciclo de evolução e necessidades de crescimentos em todos os sentidos, também podemos receber intuições sensoriamente imantadas com essência de espiritualidade transcendente.

Em entrevista concedida ao jornalista Steve Ayan, publicada na Edição Especial 54, Ano XI, da Revista Mente e Cérebro, lançada no Brasil pela Editora Segmento com conteúdo estrangeiro licenciado pela Scientific American, esclarece o cientista cognitivo e doutor em psicologia Thomas Goschke:

1.Sobre a que se referem os psicólogos, quando falam de intuição.
Goschke. Em princípio, o conceito é indefinido, porque, no dia a dia, ele é aplicado a todo tipo de inspiração espontânea, seja na tomada de uma decisão, na solução de uma tarefa intelectual ou em relação a qualquer pressentimento inexplicável que tenhamos. O psicólogo Carl G. Jung contrapunha a intuição – como compreensão imediata e integrada de relações diversas – à decomposição lógico-analítica. Como tinha um sabor esotérico, essa concepção ficou malvista pela psicologia experimental. Mas, nos últimos 30 anos, o estudo do processamento implícito de informações viveu uma verdadeira explosão. E, nesse contexto, também o conceito de intuição voltou a ser aceito. Segundo o prêmio Nobel americano Daniel Kahneman, elas seriam “rápidas”, sem esforço, semelhantes à percepção”. Mas é claro que as impressões intuitivas se fundam em processos mais ou menos complexos. Em linhas gerais, podemos considerar que a intuição seja uma forma de apreensão menos óbvia do mundo.

2.Sobre o que significa “processamento implícito”.
Goschke. A intuição é a capacidade de fazer um julgamento sem ter consciência das informações em que se baseia. Na música, por exemplo, muitas vezes bastam algumas notas para distinguirmos um solo de guitarra de Prince de outro de Santana. Para isso não é necessário que, primeiro, se analise conscientemente o fraseado ou a harmonia. Em geral, nem sabemos dizer o que nos levou a um juízo específico.

3. Sobre se nesse processo as emoções desempenham um papel importante.
Goschke. Com certeza. Por um lado, os juízos intuitivos muitas vezes se expressam em sentimentos. As emoções influenciam também na maneira como tomamos decisões. Há indicações de que, quando nosso estado de espírito é positivo, relaxado, tendemos mais ao juízo intuitivo que à ponderação analítica. Se tristes ou deprimidos, ao que parece, é o contrário.

4.Sobre se existem situações em que nos deixamos guiar mais pelas intuições.
Goschke. Se temos pouco tempo é, sobretudo, no juízo intuitivo que confiamos, pelo simples fato de que a análise consciente de uma situação tomaria tempo demais. Também o estado de espírito parece exercer alguma influência. Experimentos envolvendo os chamados juízos coerentes comprovam isso. Dávamos três palavras aos voluntários e perguntávamos se existia uma quarta que combinasse com as outras três. Por exemplo: “canário”, “página”, e “manteiga”. A resposta é “amarelo”. trata-se de conexões semânticas distantes, verificadas previamente. Mas, às vezes, a tríade de palavras proposta era um agrupamento arbitrário, sem nexo semântico. Havendo coerência, não é raro que os voluntários, embora sem poder apontar uma palavra concreta, estejam certos de que existe um denominador comum. Eles têm, portanto, o sentimento intuitivo, o que com frequência permite que identifiquem essas tríades semanticamente coerentes. Antes do teste colocamos os voluntários num estado de espírito alegre ou triste. Os bem-humorados produziram quantidades significativamente maior de intuições acertadas que os de humor neutro. Tristes não conseguiram fazer nada.

4.Sobre se somos criativos num estado de espírito positivo.
Goschke. Há controvérsias. Ideias criativas têm muito a ver com a capacidade de estabelecer associações incomuns e, desse modo, escapar à trilha habitual do pensamento e da ação.Segundo os resultados que obtivemos, isso parece acontecer com mais frequência quando estamos mais alegres ou relaxados, mas ainda precisamos estudar melhor esse tema.

5.Sobre a diferença entre o hemisfério cerebral direito, intuitivo, e o esquerdo, lógico-racional.

Goschke. É uma ideia fácil e, por isso mesmo, tentadora querer atribuir a velha oposição entre intuição e lógica aos dois hemisférios cerebrais. Mas há aí muito mais especulação pseudocientífica que comprovações empíricas seguras. Existe, de fato, uma certa divisão do trabalho entre ambos. Uma hipótese reza, por exemplo, que porções do lado temporal superior direito efetuam associações mais distantes de significados, ao passo que as regiões ligadas à linguagem do hemisfério esquerdo são mais especializadas em significados escritos. A mesma coisa também foi comprovada em relação à avaliação intuitiva da coerência semântica, o que fazemos com o auxílio da ressonância magnética funcional. Essa região do hemisfério direito costuma ser associada ainda a outras capacidades intuitivas, tais como advinhar as intenções dos outros ou avaliar em que medida um rosto desconhecido parece ou não confiável.. Mas é preciso dizer com todas as letras que, da intuição, com certeza não participa apenas uma região específica do cérebro, e sim toda uma rede amplamente distribuída.

6.Sobre se nesse caso não seria de esperar uma participação de centros processadores de sentimentos.
Goschke. Em princípio sim. Não foi o caso do nosso estudo, mas outras pesquisas indicam que o juízo implícito caminha lado a lado com a atividade de centros mais profundos da emoção, como a amígdala. Reações emocionais inconscientes podem, portanto, estar na base das intuições.

7. Sobre quando devemos confiar na intuição e quando é melhor que se dê preferência à análise lógica dos fatos.
Goschke. Isso, é claro, não é possível para responder assim, de forma generalizada. A intuição se baseia no saber advindo da experiência, tanto faz se adquirido no âmbito de um experimento ou em anos de treinamento. Pense num enxadrista profissional, que numa fração de segundo faz a jogada correta, ou no bombeiro que pressente intuitivamente onde está o foco do incêndio. Em geral, sem o saber específico correspondente, também a intuição falha.

8.Sobre se podemos afirmar que as decisões intuitivas nem sempre são as mais corretas, mas também podem trazer mais bem-estar porque provocam menos arrependimentos.
Goschke. Alguns psicólogos da motivação suspeitam que o nosso bem-estar psíquico depende do grau de coincidência entre as nossas metas conscientes de ter o controle ou de ser melhor que os outros é adquirida cedo na infância e acessível à consciência apenas em parte. Se a postura racional de uma pessoa se distancia muito dessa necessidade,ela com frequência sentirá menos alegria com seus sucessos.

Notas:

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3. Sugestão de leitura complementar (Mensagem 044).

Muita paz e harmonização interior.

(214) Sentindo, em tudo, a influência da nossa subjetividade.

Em todas as jornadas humanas para o “autoconhecimento”, os resultados das nossas buscas interiores são moldados e para nós revelados pela “percepção sensória” da nossa “consciência”. Por analogia, gosto desta explicação do Professor de Física da Universidade de Oregon, Amit Goswami, em entrevista publicada na Edição 71, Ano 16, da Revista SOPHIA, lançada no Brasil pela Editora Teosófica:

– O universo, para existir, necessita que um ser tenha consciência dele. Sem um observador, o universo existe apenas como um potencial abstrato, uma possibilidade, exatamente como sempre afirmou o misticismo oriental.

Nessa entrevista, que foi publicada com o título “As provas da Existência de Deus”, ao ser perguntado sobre “como a consciência cria o mundo material”, Goswami sustenta de modo conclusivo este seu convencimento:

– A consciência é a base de todo o ser. (…) A consciência é transcendente. Você consegue, exatamente aí, perceber a visão que transforma o paradigma – como se pode dizer que a consciência cria o mundo material? O mundo material da física quântica é pura possibilidade. É a consciência, através da conversão da potencialidade em atualidade, que cria o que vemos como manifesto. Em outas palavras, a consciência cria o mundo manifesto.

O que motivou esta mensagem, foi a leitura desta interessante observação do escritor Maurício de Andrade, publicada na Edição 72, Ano 16, da referida Revista SOPHIA:

– Mesmo que as pessoas concordem em pontos de vistas comuns, existe um diferencial que as faz ser, entender e sentir conforme a sua própria maneira de vivenciar a experiência. Somos educados com leis e culturas que nos oferecem noções básicas; porém, muito mais cabe à nossa inteligência desdobrar esses conceitos e traduzi-los em um bom senso comum. O bom conselho não exclui a renovação e ampliação de seu próprio conceito. Podemos acrescentar um pouco do que somos em tudo que existe; assim,continuamente as coisas se tornam novas, embora pareçam, à primeira vista, iguais. O fato de alguém ter escrito um livro não significa que ele esteja certo; devemos ler vários livros sobre o mesmo assunto. E, quem sabe, escrever o nosso próprio livro. Isso não quer dizer termos a nossa própria verdade, mas acrescentar mais ao que já conhecemos, jogando sobre o fato uma nova luz. Por todas as coisas em nossa vida, as referências conhecidas são poucas para definir como absoluto um único conceito da existência.

Agora vamos conciliar a essência do “sentir” de Goswami, com a do “sentir” de Maurício Andrade: O primeiro, afirma que “a consciência cria o mundo manifesto”. O segundo, que as nossas interações existenciais são subjetivamente influenciadas pelas vivências das nossas experiências de vida.

Ora, se para Goswami a consciência é “a base de todo ser”; é “transcendente” e para nós “cria o mundo manifesto”, termino esta mensagem com este meu “sentir” (que para o Budismo representa uma das dimensões do significado de “budh”, no sentido de “tornar-se consciente”):

– TODAS AS PRÁTICAS DE “AUTOCONHECIMENTO” FAVORECEM A CONSCIENTIZAÇÃO DA NOSSA SUBJETIVA SINGULARIDADE “EXISTENCIAL” E “ESPIRITUAL”.

Notas:

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3.Sugestão de leitura complementar (Mensagem 174).

Muita paz e harmonização interior.

(213) Sentindo, nos relacionamentos, a necessidade do seu “autoconhecimento”

Nesta nossa caminhada virtual de “autoconhecimento”, esta é a décima mensagem dedicada aos nossos relacionamentos (mensagens anteriores: 072, 122, 133, 160, 162, 179, 184, 198 e 203). A primeira, sobre a procura da “alma gêmea”, está sendo a mais acessada. Talvez por causa desta história contada pelo doutor Ailton Amélio da Silva, professor de Psicologia da Universidade de São Paulo:

Um amigo pergunta:
– Está namorando?
– Não.
– Porquê?
– Estou procurando a mulher ideal.
Um ano depois, eles se reencontram, e o amigo volta a questionar:
– Está namorando?
– Não.
– Ué, não encontrou a mulher ideal?
– Encontrei, mas ela também estava procurando o cara ideal.

Essa história é fonte de muitos aprendizados. Para esta mensagem, peço a sua atenção para este subjetivo ensinamento do médico indiano Deepak Chopra que se aplica a qualquer tipo de relação interpessoal:

– SEJA QUAL FOR O RELACIONAMENTO QUE VOCÊ ATRAIU PARA DENTRO DE SUA VIDA, NUMA DETERMINADA ÉPOCA, ELE FOI AQUILO DE QUE VOCÊ PRECISAVA NAQUELE MOMENTO.
Com esse seu sentir, Deepak Chopra se refere à possíveis “relacionamentos” que “atraímos” para dentro das nossas vidas. Em princípio concordo em parte, porque entendo que muitos deles nem sempre são antecedidos (“em nós” e “para nó”) por um sensório e consciente “estado interior” de “vontades”, de realizações pessoais de “desejos” de que melhor atendam as nossas “necessidades de completudes existenciais e espirituais”. Em muitos desses casos, outros simplesmente aceitam “para si mesmo” como sendo construções vinculativas de aproximações, de uniões recíprocas de vidas atribuídas ao “acaso” (sugiro a leitura da mensagem 027). Por sua vez, como também acredito, esses “relacionamentos”, sejam de que natureza forem, também são preciosas oportunidades de “interações existenciais” que, subjetivamente, precisamos experienciar para melhor atender as nossas “necessidades interiores de completudes existenciais e espirituais”. Assim, em todas as fases dos nossos “relacionamentos”, precisamos “escutar” as sensórias manifestações perceptivas da nossa subjetiva “singularidade interior”, por meio de um silencioso “voltar-se para si mesmo”, ou com a ajuda das conhecidas práticas de “autoconhecimento”. Também precisamos “sentir” como “somos para nós mesmos”, mas sem querer “impor” o que desejamos que o “outro” seja para nós. “Relacionamento” é “unidade” de respeito recíproco. É necessidade de consolidação permanente de conquistas de integração existencial e espiritual. “Relacionamentos são buscas mútuas de harmonizações interiores de de “Sensibilidade de Almas”, para serem “despertas em nós”, com a “essência superior” dos nossos sentimentos de espiritualidade.

Para provar o porquê os relacionamentos dependem da permanente prática de “autoconhecimento”, termino esta mensagem com esta explicação da atriz Heloísa Périssé sobre a sua peça “E foram quase felizes para sempre”, recentemente apresentada em Brasília:

– A peça, na realidade, fala de diferenças. Como você lida com a diferença do outro, do outro ser humano, não só de relacionamentos, mas sim das diferenças em si, porque o que nós temos de igual é que nós somos completamente diferentes. Quando um casal fica junto – que consegue, porque isso é uma empreitada diária -, o primeiro comentário que você ouve das pessoas é que eles são completamente diferentes. As pessoas são completamente diferentes e completamente iguais também. Na verdade, você tem que saber por onde se ligar na pessoa. A história fala disso, todos nós temos defeitos e qualidades, então é o que você opta por ver. A vida é uma opção.

Acrescento: – Para saber “por onde se ligar na pessoa”, comece “conhecendo a sim mesmo” e, por empatia, sinta as suas diferenças como se você fosse o outro nos seus relacionamentos.

Notas:

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Muita paz e harmonização interior.

(212) Sentindo as nossas necessidades existenciais de espiritualidade.

Todos nós temos a nossa “individualidade espiritual”. Quando manifesta em nós, vivenciamos um estado de harmonização interior e de “completude existencial” em sintonia sensória com tudo que existe no Universo. É o “despertar” de uma subjetiva plenitude de integração. Essa nossa conexão existencial de “espiritualidade”, com essência de origem transcendente, deve ser “sentida” como percepção interior da nossa “consciência transpessoal” (mensagem 174). O que motivou esta mensagem foi a previsão do astrólogo Oscar Quiroga, muito citado nesta nossa caminhada virtual de “autoconhecimento” (mensagens 097, 122, 149, 152, 153, 154 e 196), publicada na edição de hoje, 13 de abril de 2018, da Revista “Divirta-se mais”, do jornal Correio Braziliense, com este título – “Faz o necessário”:

– NÃO FAÇAS O MAL, tampouco faças o bem, apenas faz o que a necessidade promover, pois ela é a mãe do destino. É da necessidade que surgem todas as existências no Universo, tu existes como resultado de uma necessidade e todos os teus atos são promovidos por ela. Se desenvolves suficiente discernimento para distinguir teus caprichos das necessidades, então terás dado um passo definitivo para ampliar tua percepção sobre a relativa posição que ocupas no Universo e, por isso, ganharás o direito de dizer que trilhas um caminho espiritual, mesmo que esse seja desprovido de misticismo, já que nem tudo que é místico é necessariamente espiritual. Suprir as necessidades te torna útil ao Universo, esse é o princípio da espiritualidade, que tu tenhas serventia à Vida de tua vida.

Que bela manifestação sugestiva da necessidade de nesta dimensão de vida, “despertar” em nós a “descoberta sensória” da nossa essência interior de “espiritualidade”!

Logo após a leitura dessa introdução das previsões astrológicas de Quiroga, lembrei das seguintes respostas do físico indiano Amit Goswami, em entrevista também publicada no jornal Correio Braziliense (edição de 18 de março de 2018), noticiando a sua chegada em Brasília, neste mês de abril, para realizar palestras na inauguração do Templo da Centelha Divina, em Alto Paraíso, em Goiás:

1. Sobre qual é a sua visão sobre espiritualidade.
AG. Como cientista, passei por uma grande transformação pessoal quando percebi que todo aquele conhecimento que vem de uma doutrina chamada materialismo-científico não me satisfazia. Eu sentia um vazio imenso e foi nessa crise que tive o grande insight de buscar dados científicos que comprovassem que não somos apenas matéria, que a existência não se trata apenas de interações materiais. Então, com a física quântica, percebi que era possível integrar ciência e espiritualidade e comprovar a existência da consciência que dá base a toda existência, estamos todos interligados por essa consciência e isso já pode ser comprovado cientificamente. É o que e chamo de visão de mundo quântica.

2. Sobre como é possível aplicar os conceitos da física quântica no nosso dia a dia.
AG. A física quântica é a ciência do empoderamento. Ela é ao mesmo tempo, a ciência da manifestação, da felicidade e da realização. Mas, qualquer que seja o nome que eu der, sua mensagem é inconfundível: o mundo é consciente, é autoconsciente e é autoconsciente para nós. E eis o segredo: você faz a diferença em sua vida, você é o criador da sua vida. A visão de mundo quântica e os métodos quânticos que eu ensino nos meus cursos, livros e palestras, apontam na teoria e na prática esse caminho de transformação pessoal e empoderamento.

Certo é que devemos entender a diferença que existe entre “os nossos propósitos de vida” e “o propósito da vida” (da minha, da sua, e, portanto, das nossas “vidas”). Os nossos “propósitos de vida” são elaborados por nós, pelas nossas idealizações em todos os sentidos do nosso “viver”. São, portanto, personalíssimos, só nos pertencem porque são criados “por nós” e “para nós”. Ao contrário, sob uma perspectiva de melhorias, crescimentos e evolução, “o propósito da vida” é o mesmo para todos nós porque é revelador do significado comum das nossas necessidades existenciais de elevação de transcendência espiritual.

Notas:

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Muita paz e harmonização interior.

(211) Sentindo na Páscoa, o “renascer” de um olhar para a nossa “essência espiritual”.

Estão fazendo falta as crônicas do educador e psicanalista Rubem Alves. A sua escrita simples e humanista sempre me encantou pelo seu contagiante modo de “sentir a vida”. Nunca me contentava apenas com uma leitura. Em mim, todas foram fontes de subjetivas descobertas e de novos aprendizados sobre a “sabedoria de viver”. Todas, com manifesta essência de sentimentos de espiritualidade interior. Não esqueço a que recebeu este título “Dois olhos, dois mundos”, assim resumida logo no início: “Todos os seres humanos possuem duas perspectivas: uma é a de ver o que é real e a outra, do que não existe. É nessa segunda visão que moram a beleza dos poemas e os mistérios da religião e da paixão.

Em seguida, Rubem Alves citou este “sentir” do místico Ângelus Silésius:

– TEMOS DOIS OLHOS. COM UM NÓS VEMOS AS COISAS DO TEMPO, EFÊMERAS, QUE DESAPARECEM. COM O OUTRO NÓS VEMOS AS COISAS DA ALMA, ETERNAS, QUE PERMANECEM.

Ele explica:

– Cientista, ele fala o que vê com o primeiro olho. Apaixonado, ele fala o que vê com o segundo olho. Cada olho vê certo no mundo a que pertence. (…) A ciência também é um jogo de palavras. É o jogo da verdade, falar o mundo como ele é. Acontece que nós, seres humanos, sofremos de uma “anomalia”: não conseguimos viver no mundo da verdade, do mundo como ele é. O mundo como ele é, é muito pequeno para o nosso amor. Temos nostalgia de beleza, de alegria e, – quem sabe? – de eternidade. Desejamos que as alegrias não tenham fim! Mas beleza e alegria, onde se encontram essas ¨coisas¨? Elas não estão soltas no mundo, ao lado das coisas do mundo tal como ele é. Elas não são, existem não existindo, como sonhos e só podem ser vistas com o “segundo olho”. Quem as vê são os artistas. E se alguém, no uso do primeiro olho, objeta que elas não existem, os artistas retrucam: ” Não importa. As coisas que não existem são mais bonitas” (Manoel de Barros). Pois os sonhos, no final das contas, são a substância de que somos feitos. É no mundo encantado de sonhos que nascem as fantasias religiosas. As religiões são sonhos da alma humana que só podem ser vistos com o segundo olho. São poemas. E não se podem perguntar a um poema se ele aconteceu mesmo… Jesus se movia em meio às coisas que não existiam e as transformava em parábolas, que são histórias que nunca aconteceram. E não obstante a sua não existência, as parábolas têm o poder de nos fazer ver o que nunca havíamos visto antes. O que não é, o que nunca existiu, o que é sonho e poesia, tem poder para mudar o mundo. (…)

Termina, com este seu “sentir”:

– Não haveria conflitos se o primeiro olho visse bem as coisas do seu lugar, e o segundo olho visse bem as coisas do seu lugar. Conhecimento e poesia, assim, de mãos dadas, poderiam ajudar a transformar o mundo.

Nessa Páscoa, desejo para você um “renascer interior” das imagens sensórias da sua “individualidade espiritual”, com a essência do amor de Jesus no seu coração.

Notas:

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3. Vídeo youtube (“Páscoa: Jesus Ressuscitou”).

Muita paz e harmonização interior.

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