(448) Sentindo com o passar do tempo, a chegada da velhice.

Uma bela velhice é, comumente, recompensa de uma bela vida.

São palavras do filósofo e matemático grego Pitágoras (c.570-495 a.C). Que síntese preciosa de valoração do nosso existir, condicionando o reconhecimento de “uma bela velhice” como sendo recompensa de “uma bela vida”. Confesso nunca ter pensado assim, pois sempre detive minha atenção para este meu subjetivo reconhecimento:

– Para cada um de nós parece existirem ciclos do nosso viver concentrando espécies de oportunidades, de possibilidades de descobertas e de acontecimentos, desejados ou não por nós, que condicionados à nossa liberdade de escolhas determinarão o que fomos nesta dimensão de vida.

O que motivou este nosso encontro foi a excelente abordagem da doutora em Filosofia pela PUC de São Paulo, Monica Aiub, com o título “A velhice e o tempo”, divulgada na sua coluna PENSEI, Edição 177 da Revista humanitas, da Editora Escala. Esta é a sua segunda participação em nossa caminhada para o “autoconhecimento”. Dela destaco estes enfoques para os quais peço a sua atenção (numerei):

1. Nós nos sentimos envelhecidos ao notarmos que o mundo em que nascemos e crescemos não existe mais como era; as relações não se dão da maneira como apendemos; o trabalho que sabíamos fazer não tem mais utilidade; não temos o mesmo corpo e a mesma memória. 2. As questões sobre o envelhecimento surgem independentemente da idade cronológica da pessoa. Há jovens que aos vinte e poucos anos já se consideram idosos ou se preocupam com a velhice; enquanto outros jovens, maiores de 70, vivenciam sua quase plena juventude. 3. Não é possível traçar, somente através da idade cronológica de uma pessoa, seus limites, possibilidades ou necessidades; é preciso conhecer as reais condições existenciais dela, ainda assim, a margem de erro é grande. 4. Em “Sua velha”, citei Simone Beauvoir, no livro A velhice, tratando da dimensão existencial das situações humanas. No caso da velhice, uma modificação da relação com o tempo, que implica mudanças nas relações com o mundo e com a própria história. Por outro lado, aponta ela, não se tratar de um estado natural, mas de um “estatuto” construído e imposto socialmente. Não nos vemos como “velhos”, somos vistos e nomeados por outros a partir de padrões sociais vigentes. Paradoxalmente, o modo como nos relacionamos existencialmente como tempo – e que interfere na forma como nos relacionamos conosco, com o mundo e com os outros – não é referencial do “ser velho”. 5. A velhice nos faz perceber a proximidade do fim, da morte. Se, de um lado, a ideia de terminalidade nos assalta e angustia, de outro, nos faz pensar como queremos viver o tempo que nos resta.

Monica, conclui:

Se a velhice é, como afirmou Beauvoir, uma modificação de nossa relação com o tempo, se como seres vivos somos dotados de plasticidade e capazes de nos reinventar, por que não transformamos nossos modos de viver a partir da relação com o tempo que temos hoje?

Termino este nosso encontro com esta explicação da minha filha, Jamille Mamed Bomfim Cocentino, na introdução do seu livro “O Amor nos Tempos da Velhice – perdas e envelhecimento na obra de Gabriel Garcia Márquez”, publicação da Editora Casa do Psicólogo, fruto de pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília:

– Neste estudo, partimos do princípio de que pensar os aspectos subjetivos relacionados à velhice e suas perdas constitui um imperativo para os profissionais da saúde mental na contemporaneidade. É uma oportunidade ímpar de oferecer uma parcela de contribuição para a expansão do conhecimento sobre uma temática que nos parece insuficientemente tratada e estudada na literatura psicológica do Brasil. A literatura é, sem dúvida, uma importante possibilidade e instrumento para auxiliar a compreensão de processos subjetivos que perpassam a velhice e suas perdas. A literatura pode fornecer uma contribuição valorosa aos estudos da psicologia que buscam um entendimento melhor e mais profundo do processo de envelhecimento em nossa cultura e dos processos subjetivos associados às perdas na velhice.

Pensem nisso.

Notas:
1. A reprodução parcial ou total de qualquer parte desta mensagem, dependem de prévia autorização (Lei nº 9.610/98).
2. Havendo nesta mensagem qualquer alegação ou citação que mereça ser melhor avaliada ou que seja contrária aos interesses dos seus autores, mande sua solicitação para edsonbsb@uol.com.br

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!
Copy Protected by Chetan's WP-Copyprotect.