“A visita de Pee Ra Lyan”
Ainda não sentira
O gosto bom da liberdade
Quando, numa noite despertei,
Pensando ouvir o vento
Os galhos do coqueiro a balançar
Num gesto silencioso e lento,
Abri a porta da varanda
De par em par.
O ar estava parado,
E o jardim iluminado
Por enorme lua cheia, cristalina
Vi então que era uma branca garça,
Que voava com a graça
De uma bailarina.
Calma, pousou na ponta do pé, encerrando o balé
No meio de um canteiro.
Foi em janeiro
O silêncio nos envolvia,
Parecia que o mundo inteiro dormia,
Menos nós três.
A lua
A garça
E eu
Lentamente
Elegantemente
Caminhou em minha direção e, sob o balcão,
Parou
E me olhou.
Percebi como éramos parecidas.
As duas, de branco vestidas,
As duas só, em casa, à vontade.
Como ela, eu agora, em liberdade.
Não foi longa a visita.
Uma brisa da lagoa soprou,
Trazendo um cheiro de maresia.
Ela esticou
O longo pescoço
E pareceu-me sorrir de alegria.
Abrindo as asas devagar,
Deu-me um último olhar
E… foi-se embora a voar.
Parecia um anjo…
“Pee Ra Lyan” é garça em chinês. Essa poesia de Tina Novelli, mostra-nos um encontro de inteirações de “realidades”. A da garça, contemplada desde o seu voo. A de Tina, quando encantada com o esplendor da garça, manifesta a intensidade do seu envolvimento com o que chamou de “o gosto bom da liberdade”. Que leveza de inspiração poética!
Em nossas relações interpessoais também vivenciamos experiências fortalecidas com sintonia interior de afinidades e percepções de aparentes identidades existenciais. Mas somos nós que criamos as nossas “realidades”, que são únicas, só nos pertencem, possuindo similaridades geradoras da nossa própria interpretação. São essas nossas “realidades”, que nos fazem “sentir” ser como somos e, para os outros, o que parecemos ser. Em muitos encontros de “realidades”, subjetivas e aparentes identidades existenciais nos possibilitam “sentir” e “ver” no outro, o que parece estar sendo refletido de nós.
Agora, vejam esta explicação do astrólogo Oscar Quiroga, no seu horóscopo do dia 23/02/2023, publicado no jornal Correio Braziliense:
– Recebemos as impressões objetivas e subjetivas da realidade, as expressamos dentro do alcance de nossa compreensão e instrumentos disponíveis, e esse movimento, por sua vez, impressiona outras pessoas e os outros reinos da natureza, e assim continua, sem interrupção, a circulação de vida através de tudo e de todos, requerendo alimento de todos os tipos e dimensões, porque a vida se alimenta de vida produzindo variações dentro de um espectro infinito de possibilidades.
Acreditando [repito] que podemos criar as nossas realidades, termino o nosso encontro com este “sentir” de Clarice Lispector, em “Realidade Tansfigurada”:
– A DURAÇÃO DE MINHA EXISTÊNCIA DOU UMA SIGNIFICAÇÃO OCULTA QUE ME ULTRAPASSA. SOU UM SER CONCOMITANTE: REÚNO EM MIM O TEMPO PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO, O TEMPO QUE LATEJA NO TIQUE-TAQUE DOS RELÓGIOS. (…) TRANSFIGURO A REALIDADE E ENTÃO OUTRA REALIDADE, SONHADORA E SONÂMBULA, ME CRIA.
Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.