“O [NOSSO] TEMPO É AGORA PURA LEITURA DE SINAIS E ELABORAÇÃO COGNITIVA ABSTRATA. (…) PORÉM, QUANDO A MEDIDA DE TEMPO TORNA-SE PURA LEITURA DE NÚMEROS, SEQUENCIA ININTERRUPTA MAS DESCONTINUA DE SINAIS, VIBRAÇÃO ELETRÔNICA DE REGULARIDADES IMUTÁVEIS, ENTÃO O PONTO ASSUME O PREDOMÍNIO, MODIFICANDO PROFUNDAMENTE NOSSA EXPERIÊNCIA DE DURAÇÃO, DA CONTINUIDADE, DA RELAÇÃO ENTRE O ANTES E O DEPOIS.
São palavras do sociólogo e psicólogo italiano Alberto Melucci (1943-2001), reproduzidas do seu livro “O Jogo do EU: a Mudança de si em uma Sociedade Global”, traduzido e publicado no Brasil pela Editora Unisinos, de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
Como ainda não consegui adquirir um exemplar, dele tomei conhecimento através do artigo “A medida do EU”, da jornalista Cristina Tavelin, sobre o desafio de se equilibrar, em uma sociedade contemporânea, o “tempo social” com as nuances do “tempo subjetivo”. A maior parte da sua análise está fundamentada no entendimento de Melucci sobre a difícil tentativa de responder “QUEM SOU EU ?” e “COMO ME TORNO QUEM SOU ?”, com ênfase para a identidade do indivíduo nas suas relações “consigo mesmo”, com o “outro”, com o “tempo”, e com as “mudanças aceleradas” nas nossas ambientações sociais.
Melucci foi um estudioso da experiência sensorial da passagem do “tempo” em nossas vidas. No seu artigo “Juventude e Contemporaneidade”, ele explica a percepção do “tempo” nas sociedades:
– Existe particularmente uma clara separação entre tempos interiores (tempos que cada indivíduo vive sua experiência interna, afeições, emoções) e tempos exteriores marcados por ritmos diferentes e regulado pelas múltiplas esferas de pertencimento de cada indivíduo. A presença dessas diferentes experiências temporais não é novidade, mas certamente em uma sociedade rural ou mesmo na sociedade industrial do século XIX, existiu certa integração, certa proximidade entre experiências subjetivas e tempos sociais, entre vários níveis dos tempos sociais. Em sistemas mais altamente diferenciados, a descontinuidade tornou-se experiência comum. Tais mudanças refletem tendências amplas no sentido de uma extensão artificial das dimensões subjetivas do tempo por meio de estímulos particulares ou de situações construídas.
No artigo “Juventude, tempo e movimentos sociais”, publicado em 1997 na edição n. 5 da Revista Brasileira de Educação com tradução de Angelina Teixeira Peralva, Melucci esclarece:
– A MANEIRA COMO A EXPERIÊNCIA DO TEMPO É VIVENCIADA VAI DEPENDER DE FATORES COGNITIVOS, EMOCIONAIS E MOTIVACIONAIS OS QUAIS GOVERNAM O MODO COMO O INDIVÍDUO ORGANIZA O SEU “ESTAR NA TERRA”.
Cabe registrar que os entendimentos de Melucci e Cristina, mencionados no início desta mensagem, pertencem a épocas de um passado que não conheceu nenhuma pandemia como a atual da Covid-19.
Esta mensagem foi motivada pela minha preocupação com a “construção subjetiva” de como, cada um de nós, está sentindo o seu “tempo”, a si próprio (self as known) e a sua adaptação às realidades desta pandemia. Começo lembrando este entendimento da psicóloga e psicoterapeuta Andreia Calçada, formada pela UERJ (mensagem 287):
– A FORMA COMO UM INDIVÍDUO PENSA SOBRE SI MESMO E O MUNDO QUE O CERCA DETERMINA O QUE SENTE E A FORMA COMO REAGE.
Nesta pandemia em que todos nós estamos experimentando realidades em um mundo de incertezas globalizadas e conhecendo o triste e crescente número de perdas de vidas, precisamos reinventar novos olhares interiores para “nós mesmos” e, assim, enriquecer o verdadeiro sentido da nossa existência.
Inspirado nas perguntas de Melucci que foram destacadas no início desta mensagem, responda, silenciosamente, para você:
– QUEM EU ESTOU ME SENTINDO SER” E COMO ESTOU ME TORNANDO SER, PARA CONSOLIDAR A PLENITUDE DE POSSIBILIDADES DA MINHA MISSÃO DE SER HUMANO ?
Há muito o meu caminho já foi escolhido e iniciado: vivo intensamente o “TEMPO SUBJETIVO” das minhas percepções interiores (sejam elas “intuitivas” ou de outras origens “inconscientes”). Refiro-me ao “TEMPO” das minhas “EMOÇÕES” e “SENTIMENTOS”. Ao “TEMPO ESPIRITUAL” da minha “ESSÊNCIA DE SER HUMANO”, nesta dimensão de vida. Ao “TEMPO DO MEU EXISTIR”, determinante e indicador do sentido da fluidez do meu “viver”. Assim tem sido a “SINFONIA DIVINA” que da minha caminhada e principalmente nesta pandemia. É a minha “CANÇÃO DA VIDA”, que aprendi escutar com este ensinamento do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo:
– PRECISAMOS APRENDER A NÃO VALORIZAR, APENAS, AS NOTAS EMITIDAS DURANTE A EXECUÇÃO DA MÚSICA DA VIDA, MAS, TAMBÉM, O SILÊNCIO ENTRE ELAS, POIS A MELODIA RESULTANTE DESSA FORMA DE RELAÇÃO É QUE TORNA POSSÍVEL O VERDADEIRO SENTIDO DA EXISTÊNCIA.
Assim respondo a pergunta que foi feita para você:
“ESTOU ME SENTINDO SER” TUDO QUE SOU, “PARA ME TORNAR A SER” MAIS HUMANISTA E SOLIDÁRIO QUE TODOS DIZEM QUE JÁ SOU.
Notas:
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2.Os artigos “A medida do EU”, da jornalista Cristina Tavelin e “Juventude e Contemporaneidade”, do sociólogo e psicólogo Alberto Melucci, foram respectivamente publicados na edição n. 118, Ano IX, da Revista PSIQUE, da Editora Escala, e da “Coleção Educação para Todos”, vol 16, Edições MEC/UNESCO.
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Muita paz e harmonia espiritual.