(258) Sentindo como a leitura pode ajudar nas suas buscas de “autoconhecimento”.

“A LEITURA DE UM BOM LIVRO É UM DIÁLOGO INCESSANTE: O LIVRO FALA E A ALMA RESPONDE”
São palavras do romancista e ensaísta francês André Maurois (1885-1967). Foram escolhidas para iniciar esta mensagem sobre a possibilidade de se encontrar na leitura, uma proveitosa fonte de “autoconhecimento”. Aliás, esse foi um dos desejos que me levou a enriquecer esta nossa caminhada, dedicando-a, merecidamente, à escritora Lya Luft que, com a sensibilidade da sua alma, com o seu jeito humanista de escrever, mostra, com leveza de estilo literário, matizes significativas do nosso viver, com o mesmo encanto da beleza e da suavidade dos voos das gaivotas, pelos céus da nossa existência (mensagem 001).

Através da “escrita” e da “leitura”, perpetuamos revelações de realidades do nosso mundo interior e exterior, muitas delas moldadas pelo nosso imaginário. A escrita é resultado de motivações sensórias e emocionais, de acordo com as significativas circunstâncias do nosso “sentir” e do nosso “viver”. É prova de que o efêmero não existe dentro de nós, porque as revelações e experiências do “agora” permanecem na memória do nosso inconsciente (mensagem 020). Por sua vez, a escrita da “sensibilidade da alma” transmite a essência das palavras que não estão nos dicionários, mas no coração. Ela surge de dimensões da nossa “subjetividade”, do nosso “sentir”, dos nossos estados de alma (mensagem 017).

Sobre a magia da “leitura”, gosto deste “sentir” de Paulo Freire:

– É PRECISO QUE A LEITURA SEJA UM ATO DE AMOR.

Para ajudar entender como a “leitura” pode atuar nas nossas buscas individuais de “autoconhecimento”, encontrei esta explicação da Psicóloga Claudia Maria França Pádua sobre os arquétipos de Jung, no seu consistente artigo “As profundezas do indivíduo”, publicado na edição 151 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:

– A forma com que agimos é determinada pela percepção singular que temos do mundo, ou seja, como o nosso cérebro estrutura o mundo ao seu redor e o delimita. Algumas aptidões são inatas.

Ora, se é assim que elaboramos a percepção do mundo, entendo que as nossas “leituras” também são fontes preciosas de “autoconhecimento”. Nesse sentido, esclarece o médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise sobre o conhecido livro “Como Curar um Fanático”, do premiado escritor israelense Amós Oz, falecido em dezembro de 2018:

– A leitura de uma obra literária pode nos levar a mergulhar nas águas profundas de onde emergem nossas emoções e processos imaginativos que geram um melhor conhecimento da natureza humana. Essa ação nos ajuda a estruturar o pensamento lógico para, em lugar das certezas, construirmos ideias que possam ser alteradas à medida que evoluímos. (…) O fanático é aquela figura singular que vive sem saber nada de si mesmo, longe da empatia e da imaginação, ingredientes citados por Amós como necessários para resolver conflitos quando queremos ser humanos.

Em seguida, complementa:

– A boa obra literária cria mais perguntas e deixa que os vazios sejam preenchidos pela singularidade de cada leitor. (…) É por meio dessas obras que compreendemos as matizes ou os arquétipos que nos levam a viver as emoções de um processo imaginativo, empático, que naturalmente se instaura em nós como efeito terapêutico da leitura de uma boa obra literária, como os clássicos.

Conclui o Doutor Carlos São Paulo:

– A psicodinâmica de um cliente nos faz entender o que se passa em seu universo interior, mas só com a linguagem das metáforas poderemos provocar-lhe a emoção do insight. A solução de Amós Oz para o homem sair dessa condição de fanático está em fazê-lo imergir nas suas profundezas por meio da literatura que carrega as metáforas poéticas, ou seja, utilizar-se da natureza da psique mostrada na forma como o inconsciente se expressa.

Notas:

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2.A citação de parte da análise do Doutor Carlos São Paulo foram reproduzidas da sua coluna “divã literário”, publicada na edição 157 da Revista PSIQUE, da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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