(218) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte III).

Dando continuidade à série de mensagens sobre “autismo”, merecem atenção as seguintes informações selecionadas da entrevista concedida pelo doutor Eugênio Cunha ao jornalista Lucas Vasques, publicada na Edição 145 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:

1.Sobre a dificuldade dos profissionais da saúde, para diagnosticar o “autismo”.
Eugênio Cunha. O diagnóstico do autismo é com base no comportamento. Por essa razão ainda existem muitas dificuldades para o profissional avaliar, principalmente nos casos mais leves. O transtorno compreende um conjunto de comportamentos agrupados numa tríade principal: comprometimentos na comunicação, dificuldades na interação social e atividades restritivas e repetitivas. Mas os sintomas variam de indivíduo para indivíduo, dificultando em muitos casos o diagnóstico.

2.Sobre o que está na origem de uma personalidade autista. O gatilho é algo que ocorre no cérebro?
Eugênio Cunha. O gatilho é uma síndrome proveniente de causas ainda desconhecidas, mas com grande contribuição de fatores genéticos. trata-se de um transtorno complexo com sintomas e quadros comportamentais distintos. Atualmente, estudos da neurociência têm relacionado o número cada vez mais de casos de autismo e de outros transtornos a fatores ambientais. As pesquisas mostram um grande número de crianças afetadas por danos tóxicos no desenvolvimento do cérebro. Há redução na capacidade de atenção, atraso no desenvolvimento e mau desempenho escolar. Produtos químicos industriais somados à predisposição genética estão agora emergindo como causas mais prováveis.

3. Sobre o que é necessário ainda estudar para compreender melhor esse tipo de condição e os problemas consequentes.
Eugênio Cunha. Penso que são as contribuições dos fatores ambientais na incrementação dos sintomas do autismo. A coisa é séria. Nossa saúde é cada vez mais prejudicada por alimentos contaminados por pesticidas, alimentos industrializados contendo muito açúcar, conservantes, corantes e sódio. Isso tem provocado intoxicações severas, principalmente em autistas. O texto da Lei n. 12.764/12, Lei do Autismo, também conhecida como Lei Berenice Piana, estabelece em seu artigo terceiro que a pessoa com TEA tem direito a nutrição adequada e a terapia nutricional. Se não fosse algo tão importante, não estaria na lei.

4.Sobre os principais sintomas do autismo.
Eugênio Cunha. Os sintomas são: dificuldade para compreender símbolos da linguagem e códigos sociais; dificuldade de interagir com as pessoas; estereotipias e, em alguns casos, deficiência intelectual. Há alguns sinais que podem ser percebidos desde cedo: isolamento social, ausência de contato visual, resistência a mudanças de rotina, manuseio não apropriado de objetos, transtorno de processamento sensorial e movimentos circulares no corpo.

5.Sobre em qual idade esses sintomas aparecem com mais frequência.
Eugênio Cunha. É mais comum identificarmos o autismo por volta dos três anos de idade, principalmente quando a criança está na escola e qualquer diferença de comportamento ou dificuldade de socialização é mais bem percebida. Mas é comum identificar sinais de autismo precocemente, quando, por exemplo, o bebê não faz contato com os olhos, não sorrir, chora muito, não balbucia palavras e não aponta.

6. Sobre a dúvida dos pais a respeito de como educar a criança autista.
Eugênio Cunha. Sim, mas isso é natural. O autismo, como falamos anteriormente, está envolvido ainda pelo desconhecido. Além disso, o diagnóstico nem sempre é fácil, o que aumenta a insegurança dos pais. Somam-se a esses fatores a dificuldade de encontrar tratamento adequado, com qualidade, profissionais preparados e escolas inclusivas.

7.Sobre os tratamentos adequados para a criança, o adolescente e o adulto autista.
Eugênio Cunha. Não há receitas. O que será preciso fazer dependerá da pessoa. Normalmente, habilidades de socialização e a linguagem deverão ser estimuladas. Os materiais da escola deverão ser adaptados. Além disso, deverão ser observadas questões ligadas ao processamento sensorial, alergias em razão da alimentação inadequada, as quais alteram profundamente o comportamento,além de aspectos relacionados a possíveis inoxicações por conta da exposição a metais pesados.

8.Sobre se a sociedade moderna está mais preparada para lidar com pessoas autistas, sem o estigma que o transtorno provoca.
Eugênio Cunha. Sem dúvida houve grandes progressos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Há muitos casos de preconceito e discriminação em distintos espaços sociais, como a escola e o trabalho, inclusive com o uso pejorativo do autismo.

9.Sobre os avanços dos estudos científicos sobre o transtorno.
Eugênio Cunha. Há estudos bem promissores que procuram entender a genética do autismo e estudos advindos da neurociência que buscam conhecer melhor o cérebro humano. Há também uma grande contribuição das tecnologias digitais na educação, como suporte ao ensino e à aprendizagem. Atualmente, não se pode pensar em aprendizagem sem atentar para as novas articulações cognitivas que surgiram em razão das instrumentações digitais. Elas têm contribuído com novos conceitos epistemológicos relacionados à educação.

Complemento esta bela e esclarecedora entrevista, com estas explicações do doutor Caio Abujadi, médico psiquiatra infantil, especialista em autismo:

Notas:

1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
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3. O Dr. Eugênio Cunha é autor dos seguintes livros sobre autismo; “Autismo e inclusão” e “Autismo na Escola”, publicados no Brasil pela Wak Editora. E-mail para contato: eugenio@eugeniocunha.com / Dr. Caio Abujadi, fone (11) 32571697 ou contato@clinicamarcolin, em São Paulo.
4.Vídeo do youtube (“Programa Especial – Caio Abujadi”).

Muita paz e harmonização interior.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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