(211) Sentindo na Páscoa, o “renascer” de um olhar para a nossa “essência espiritual”.

Estão fazendo falta as crônicas do educador e psicanalista Rubem Alves. A sua escrita simples e humanista sempre me encantou pelo seu contagiante modo de “sentir a vida”. Nunca me contentava apenas com uma leitura. Em mim, todas foram fontes de subjetivas descobertas e de novos aprendizados sobre a “sabedoria de viver”. Todas, com manifesta essência de sentimentos de espiritualidade interior. Não esqueço a que recebeu este título “Dois olhos, dois mundos”, assim resumida logo no início: “Todos os seres humanos possuem duas perspectivas: uma é a de ver o que é real e a outra, do que não existe. É nessa segunda visão que moram a beleza dos poemas e os mistérios da religião e da paixão.

Em seguida, Rubem Alves citou este “sentir” do místico Ângelus Silésius:

– TEMOS DOIS OLHOS. COM UM NÓS VEMOS AS COISAS DO TEMPO, EFÊMERAS, QUE DESAPARECEM. COM O OUTRO NÓS VEMOS AS COISAS DA ALMA, ETERNAS, QUE PERMANECEM.

Ele explica:

– Cientista, ele fala o que vê com o primeiro olho. Apaixonado, ele fala o que vê com o segundo olho. Cada olho vê certo no mundo a que pertence. (…) A ciência também é um jogo de palavras. É o jogo da verdade, falar o mundo como ele é. Acontece que nós, seres humanos, sofremos de uma “anomalia”: não conseguimos viver no mundo da verdade, do mundo como ele é. O mundo como ele é, é muito pequeno para o nosso amor. Temos nostalgia de beleza, de alegria e, – quem sabe? – de eternidade. Desejamos que as alegrias não tenham fim! Mas beleza e alegria, onde se encontram essas ¨coisas¨? Elas não estão soltas no mundo, ao lado das coisas do mundo tal como ele é. Elas não são, existem não existindo, como sonhos e só podem ser vistas com o “segundo olho”. Quem as vê são os artistas. E se alguém, no uso do primeiro olho, objeta que elas não existem, os artistas retrucam: ” Não importa. As coisas que não existem são mais bonitas” (Manoel de Barros). Pois os sonhos, no final das contas, são a substância de que somos feitos. É no mundo encantado de sonhos que nascem as fantasias religiosas. As religiões são sonhos da alma humana que só podem ser vistos com o segundo olho. São poemas. E não se podem perguntar a um poema se ele aconteceu mesmo… Jesus se movia em meio às coisas que não existiam e as transformava em parábolas, que são histórias que nunca aconteceram. E não obstante a sua não existência, as parábolas têm o poder de nos fazer ver o que nunca havíamos visto antes. O que não é, o que nunca existiu, o que é sonho e poesia, tem poder para mudar o mundo. (…)

Termina, com este seu “sentir”:

– Não haveria conflitos se o primeiro olho visse bem as coisas do seu lugar, e o segundo olho visse bem as coisas do seu lugar. Conhecimento e poesia, assim, de mãos dadas, poderiam ajudar a transformar o mundo.

Nessa Páscoa, desejo para você um “renascer interior” das imagens sensórias da sua “individualidade espiritual”, com a essência do amor de Jesus no seu coração.

Notas:

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3. Vídeo youtube (“Páscoa: Jesus Ressuscitou”).

Muita paz e harmonização interior.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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