(239) Sentindo a essência interior da nossa “religiosidade”.

“O DIVINO ESCREVE MISTÉRIOS ESPIRITUAIS EM SEU CORAÇÃO, ONDE ELES ESPERAM SILENCIOSAMENTE POR SEREM DESPERTOS”
Escolhi essa inspiração do poeta místico Rumi (1207-1273) para iniciar esta mensagem sobre o surgimento do nosso sentimento de religiosidade. Ela foi motivada pela notícia publicada hoje no portal do jornal Correio Braziliense, na seção Ciência e Saúde, sendo postada por Vilhena Soares. Refere-se ao estudo de pesquisadores da Universidade Coventry, no Reino Unido, com a finalidade de desvendar o que impulsiona a religiosidade humana: se é a intuição ou a razão. Dela destaco o seguinte: 1. Foram feitos questionários, testes e exames de imagens do cérebro com peregrinos que fizeram o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. 2. Segundo o professor Correio Miguel Farias, autor principal da pesquisa, “os dados sociológicos e históricos disponíveis mostram que nossas crenças são principalmente baseadas em fatores sociais e educacionais e não em estilos cognitivos, como o pensamento intuitivo ou analítico. Nós não achamos que as pessoas são ‘crentes nascidas’. (…) A crença religiosa, provavelmente, é arraigada na cultura e não em alguma intuição primitiva.”

Entendendo que além da “educação” existem outros influenciadores das crenças religiosas, comenta a doutora Nicole Bacellar Zaneti, doutora em psicologia da religião e professora substituta do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB):

– Esses pesquisadores destacam que não tem como provar que pessoas religiosas sejam mais intuitivas que racionais, e atestam isso por meio desses experimentos. Concordo que essas crenças possuem, como forte influência, um contexto sociocultural da própria pessoa. Acredito que temos de considerar ainda outros fatores, como a dimensão familiar, por exemplo, que é o primeiro ambiente social que experimentamos.

Complementando, ela sustenta que o tema da religiosidade precisa ser mais estudado, porque pode ajudar consideravelmente na área médica. Esclarece:

– Temos muita dificuldade em lidar com a espiritualidade do paciente. Na formação de psicólogo, esse tema não é tão explorado. Apesar de muito silenciada, a religiosidade é algo que interfere no comportamento do indivíduo, inclusive em sua sexualidade. (…) Muitas vezes pensamos que uma pessoa precisa frequentar uma instituição para ser religiosa, mas o que ela faz e pensa sobre o sentido da vida é uma religiosidade, não é necessário estar em uma instituição religiosa.

Por sua vez, assim se posiciona a psicóloga Miryelle Pedrosa, do Instituto de Câncer de Brasília (ICB):

– A investigação mostra a importância da cultura, e a responsabilidade que ela tem de constituir cada sujeito. E falamos da cultura como um todo, seja em casa, na escola, nas leis que seguimos.

De acordo com a doutora Miryelle, o mundo está em transformação. “Hoje, temos o universo virtual, com maior acesso a informações do que antes, com dados sobre culturas e filosofias diferentes de nós. Essa mudança [na sociedade] vai interferir na maneira como construímos nossas crenças ou na não construção delas.”

Nesta jornada para o “autoconhecimento”, já dediquei as seguintes mensagens sobre a essência espiritual do nosso despertar interior de “religiosidade” (115, 126, 134, 142, 174, 202 e 212).

Pessoalmente, considero expressiva em “significado interior” esta afirmação conjunta do psicólogo clínico Julio Peres e do psiquiatra Alexandre Moreira Almeida, que encontrei na abordagem “Espiritualidade Restauradora”, sobre o impacto da fé em vítimas de traumas psicológicos, publicada na edição 24, Ano II, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:

– A religiosidade e a espiritualidade estão fortemente enraizadas numa busca pessoal para compreender a vida, seu significado e suas relações com o sagrado ou transcendente. Assim, as crenças e práticas espirituais e/ou religiosas podem contemplar essa necessidade de buscar um sentido mais amplo para a vida e influenciar a maneira como as pessoas interpretam e lidam com acontecimentos traumáticos.

Agora, prestem atenção a esta conclusão desses profissionais da área de saúde:

– É NO MÍNIMO CURIOSO COMO A SUBJETIVIDADE E AS RESPECTIVAS REPRESENTAÇÕES INTERNAS ARTICULAM PERCEPÇÕES, MEMÓRIAS E SISTEMAS DE CRENÇAS CAPAZES DE GERAR RESPOSTAS OBJETIVAS AO LONGO DA VIDA.

Esse é o meu “sentir” sobre o despertar interior da nossa “consciência transpessoal” de “religiosidade”, independente das nossas conhecidas vinculações de vivências externas favoráveis.

Certo é que já existe o “olhar das neurociências” para a “percepção sensória” da “essência interior” da “religiosidade humana”. Como exemplo cito as pesquisas do neurocientista Mario Beauregard, professor da Universidade de Montreal que se dedica à descoberta das bases neurais dos nossos sentimentos de religiosidade. Também merece referência o Físico Quântico Amit Goswami, incansável defensor da conciliação entre a ciência e a espiritualidade.
Gosto destas suas afirmações, contidas na entrevista concedida à Revista PSIQUE, publicada na edição 60, Ano V, de dezembro de 2010:

1. Nossas experiências intuitivas são tão sutis que apenas temos tempo para fazer representação mental delas quando somos conscientes delas.

2. Acredito que cedo ou tarde alguém descobriria a base espiritual da Ciência. As coisas estão mudando, o Oriente está ficando mais materialista e o Ocidente mais espiritual. O Oriente sempre acreditou em intuição. Espiritualidade aparece através da intuição, e sempre acreditamos [os orientais] na intuição, porque experiências intuitivas dão crédito aos experimentos. Nunca tivemos problemas com a espiritualidade. O Ocidente, por outro lado, sempre foi cético em relação a esse tipo de experiência. O que satisfaz a mente ocidental é a possibilidade de provar uma teoria por meio de um experimento. O Ocidente foi cético sobre espiritualidade até agora porque ela não pode ser certificada por meio de testes. Mas agora as teorias sobre Deus e espiritualidade são verificáveis e podem ser desenvolvidas tecnologias a partir dessa base.

Termino, com este “pensar” do poeta Rumi que favorece o despertar interior da essência da sua “religiosidade”:

– TUDO NO UNIVERSO ESTÁ DENTRO DE VOCÊ. PERGUNTE TUDO DE SI MESMO.

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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