(307) Sentindo a necessidade de “repensar” o significado existencial, de todos nós seres humanos.

Começo escrevendo esta mensagem do nosso “Mundo do Faz de Conta”, mas com muita dificuldade para lhe transmitir tudo que estou sentindo. É triste, muito triste. Um inaceitável, que poderia ter sido evitado:

UM SER HUMANO FOI ESPANCADO E POR ASFIXIA LEVADO À MORTE, NA PORTA DE UM SUPERMERCADO.

Neste “mundo imaginário”, se pudéssemos esquecer todas as leis dos homens. Se pudéssemos esquecer que existe “cor da pele”. Se pudéssemos acreditar que é mentira tudo que nós foi mostrado. Se pudéssemos não conhecer as motivações desse revoltante acontecimento. Se pudéssemos não ter que apurar responsabilidades. Se fosse possível ninguém esqueceria do nosso mundo, quando no dia 10 de dezembro de 1948 foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos que estabelece no seu artigo terceiro:

– TODO SER HUMANO TEM DIREITO À VIDA, À LIBERDADE E À SEGURANÇA PESSOAL.

Pergunto para você:

– Sob uma “subjetiva” perspectiva do comportamento humano, como podemos explicar o que aconteceu e que, para mim, considero ter sido um “retrocesso” do nosso processo civilizatório de conquistas sociais na história da humanidade?

Nesta jornada para o “autoconhecimento” (mensagem 001), sempre que faço referência às “realidades” modeladas pelas nossas percepções sensoriais de “subjetividades”, lembro-me desta interessante informação da doutora Ana Maria Haddad Baptista, transmitida nos seus comentários da obra “Diários”, de Lúcio Cardoso, que foi organizada por Ésio Macedo Ribeiro, da Editora Civilização Brasileira:

– IMMANUEL KANT, ENTRE DEZENAS DE OUTROS QUE PODERIAM SER CITADOS, FOI UM DOS PRINCIPAIS PENSADORES A ESTABELECER BASES SÓLIDAS PARA RECONHECERMOS UM NOVO MODELO DE SUBJETIVIDADE. PARA PERCEBÊ-LA MUITO PRÓXIMA DO QUE HOJE A ENTENDEMOS. OU SEJA: EM QUE MEDIDA DIALOGAMOS COM NOSSA INTERIORIDADE? EM QUE MEDIDA TEMOS ACESSO À NOSSA VERDADEIRA FORMA DE EXISTIR?

Em dezembro de 2004, ao ser perguntado sobre qual é o papel do nosso corpo na emergência da consciência”, o neurocientista António Damásio respondeu em entrevista concedida à Revista “Viver Mente & Cérebro Scientific Américan”:

– A consciência de si é construída a partir de uma imagem do corpo, que decorre por sua vez das sensações que experimentamos (frio, calor, palpitações do coração, movimentos etc.). Elaboramos uma imagem de nosso corpo e de suas reações em função dos constrangimentos externos. Representação do corpo e consciência estão intimamente ligados.

Em seguida, Damásio explicou como o ser humano desenvolveu uma “consciência de si”:

– Penso que o corpo precisa verificar sem cessar que seu equilíbrio (sua homeostase) está sendo respeitado. O cérebro deve receber informações atualizadas sobre o estado do corpo a fim de regular os mecanismos vitais. Diante de um perigo, o corpo reage por meio de um conjunto de reações fisiológicas, que o cérebro converte em atividade neuronal. É preciso aceder à atividade neuronal e tomar consciência dela para agir. Para o organismo, é a única maneira de sobreviver num meio em perpétua mudança. As emoções, sem sentimentos emocionais conscientes, não bastam.

Sobre os sentimentos em nossas vidas, ensina Damásio no seu mais recente livro “A estranha ordem das coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta (que recomendo para os interessados, como leitura obrigatória):

– Os sentimentos são a própria revelação, a cada mente individual, da condição da vida no respectivo organismo, expressa ao longo de uma faixa que vai do positivo ao negativo. (…) Sentimentos são as experiências subjetivas do estado da vida, isto é, da homeostase, em todas as criaturas dotadas de mente e de um ponto de vista consciente. (…) Os sentimentos nos dizem o que precisamos saber.

Conclui Damásio, com o seu consistente e didático estilo:

– Em resumo, sentimentos são experiências de certos aspectos do estado da vida dentro de um organismo. Essas experiências não são meramente decorativas. Elas fazem algo extraordinário: um relato, momento a momento, do estado da vida no interior do organismo.

Volto ao início desta mensagem:

UM SER HUMANO FOI ESPANCADO E POR ASFIXIA LEVADO À MORTE, NA PORTA DE UM SUPERMERCADO.

Como entender essa triste “realidade”?

Gosto destas considerações do psicólogo e filósofo José Mauricio de Carvalho, sobre o seu livro “O Homem e a Filosofia”, publicado pela Editora Mikelis (já citado, na mensagem 250):

– Podemos procurar entender a vida do homem de várias formas: contrapondo o que a Ciência diz ao que a Filosofia ensina, articulando imanência e transcendência da consciência ou das relações pessoais ou, ainda, pura e simplesmente descrevendo o viver. São formas válidas, complementares e interessantes de enfrentar a questão. Aqui se vai fazê-lo a partir de dois eixos de articulação: existência e cultura. É razoável articular conceitos tão diferentes para o enfrentamento desse problema? O que eles significam? Existência descreve algo, ou melhor, diz que algo tem realidade. Cultura, por sua vez, se refere ao trato de alguma coisa, a um produto ou, até mesmo, a certa conduta ou criação humana. A questão da existência, já o dissemos, relaciona-se com a realidade, e realidade é problema que há séculos desperta a curiosidade humana.

Sobre o que é “realidade”, ele esclarece:

– Podemos dizer que realidade é o que se experimenta pelos sentidos, em contraposição ao que pensamos. É algo que toca a sensibilidade em contraposição ao raciocínio. Porém, para falar de realidade é preciso que o percebido pela sensibilidade chegue à consciência e ali seja examinado, porque não basta experimentar sem entender ou referenciar o que sentimos. No entanto, realidade também é o que opõe resistência a nossas ações e não só física. Um outro eu que pensa ou age diferente também ajuda a entender a realidade. (…) O estar “no mundo” ou o “ser aí” em meio às coisas tornou-se condição para pensar a realidade, conforme resumiu Roger Garaudy mencionando Martin Heidegger (1966, p.53): “O ser humano, diz Heidegger, só pode definir-se a partir de seu existir, isto é, de sua possibilidade de ser ou não ser o que ele é”. E o que essa condição revela? Existir significa um modo especial de ser, que contempla o próprio problema da realidade. Ao tentar descrever a realidade que é a sua vida, o indivíduo fica perplexo, pois não consegue entender perfeitamente o que ele é. Ele se lança num futuro incerto, em direção ao que ainda não existe, e está cercado do nada. Ele se sente perdido na insegurança de suas escolhas, incorre em culpas, angustia-se com sua incompletude e percebe seus limites. Além dos limites individuais percebe-se em meio a crises da civilização que também perturbam o modo como ele vive e as razões que ele mobiliza para viver. Nos momentos de crise de civilização crenças e valores são mais profundamente questionados e o homem se vê com novos problemas. Nestas ocasiões, o que ele deve fazer e como pensar se torna especialmente complicado.

Agora sintam esta sua primorosa síntese:

– PARA FALAR DE REALIDADE É PRECISO QUE O PERCEBIDO PELA SENSIBILIDADE CHEGUE À CONSCIÊNCIA E ALI SEJA EXAMINADO, PORQUE NÃO BASTA EXPERIMENTAR SEM ENTENDER OU REFERENCIAR O QUE SENTIMOS.

Assim complemento, com este meu “sentir”:
1. Acredito que nem tudo está perdido, porque entendo que existem muitas fontes de inspirações de “realidades”. As minhas são definidas pela essência da “abstração simbólica” dos meus sentimentos. São, portanto, projeções recebidas da minha “Sensibilidade da Alma”.
2. Entendo que tudo que se manifesta de “dentro de nós” e muito do que vem “de fora” para dentro nós, nos proporciona sintonias de harmonizações de envolvimentos interiores com os nossos “estados de espírito”.
3. Não devemos querer “separar”, querer “dissociar” a pessoa, da subjetividade das representações cognitivas das suas “experiências de vida”. São as nossas “subjetividades” que espelham a nossa “singularidade existencial”. Somos nós que construímos as nossas manifestações de “realidades”. Vejam estes exemplos: Para Platão, nós vivemos no mundo do irreal onde tudo o que vemos é somente uma sombra imperfeita de uma realidade mais perfeita. Fernando Pessoa, entendia que precisamos ser realista, para descobrir a realidade. Romântico, para criá-la”. John Lennon, afirmava que a realidade deixa muito espaço à imaginação”. Para Albert Einsten, a realidade é meramente uma ilusão, apesar de ser uma ilusão muito persistente.

Termino esta mensagem, com esta perguntas que merecem serem refletidas por todos nós:
1. Como podemos construir para as nossas gerações futuras, um novo modelo sociocultural que impeça a banalização da vida por um “não à violência”, à “discriminação do seu semelhante” para, assim, consolidar e perpetuar o respeito à vida e à dignidade da pessoa humana?
2. O que é “ser humano” (e não o que é o “ser humano”)?
3. Você acredita que há condições para o “renascer” de um novo progresso humano, principalmente em termos de mais demonstrações de civilidade humanista?
Para esta última pergunta, a minha resposta é ACREDITO.

Muita paz e harmonia espiritual, para todos nós.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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