“O QUE NOS ENSINA UM IOGUE DEFICIENTE VISUAL?”
Em relação ao seu aprendizado exterior, explica o professor de Yoga Luiz Albertini, em matéria publicada na edição de junho de 2009, com o título “Escuridão iluminada”, da Revista “Go Outside”, lançada no Brasil pela Editora Rocky Mountain:
– A ioga ajuda a despertar o equilíbrio verdadeiro: o equilíbrio interior. As pessoas que enxergam têm a tendência de se agarrarem a algum objeto quando vão cair ou precisam de apoio, sempre com a ajuda dos olhos. E quando este indivíduo é cego? Como sobreviver sem tais referências? Além de outros benefícios também acessíveis aos que veem, a ioga ajuda os deficientes visuais a se adaptar a sua nova realidade, criando novas referências que lhe outorguem autonomia. Percebi que a questão da percepção do próprio corpo é o mais importante para esses alunos. Um exemplo: o deficiente está caminhando quando de repente esbarra em algum objeto e cai. A ioga desenvolve a coordenação motora, a psicomotora e a percepção de si próprio para que, quando isto aconteça, ele consiga retomar mais rápido o equilíbrio. O indivíduo vai ter um andar mais definido, objetivo e seguro.
a) Sobre os exercícios de percepções, usados nas suas aulas.
Albertini. O “emocional” e o “vibracional” são aplicados para o deficiente visual sentir as cores quentes e frias, por meio das mãos. O “corporal”, para se conscientizar das partes do seu corpo. O “mental”, para ajudar na memorização. O “telepático e espiritual”, são aplicados para o deficiente visual aprender evitar pensamentos ruins. Se somos capazes de expandir as percepções além dos cinco sentidos, é porque elas possuem outras funções úteis ao nosso ser para o caminho da espiritualidade.
b) Sobre uma aluna com pouca visão, que começou a participar das suas aulas sabendo que ficaria cega por causa da diabete:
Albertini. Primeiro ela aprendeu a dominar a respiração e, consequentemente, a se sentir mais calma para entender e questionar o que estava acontecendo. Depois, o trabalho de percepção do corpo a ajudou a se adaptar mais rápido ao processo de andar com a bengala.
c) Sobre as suas aulas de concentração.
Albertini. Outra característica desenvolvida por meio da ioga – fundamental a todos em tempos de excesso de informação, porém essencial aos deficientes visuais – é a concentração, principalmente nos sons à sua volta. Por isto, em uma aula para quem não vê – eu a fiz, mas de olhos abertos na maior parte do tempo, por causa da minha incapacidade de tê-los fechados – os alunos necessitam de um senso auditivo mais aguçado para entender o que o professor solicita. Os que perderam a visão mais recentemente geralmente têm pouca concentração. Com o tempo, eles aprendem a ouvir mais e a interpretar melhor.
d) Sobre se existe alguma restrição quanto às posturas, em uma aula a que se refere o seu esclarecimento anterior.
Albertini. É necessário entender que a ioga é um termo genérico para uma fórmula espiritual oriental, adaptável a todos os sujeitos, e que pode ser executada a qualquer momento, independente das limitações físicas. A ioga tem a função de purificar o indivíduo, aproximando-o das virtudes internas adormecidas, que todos temos dentro de nós. Por isto, pouco importa se a pessoa consegue se contorcer de forma perfeita ou não – no caso de uma aula com cegos, o colega do lado está se lixando se você faz a postura de forma certa ou errada. Isso torna a aula mais introspectiva, como a atividade requer. E a evolução vem de uma forma progressiva, sem o tempero da competição. O que vale é se a pessoa está concentrada em sua respiração e em si de uma forma geral. Se sim, ela está praticando ioga.
Abordagem da próxima mensagem: “o mundo interior do deficiente visual”.
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Muita paz e harmonia espiritual.