Consciente das minhas necessidades de “autoconhecimento” e dos seus benefícios, tenho pensado muito neste “sentir” da escritora Muriel James:
A BUSCA DE SIGNIFICADO É UMA JORNADA QUE DURA TODA A VIDA.
Certo é que todos nós devemos conhecer o “mosaico sensório” das singularidades da subjetividade humana. Precisamos construir os significados das nossas experiências, porque somos responsáveis pelas nossas decisões. Em tudo existe um sentido para ser descoberto e elaborado por nós. Nascemos com missão de crescimento espiritual, o que, no meu entender, explica a essência da nossa “consciência transpessoal” (mensagens 174 e 212). O nosso psiquismo significa as percepções da nossa individualidade existencial e espiritual. Cabe a nós (com a ajuda das conhecidas práticas de “autoconhecimento”), ressignificar o nosso “existir”, respeitando as imprevisibilidades no nosso “viver”.
O que motivou esta mensagem foi o livro “Feliz Ano Velho”. Uma autobiografia escrita por Marcelo Rubens Paiva, vencedor do Prêmio Jabuti, lançado no Brasil pela Editora Alfagara, que também foi publicado em 2006 pela Editora Objetiva. Trata-se de um triste exemplo desses acontecimentos que podem mudar completamente as nossas vidas, com consequências irreparáveis e significados de aceitação atribuídos à imprevisibilidade. Para mim, é suficiente esta síntese da história de vida de Marcelo: – aos vinte anos de idade, fraturou a quinta vértebra cervical ao mergulhar em uma lagoa com pequena quantidade de água, ao fazer imitação do Tio Patinhas.
Para esta mensagem, destaco da análise do médico e psiquiatra junguiano Carlos São Paulo, as seguintes considerações publicadas na Revista PSIQUE, Ano VI, Edição 72, de dezembro de 2011:
– A ETERNIDADE DO RENASCIMENTO. A AUTOBIOGRAFIA FELIZ ANO VELHO ABORDA SISTEMAS COMPLEXOS DA PSIQUE COM FATORES IGNORADOS QUE PARTICIPAM DE NOSSAS DECISÕES, CAUSANDO MUDANÇAS EM FUNÇÃO DO QUE CHAMAMOS DE ACASO.
Esclarece o Doutor Carlos São Paulo, que mais uma vez enriquece este espaço virtual (mensagens anteriores: 092, 109, 116, 147, 158, 165, 197, 207 e 209):
A utilização da linguagem fragmentada, um estilo literário que, como um ego posto no divã, evidencia uma ausência de linearidade discursiva, talvez por ter sido uma tentativa de apagar a linha do tempo que dividiu o percurso daquela vida em antes e depois dos 20 anos de idade. (…)
Narrado em primeira pessoa e de maneira bem íntima, consegue desmascarar o real e captar o inefável. O seu acidente é descrito de forma irônica, como uma maneira de reclamar de uma asneira cometida. Qual escolha fora feita quando ele resolveu brincar de Tio Patinhas e fez o mergulho mais significativo de sua vida? Em sistemas complexos como o da nossa psique, há muitos fatores ignorados que participam de nossas decisões e, por isso, causam mudanças importantes em função daquilo que chamamos de acaso.
Quando decidimos por uma atitude, estamos fazendo uma escolha. Na Psicologia de Jung, uma escolha poderá partir de uma decisão tomada pelo centro da consciência de nossa personalidade – o ego; ou, então, pode partir de outro centro que envolve toda a personalidade – inclusive a psique inconsciente -, o si-mesmo. Este último parece se confundir com nossa alma, termo usado aqui sem a roupagem da Teologia. As decisões tomadas a partir do si-mesmo às vezes não são compreendidas pelo ego por serem estranhas para o que conhecemos em nossas rotinas normais. (…)
A psicoterapia tem como objetivo fazer com que mantenhamos uma visão clara das coisas à medida que realizamos o destino a cumprir. Pelo pensamento arcaico – o mesmo que dizer o inconsciente coletivo -, o “destino a cumprir” é o próprio indivíduo realizar seu potencial e seu talento. Ficamos sabendo disso quando nos tornamos apaixonados pelo que fazemos. No entanto, confundimos com a ideia ingênua de que podemos evitar o acaso. Max Born, prêmio Nobel devido ao seu trabalho sobre a Teoria Quântica, nos afirma que o acaso é um conceito mais fundamental que a causalidade. Não é raro observarmos que grandes acontecimentos resultaram em grandes mudanças em função do acaso. Muitas coisas não as compreendemos, inclusive o que se chama destino.
Antes do acidente, a irmã de Marcelo teve um sonho em que o via se afogando e, depois de ser salvo, ela só enxergava o irmão do pescoço para cima. É bem coerente entendermos como uma previsão do acidente, como se houvesse uma ordem oculta para o determinismo de nossa vida. É sempre mais fácil compreendermos um evento dedutivamente partindo-se do passado, no entanto é difícil afirmar qualquer predição. Na Antiguidade, o oráculo respondia às perguntas por metáforas, e quem o consultava devia dar significado e entender o caminho a seguir. O mesmo acontece com os nossos sonhos. Provavelmente a sonhadora, submetendo-se a uma análise de sonhos, iria tentar descobrir o significado dessas imagens em sua própria vida.
A trajetória do ano de 1979 chegava ao fim. Foi o ano velho que aparentemente ficou com a felicidade de Marcelo. O tempo nos ilude com suas artimanhas e vivemos a ilusão de uma contagem como se ele fosse uma coleção de pedaços de vida que vai se consumindo a cada ano que termina. A cada ano haverá morte e renascimento, enquanto a vida segue o seu curso dentro de uma ordem oculta cujos segredos só nos são revelados em momentos especiais. Assistimos à repetição dos dias, dos anos, dos nossos anseios e esperanças. É o eterno retorno das alegrias, das tristezas, das dores e prazeres que se repetem indefinidamente ao longo da nossa existência.
Termino, com este “sentir” de Deepak Chopra:
– O EGO CERTAMENTE É UMA ILUSÃO. A INCERTEZA É A BASE DA VIDA.
Notas:
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3.Subestão de leitura complementar sobre o “acaso” (mensagem: 027).
4.O Doutor Carlos São Paulo é diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. carlos@iba.com.br
Muita paz e harmonia espiritual.