Com esta mensagem, a nossa caminhada para o “autoconhecimento” está sendo muito enriquecida com um exemplo de “cultura”, de “vivência humanista”, do “modo de “sentir nossas vidas” e, principalmente, de “lucidez” aos 91 anos de idade. Refiro-me à trajetória de vida do ator Othon Bastos. Recentemente, quando esteve em Brasília para apresentar sua peça “Não me entrego não”, concedeu entrevista ao jornal Correio Braziliense, edição do dia 10 deste mês de novembro. [Nota: Com a necessidade de sempre que possível manter um certo padrão no tamanho das mensagens, quando insiro “três pontos entre parênteses” em algumas das suas respostas, tomei o cuidado de não prejudicar a sua inteireza]:
O que a literatura traz hoje em dia, e foi um alicerce?
Othon: Você não pode parar de ler, parar de estudar – não pode relaxar em nada. Deve acompanhar a vida, paralelamente, ver tudo, ouvir tudo. Se inteirar, bem como brigar, discutir e não aceitar tudo. É direito de dizer: “Isso eu não quero”. Cada leitura, a cada filme visto são estudos. Eu não sou obrigado a saber tudo e ser um gênio. Sou humano, com todos os erros, defeitos e virtudes. Sei o que sei que sei.
O senhor imortalizou o Padre Antônio Vieira (em Os Sermões), estudou filosofia e tem ligação com a espiritualidade. Citar Chico Xavier significa algum compromisso?
Othon: Eu cito pessoas com quem eu tenho alguma ligação. Ele está sempre ensinando. Você precisa compreender os outros, entender os outros, ter amizade aos outros, não se esqueça: você é o outro de alguém.
A espiritualidade é você ter sempre abertura para conversar e entender as pessoas. Isso é o melhor. Se eu ganhei talento, se Deus me deu talento, não posso ficar com isso trancado dentro de mim. Tenho que dividir isso com outras pessoas. É o que eu faço na minha peça. Não guardo para mim, não quero me trancar em castelo. O Fernando Pessoa diz: “Pedras no meu caminho, eu recolho-as todas; um dia, eu construirei um castelo”.
No Nordeste do patriarcado, o senhor viveu o icônico personagem de São Bernardo, avaro ao extremo. Como te toca a riqueza de um Adriano Suassuna?
Othon: São Bernardo é um grande filme. Sobre Adriano Suassuna, eram lindas as palavras dele. Era um show: conversava, criticava, elogiava e era fantástico. Não quero me recolher e ficar trancado dentro de mim mesmo. Você tem que estar livre para poder sê-lo. Como você vai ajudar alguém, se não se ajudar? Plotino, filósofo extraordinário, dizia o seguinte: “Você tem que ter sempre tempo de fazer uma visita constante a você mesmo.” Jung diz uma coisa linda: você não é responsável pelas coisas que acontecem a você. Você é responsável pelas coisas que você escolhe para você.
Como nota a moderação absoluta no mundo atual e como percebe a vontade de revisões de obras consagradas?
Othon: Desculpe, isso é loucura. Cada pessoa vive numa determinada realidade. Você tem que saber qual é o motivo o porquê de cada um produzir ou criar a obra. Como falar mal despois? No momento, o artista estava atento e forte, lutando por seus ideais. Como você julga as pessoas? Aliás, quem é você para julgar alguém? Não há coisa pior do que julgar. Por que não sentar de frente no espelho, ficar falando com você sobre você, e julgar a si?! Sente na frente do espelho e pergunte: “Espelho, quem sou eu?” O espelho vai te responder: “As suas escolhas”.
Sua vitalidade é impressionante, junto com a memória. O que te deixa tão sadio, ao ponto de parecer não ter limites?
Othon: A vitalidade foi Deus que tem me dado. Chegar aos 91, e fazer o que eu estou fazendo. Muitas pessoas podem fazer a mesma coisa! Para o Clint Eastwood perguntaram: “Como é que, com sua idade, monta a cavalo, dá tiros, adestra saloon?…” Ele disse: Muito simples; de manhã, ao levantar, eu rezo e rezo, e digo baixinho – ‘Deus, meu Deus, não deixa a velhice entrar, não deixa’ (risos). Essa vitalidade está na vida das pessoas. Acho que muitos estão ficando muito carrancudos. Digo, na peça, isso é grave – as pessoas têm ficado com medo de viver. Tem que viver! Você tem que ter alegria de viver.
Como percebe ter desenvolvido a carreira?
Othon: Não tenho dúvida: você é o que você foi. Saber escolher é importante. (…) Na minha vida, faço sempre assim. (…) Não vou entrar em polêmicas. As pessoas têm o direito de ser quem são. Não vou querer mudar as pessoas. Relacionamento humano é isso: você pode andar na mesma calçada, mas você não precisa ser dono do mundo da outra pessoa. Você participa do mundo da outra pessoa, mas você não é o dono do mundo da outra pessoa. Nisso você se torna uma pessoa agradável de conviver. Não tenho intenção de corrigir o mundo nem quero que o mundo me corrija. Me vem a linda música do Paulinho da Viola: “Não sou eu quem me navega/Quem me navega é o mar”.
Que bela demonstração de “autoconhecimento” e de “saber viver”! Eu me emociono por ter criado, por intuição, esta nossa caminhada para o “autoconhecimento”, de poder enriquecê-la com ensinamentos voltados para as nossas subjetivas necessidades de “descobertas de interiorização”. De sermos beneficiados, neste encontro, com esse “sentir” do ator Othon Bastos. Acredito que seja uma missão recebida no sentido de, pela minha escrita, poder ajudar as pessoas. Esse é o meu único desejo! Nunca imaginei que fosse chegar ao atual número de mensagens postadas. Se você gostou deste nosso encontro, avise para os seus amigos. Será assim que nós vamos construir uma subjetiva corrente de energia que unirá todos nós!
Notas:
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3. Conheça a nossa galeria de exemplos de “sensibilidade da alma” (mensagem 378)
Muita paz e harmonia espiritual para todos.