(206) Sentindo como entender o “estresse”.

Nesta nossa caminhada de “autoconhecimento”, com a mensagem duzentos e quatro (sugestiva de como entender e vivenciar um “trauma psicológico”), foi iniciada uma nova fase com as escolhas de temas que podem afetar a nossa “psique”, abalar o nosso “emocional”, repercutindo indiretamente na “percepção sensória” da nossa “Sensibilidade da Alma”. Antes, predominavam mensagens essencialmente voltadas para a nossa interiorização (conhecimento de si mesmo), apenas com a finalidade de melhor compreender os significados dos nossos “sentimentos” e “emoções” (conhecimento da subjetividade humana). A aceitação superou as expectativas, atingindo elevado número de acessos. Para esta mensagem, trago informações importantes da doutora Marilda Lipp, Ph.D. em Psicologia pela George Washington University (EUA), considerada uma das pioneiras no estudo do “estresse”. Da sua entrevista concedida à Rose Campos, publicada na Edição 22 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala, destaco o seguinte:

1. Sobre o que é estresse.
ML. O estresse não é uma doença. É uma reação e eu a definiria como muito complexa, com componentes físicos, psicológicos, mentais e hormonais. E essa reação tão complexa ocorre frente a qualquer desafio – positivo ou negativo – que o ser humano tenha de enfrentar. Por exemplo, ganhar na loteria também produz estresse, pois a partir daí haverá uma série de problemas a serem resolvidos, inclusive saber como investir o dinheiro. Tudo isso pode ser muito estressante. Acontece que cada desafio tem um valor diferente para cada pessoa. E o tipo de valor atribuído vai depender da história de vida de cada um, podendo adquirir peso maior para determinadas pessoas. Há quem sempre veja o lado ruim das coisas; essas vão demonstrar um tipo de reação. Diante da possibilidade de uma viagem para a Europa, por exemplo, podem pensar: será que o avião cai? A viagem se torna um desafio muito pesado. Mas, ao contrário, se o pensamento é “que maravilha! Vou para a Europa, que delícia…”, o desafio tende a diminuir. Essa variação decorre da percepção de cada um.

2. Sobre as consequências do estresse na nossa bioquímica. O fato de essa reação poder se repetir com mais frequência e intensidade, desencadeia efeitos negativos no organismo?
ML. Num primeiro momento a condição básica para a ocorrência do estresse é a percepção do evento. Se o evento não é percebido, não importa se ele é muito negativo. Por exemplo, se há um homem com um revólver na mão ali na porta e eu não vejo esse homem, a simples presença dele não vai causar nenhum estresse. Então, em primeiro lugar, há que existir a percepção do evento estressante por algum órgão dos sentidos que desperte o sentimento de alerta. Após essa percepção, uma mensagem é enviada para o cérebro, atinge a parte cortical, onde ocorrem as interpretações lógicas do evento, e se dirige também para o sistema límbico, responsável pelas emoções. Essas duas percepções, lógica e emocional, se somam para determinar as reações de estresse. Se, voltando ao exemplo, eu noto a presença do homem, mas logo a seguir vejo que há uma câmera e que se trata de um filme, eu mudo a minha percepção e a mensagem que meu cérebro vai receber é, portanto, diferente. As reações vão sendo atualizadas de acordo com novas informações que chegam ao cérebro. Então, pode-se dizer que a reação de estresse requer interpretação lógica e emocional de um evento. Quando essas duas interpretações dão ao sujeito a imagem de um perigo ou de um desafio, aí ocorre o estresse. A partir disso, quando essa mensagem é recebida pelo cérebro, parte do sistema límbico, o hipotálamo, ativa o funcionamento de várias glândulas que de imediato preparam o corpo para a reação de luta ou fuga. Os olhos percebem uma situação estressante e enviam a informação para o cérebro, que é captada pelo sistema límbico, o hipotálamo; este, por sua vez, manda a mensagem para as glândulas supra-renais, que produzem adrenalina, e a pessoa entra em prontidão, no processo de luta ou fuga. A adrenalina no corpo resulta em energia, em um vigor muito grande. Mas ninguém aguenta ficar com esse jato de energia por muito tempo, passando a adoecer aos poucos.

3. Sobre o que ocorre a partir daí, depois de deflagrado esse mecanismo.
ML. Inicialmente o estresse determina que as glândulas supra-renais, duas glândulas localizadas acima dos rins, produzam adrenalina. A medula ou núcleo da glândula produz essa substância. Porém, se o estado de estresse perdura muito tempo, a medula da supra-renal pára de produzir adrenalina e o córtex dessa glândula – a parte que circunda a sua medula – produz cortisol. E o cortisol, quando em excesso, baixa o sistema imunológico. A pessoa acaba ficando vulnerável a vários tipos de doença. Por isso se torna mais fácil pegar doenças oportunistas, como gripe. Ou então são doenças que já estavam geneticamente programadas e permaneciam até então latentes; de repente aparecem pelo fato de a pessoa estar submetida ao estresse.

4. Reconhecendo que na vida moderna estamos sujeitos a uma série de situações potencialmente estressantes, quais são os possíveis efeitos dessa sobrecarga no organismo? Como isso se reflete na vida psíquica das pessoas?
ML. As pessoas se sentem mais inseguras.

5. Sobre se essa situação também produz reflexos nas crianças.
ML. Sim. Também tem aumentado a incidência dos problemas do estresse na infância. Não na mesma proporção que no adulto, claro, mas o nível de estresse infantil é alto, em torno de 25%.

6. Sobre quais profissionais devem ser procurados.
ML. (…) muitas empresas começam a encaminhar seus funcionários para tratamento psicológico. Algo antes visto como coisa fora do comum. Por outro lado, as pessoas também adoecem em decorrência do estresse. E vão ao médico e se queixam de uma série de doenças, pois o estresse pode desencadear de hipertensão, diabetes, colesterol elevado, depressão até pânico. Quando o corpo adoece as pessoas acabam procurando alguma coisa para reduzir o efeito do estresse no corpo. E muitas não entendem o encaminhamento ao psicólogo. “O que eu tenho é hipertensão. Por que o médico me mandou para cá?”, algumas perguntam.

7. Sobre se as opções de relaxamento (p.ex. uma massagem, uma viagem de fim de semana para um lugar tranquilo) são suficientes para lidar com o estresse.
ML. O tratamento de estresse, utilizado por mim há mais de 20 anos, é baseado em quatro pilares. Três deles são coadjuvantes, porque ajudam lidar com o problema, mas não o resolvem sozinhos [Como massagem viagens, relaxamento, até mesmos uma ida ao cabeleireiro]. São coisas que reduzem a tensão do momento, porém não resolvem o problema. Vamos supor que o foco do estresse seja uma briga com o chefe. Então, os três pilares coadjuvantes apenas ajudam. E são os seguintes: relaxamento, que inclui todos os recursos utilizados com esse fim; exercício físico, que ajuda a dar mais energia; e nutrição antiestresse. Reduzem sintomas como tensão muscular, fraqueza e falta de energia. O quarto pilar é o principal: a reestruturação emocional da pessoa. É o que de fato resolve.

8. Sobre se reestruturação emocional se refere à Psicoterapia.
ML. A que eu aplico é uma psicoterapia focal. Além de focal é de curta duração e de base Cognitivo Comportamental [tratamento feito em 15 sessões, com a doutora Marilda]. Nesse tipo de Psicoterapia trabalham-se os limites da pessoa, os quais, muitas vezes, a pessoa nem conhece. Muita gente não sabe quais são seus próprios limites. Ainda assim, procura transcendê-los. Depois de fazer a pessoa encontrar seus limites, procuramos levá-la a respeitá-los. É comum isso não acontecer. As pessoas dizem “Vai dar. Amanhã eu descanso”. Mas às vezes não dá.

9. Sobre se esses limites também são emocionais.
ML. Claro, emocionais também. Que envolvem irritabilidade, nervosismo, o desconforto de estar em alguns lugares. Porque às vezes a pessoa pode estar em uma festa, mas não está se sentindo bem. Então, para que forçar? Também é importante saber dizer não. E procurar ter relações agradáveis. Outro aspecto superimportante no controle do estresse é aprender a controlar a pressa.

10. Sobre se essa explicação tem a ver com a ansiedade.
ML. Nem sempre. Pode acontecer porque a pessoa aceita muita responsabilidade, não sabe dizer não. Existe gente apressada que não é ansiosa. Embora a ansiedade seja outra fonte de estresse. O treino de controle do estresse cobre esses aspectos e, se a pessoa tiver ansiedade, vai trabalhá-la. Ou seja, vai focar naquilo que a pessoa tem maior dificuldade, além de abranger aspectos que são padronizados [Para a doutora Marilda, também é preciso fazer a pessoa descobrir quais são as suas prioridades].

11. Sobre quais alimentos ajudam a enfrentar o estresse.
ML. Alguns alimentos são antiestresse por natureza. São os legumes, as verduras e as frutas. (…) aconselhamos as pessoas a comer três porções de legumes e uma salada a cada refeição. Se a pessoa seguir essa orientação, não terá tanto apetite para comer alimentos como macarrão, lasanha e outras coisas muito calóricas. Vai acabar se restringindo a alimentos mais saudáveis. Pedimos, também para a pessoa tomar, em toda refeição, um copo de suco. É uma maneira indireta de ajudá-la a mudar seu hábito alimentar sem estressá-la.

12. Sobre qual é o papel da nutrição no controle do estresse.
ML. Ao atravessar períodos de grande estresse, são utilizadas as vitaminas do organismo. Isso ocorre para que o organismo possa aguentar a carga de estresse e para lutar contra ele [ A doutora Marilda também explica que se a pessoa perceber o cantinho do olho ou a mão também “pulando”, são sinais de falta de vitamina B6 no organismo após um episódio de grande estresse. O estresse também pode consumir do organismo vitamina B12, cálcio, magnésio, manganês, entre outros nutrientes.].

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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