(260) Sentindo a prática do “autoconhecimento”, nas nossas relações interpessoais.

“O HOMEM APRENDE A VER-SE VIVENDO”.
São palavras do dramaturgo, poeta e romancista italiano Luigi Pirandello (1867-1936), laureado em 1934 com o Nobel de literatura. Foram selecionadas do seu livro “Um, nenhum e cem mil”, lançado no Brasil pela Editora Cosac & Natity, atualmente esgotado. Dele tomei conhecimento em 2007, lendo os comentários de Paula Mantovani, publicados na edição 18 da Revista PSIQUE, da Editora Escala. Paula inicia com esta síntese:

– UM ENTRE OUTROS. O SENTIDO QUE ATRIBUÍMOS A NOSSAS EXPERIÊNCIAS É UM E O QUE ESTE SIGNIFICA PARA O OUTRO É UMA OUTRA COISA.

A história contada por Pirandello nos envolve em um misto do cômico com o dramático, porque Moscarda, o personagem principal, fica completamente arrazado quando, diante do espelho, a sua mulher diz para ele que a imagem do seu nariz é estranha, parecendo-lhe mais virado para o lado. Moscarda (que sempre se sentiu com um nariz reto), “fixa em seu pensamento o fato de que não era para o outro aquilo que imaginava ser. Passa a buscar um novo reconhecimento de si, em um desejo constante de estar só.”

O tema central do romance de Pirandello trata, portanto, da realidade sensória de como nos “sentimos”, nos “vemos” para nós mesmos e, também, em relação a como achamos que os outros nos veem. Sobre esse drama de Moscarda, comenta Paula Mantovani:

– Se não era mais o que até então pensava ser para os outros, restava apenas uma pergunta a Moscarda: quem ele era? Nesse abismo de indagações, descobre que há cem mil Moscardas num corpo que era apenas um e, ao mesmo tempo, nenhum. Como suportar em si tal descoberta? Como carregar esses estranhos invisíveis e inseparáveis? Evidências que alimentavam um propósito: o de ser um entre outros, uma vez que reconhece um minuto insano em que não só podemos ser um, como cem outros mil e nenhum.

Nesta jornada para o “autoconhecimento”, peço a sua atenção para estas considerações de Paula sobre o “Transitório das Coisas”:

– Quais sentimentos nos inspiram?
Embora haja ilusões e desenganos, dores e alegrias, esperanças e desejos, há o transitório destas coisas, mas também há o que não é impassível: a necessidade imperativa do silêncio. Necessidade esta que se constrói num ponto de captação: o sentido que atribuímos às nossas experiências é um e o que esta significa para o outro é uma outra coisa, articula-se com o valor que assume a palavra para cada um na sua singularidade. Uma vez que se fosse diferente disso seria o mesmo que sermos como papéis vegetais sobrepostos a uma mesma imagem.

Gosto desta explicação da Psicóloga Claudia França Pádua: “O ser humano, na forma como vem à vida, vive com uma consciência expandida, trazendo consigo um arsenal de habilidades e de múltiplas texturas multifacetadas, que se revelam na persona em si, onde expõe revigorantes impulsos internos que revelam suas verdadeiras intenções. (…) Em uma análise junguiana, no primeiro momento será investigado o indivíduo socializado, ou seja, em sua persona. A persona é um compromisso criado entre o indivíduo e a sociedade, sobre como alguém aparenta ser. Esse compromisso se instaura entre as exigências do mundo circundante e sobre o condicionamento interior estrutural.”

Certo é que nas nossas relações interpessoais, o ser humano vivencia uma interior sensação de “necessidades de completude”, modelada de acordo com a sua consciente “imagem de si mesmo”. Esclarece o professor Júlio Furtado, com graduação em Psicopedagogia e especialidade em Gestalt-terapia:

– Nós somos seres complexos por várias razões. Mas em especial porque formamos nossa autoimagem por meio do que os outros veem em nós. Precisamos do feedback das outras pessoas para que nossa autopercepção possa ser o mais real possível. Precisamos também nos mostrar para os outros para que eles possam ter a percepção mais acertada sobre nós (…). A saúde da nossa relação com as outras pessoas se dá em função do quanto nos mostramos como realmente somos e do quanto percebemos o outro como realmente é.

Termino, com este meu “sentir” sobre o romance de Luigi Pirandello:

– “SE O HOMEM APRENDE A VER-SE VIVENDO”, PODEMOS PRATICAR NOSSAS BUSCAS DE “AUTOCONHECIMENTO” PROCURANDO ENTENDER AS REAÇÕES QUE RECEBEMOS OU CAUSAMOS AOS OUTROS, NAS NOSSAS INTERAÇÕES EXISTENCIAIS.

Notas:
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2. As citações da Psicóloga Claudia França Pádua e do Professor Júlio Furtado, foram respectivamente reproduzidas dos artigos “As Profundezas do indivíduo” e “Dê visão ao seu EU CEGO!”, publicados nas edições 151 e 157 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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