(292) Sentindo, na pandemia, um renascer de mais união e solidariedade universal.

“A REALIDADE DEIXA MUITO ESPAÇO À IMAGINAÇÃO.”
São palavras de John Lennon (1940-1980). Desconheço em que momento da sua vida foram por ele externadas. Escolhi para iniciar esta mensagem porque, como desejo, podem ser aproveitadas para explicar uma das possíveis consequências das nossas experiências de “realidades”, sejam elas desejadas ou não. Refiro-me à nossa capacidade cognitiva de “imaginar”. Um exemplo atual de querer saber como poderá ser a mudança de uma “realidade indesejada”, decorre dos nossos estados de incertezas desta triste e preocupante “pandemia”, em que muitos já estão perguntando: Como será o nosso novo normal do “pós-pandemia”? Respondo com esta síntese do meu “sentir”:

– Todos nós estamos passando por um subjetivo processo de “transformação interior”. Estamos vivenciando, em todos os sentidos, necessárias mudanças restritivas das nossas liberdades de interações. As antigas e costumeiras “ações individuais”, determinantes das escolhas do nosso modo de viver “para nós mesmos” e “para o outro”, foram radicalmente modificadas com a chegada da pandemia. Volto à pergunta que podemos fazer para o nosso “imaginário”:

– COMO SERÁ O NOVO NORMAL DO “PÓS-PANDEMIA”?

Da entrevista publicada na edição de ontem do jornal “O Estado de São Paulo”, destaco,em síntese, estas respostas do Filósofo Mario Sergio Cortella:

1. Sobre o que podemos levar de bom deste momento, apesar do senhor não acreditar em uma “conversão súbita no pós-pandemia?
Cortella. Se não formos tolas e tolos, nós vamos aprender que algumas coisas que são deixadas num plano secundário nos fazem falta. Eu utilizo bastante uma frase do Benjamin Disraeli (escritor e político britânico, 1804-1881) que diz que a vida é muito curta para ser pequena. Por isso, a amizade, amorosidade, a solidariedade, a sexualidade, a religiosidade e a fraternidade são essenciais para não apequenar a nossa vida. Mesmo se aprendermos isso, não acho que sairemos desse movimento pandêmico nos abraçando em larga escala, como se fez no fim da Segunda Guerra. Ali, as pessoas se abraçaram e se juntaram. Mas meses depois já estavam se desligando de novo. Nós nos esquecemos de algumas lições com velocidade.

2. Sobre como não se desesperar neste momento?
Cortella. A forma é nos lembrarmos de que o hoje é um esforço coletivo para enfrentar aquilo que nos ameaça e, se nós tivermos decência, seremos solidários o suficiente para que, quando terminada a pandemia, não tenhamos vergonha por não termos feito o que precisávamos fazer. Os antigos, meus avós e meus pais, diziam: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe”. (…) E não é por convenção, mas porque contém sabedoria. É difícil, é duro, porque é algo que nos agonia, mas não é uma impossibilidade. Se nos juntarmos, conseguimos não nos desesperar. O desespero vem quando a gente tem a percepção do abandono, quando a gente se sente no Grande Sertão sem Veredas. Nesse sentido, a possibilidade do encontro, seja de ideias ou de sentimentos, a empatia, a compaixão e a capacidade de uma palavra que nos aproxima amenizam um pouco aquele que é o modo desalento.

3. Sobre se o ser humano se adapta a tudo?
Cortella. Uma das coisas mais fortes é a capacidade humana não de adaptação stricto sensu, mas de integração. Adaptar-se significa ser parte, enquanto integrar-se é fazer parte. A nossa postura na vida é muito mais de fazermos parte, de fazermos um ambiente. Portanto, é muito mais autoral, muito mais protagonista. Mas entendendo aquilo que você indica, isto é, se nós temos flexibilidade para lidar com situações, sem dúvidas. (…) Nós somos capazes de flexibilidade. Isso é uma vantagem imensa para a nossa sobrevivência. Afinal de contas, é só imaginarmos o número de vezes na vida que nós tivemos de alterar alguns dos caminhos que estávamos fazendo. Ainda bem que, como nós não nascemos prontos, dá para a gente inventar a trajetória numa parte do final.

Agora preste atenção à esta mensagem do astrólogo Oscar Quiroga, publicada na mesma edição do jornal “O Estado de São Paulo”:

– A tensão do humano.
O ser humano que tu és transita simultaneamente por dois mundos completamente diferentes, a subjetividade de tua alma e a objetividade de tua personalidade. São percepções distintas, expressões diferenciadas e necessidades específicas de cada um desses mundos, portanto, não há como isso deixar de ser uma experiência tensa. Embora a tensão pareça ser algo que tu deverias extinguir, se nenhuma tensão tivesses de administrar, tu não serias humano. O próprio ato de caminhar, sem ir mais longe, requer tensão, porque o corpo humano não caminha por si só, requer a administração equilibrada entre o cair e o se sustentar em pé. Por isso, deixa de lado a fantasia de que deverias experimentar a paz do relaxamento, e começa a desenvolver destrezas para administrar com alegria todas as tensões de tua experiência.

É claro que a parte conclusiva desse “sentir” de Quiroga, não se aplica à realidade desta pandemia. Não temos condições de sentir alegria nestes momentos difíceis. Foi por mim reproduzido nesta mensagem, para reforçar este meu entendimentos:

– Todos nós estamos sempre interpretando “percepções sensoriais” e construindo as nossas realidades. Elas são representações elaboradas pela natureza dos significados recebidos de todas as nossas interações de envolvimentos, sejam eles objetivos, conscientes ou subjetivos, de origens abstratas. Sugestão de leitura complementar (mensagem 290). Acrescento que para o neurobiologista Wolf Singer, fundador do Instituto de Estudos Avançados Frankfurt (IEAF), os conhecimentos recebidos das nossas “experiências subjetivas” são os mais importantes porque surgem da nossa introspecção e das nossas interações presenciais com o ambiente.

Termino esta mensagem, com este meu “sentir”:

NOSSOS MOMENTOS SÃO ÚNICOS, ASSIM COMO SÃO TODAS AS NOSSAS REALIDADES. NESTA PANDEMIA PRECISAMOS CONHECER A ESSÊNCIA HUMANISTA DOS NOSSOS SENTIMENTOS E EMOÇÕES. ASSIM, CONSEGUIMOS “SENTIR” EM NÓS UM RENASCER DE MAIS UNIÃO E SOLIDARIEDADE UNIVERSAL.

Notas:
1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.A citação do entendimento do neurobiologista Wolf Singer, foi reproduzida do seu livro “Cérebro e Meditação / Diálogo entre o Budismo e a Neurociência”, elaborado com a participação do monge budista Matthieu Ricard, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, com tradução de Fernando Santos, que recomendo a leitura.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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