(026) Sentindo a “Sensibilidade da Alma”, da atriz Marjorie Estiano

Este espaço virtual foi criado em julho de 2014. Quando alcançou quarenta postagens, houve a invasão de um hacker e várias foram perdidas. Uma delas foi sobre a “sensibilidade da alma” da consagrada atriz, cantora, e compositora, Marjorie Estiano.
Esse fato me causou profunda tristeza, em face da impossibilidade de conseguir a sua recuperação literal. É a prova de que, em nossas vidas, todos os momentos são únicos. No entanto, como podemos vivenciar novas “emoções”, trago para vocês um pouco da “Sensibilidade da Alma” de Marjorie Estiano (mostrada na entrevista concedida ao jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura, da Livraria Cultura, publicada na edição n. 87, de outubro de 2014).

A entrevista foi realizada por causa do primeiro trabalho autoral de Marjorie, como compositora: – O “Oito”, seu terceiro álbum musical, contendo onze faixas, sendo oito de sua autoria.

Logo no início da entrevista, Marjorie falou da sua necessidade de afastar o excesso da “racionalidade”, para ouvir a sua “intuição”. Foi uma subjetiva manifestação da sua contagiante “sensibilidade da alma”.

Destaco da entrevista, o “pensar” dessa jovem de 32 anos de idade:

1. Gustavo. De que maneira o disco Oito pode ser considerado um novo começo na sua carreira musical?

Marjorie. (…) Considero um começo neste sentido assim: de onde vou parecer que estou aprendendo a andar, dando nome para algumas coisas. E tudo vai tomando forma, a música se transforma em concreto, em palpável, mas ela parte de um lugar muito etéreo; parte de uma ideia, de uma sensação, de uma intuição, e, na hora da composição, isso foi, para mim, um conflito intenso.

Comentário. O seu jeito de ser, sempre valorando a “intuição”, ficou manifesto durante a entrevista. Marjorie mostra, com naturalidade, a dimensão subjetiva da sua “singularidade existencial”, do seu “sentir” as projeções interiores da “sensibilidade da alma”. A sua resposta comprova a intensidade da materialização do seu “sentir”, ao considerar a essência da idealização da “música” como sendo o resultado da elaboração sensória de um processo de “busca interior”. Compara o “mostrar” (para si mesmo) o fluir de inspiração das suas “composições”, ao “significado existencial” (também para si mesmo), do seu “aprender andar”.
Para mim, todas as manifestações artística são emergentes de “buscas interiores”, de acordo com as “preferências interiores” do seu criador. A respeito, explico na minha abordagem sobre a “Idealização Emocional da Arte”, o seguinte (pendente de publicação):

– No desenvolvimento criativo, idealização é a fase de projeção seletiva de estados de sensibilidade que estimulam a exteriorização artística. A natureza da faculdade de idealização, é emocional. No artista, suas preferências interiores serão moldadas para o exterior, através da variação da sensibilidade de cada um. As manifestações de arte são resultantes de uma qualidade natural latente do ser humano, que será estimulada pela inspiração para, depois, ser aprimorada através da utilização de técnicas específicas que também definem e apuram o estilo do artista. A criação da arte é, portanto, um dom que a qualquer momento poderá ser descoberto, na essência dos diversos estados de sensibilidades interiores. A idealização emocional da arte decorre de uma fonte de inspiração objetiva (elementos do mundo físico, vivenciados pelo artista) ou dos estímulos subjetivos de uma inspiração inteiramente dissociada da realidade exterior (como acontece, por exemplo, na pintura abstrata, em que as cores e formas possuem valores intrínsecos nos domínios da irrealidade).

Obs. Em seguida, Marjorie deixou claro que não teve a preocupação de padronizar o seu trabalho como compositora. Explicou:

Marjorie. Parti de um princípio de tentar usar a intuição mesmo, até por falta de experiência, de metodologia (…). Era muito em torno do que “a gente tá querendo, sentindo, ou pretendendo” no momento da criação.

2. Gustavo. E a música é um processo mais solitário que a interpretação?

Marjorie. É um processo autoral, mas é também muito em conjunto com o produtor, por exemplo, como os outros compositores. É um processo de criação quase coletiva, eu diria, dentro do resultado. (…) Acho até melhor que seja assim, é um processo de desprendimento. Este álbum me serve de exercício também de deixar fluir, de respeitar o fluxo, que eu acho que é o mais importante para mim neste momento de descoberta.

Comentário. Marjorie, com a sua “sensibilidade interior”, não impõe a prevalência do seu “sentir”. Sabe identificar a necessidade de respeitar o fluxo de um trabalho conjunto de criação.

3. Gustavo. No que a arte te completa?

Marjorie. Ela me realiza, me dá prazer, de maneira aberta, ampla.(…) É um processo em que você se relaciona muito com o humano, com seus sentimentos, com suas emoções, e isso faz você se entender um pouco melhor, entender o outro. É um processo terapêutico, isso que me dá mais prazer dentro de um trabalho artístico.

4. Gustavo. E no que a arte não te completa?

Marjorie. Na verdade não sei se tem algum lugar que complete, que exerça essa função de completar. Acho que a gente vive nesse lugar inacabado, nessa falta. A gente vive nessa falta de alguma coisa, é isso, como falei, que movimenta a gente a viajar, a descobrir, a ler… É a busca por alguma coisa que está faltando. Alguma coisa nova, que te motive, que te movimente.

Comentário. Só há interação emocional do “sentir a arte”, quando o ser humano com ela se envolve, com a sua “sensibilidade da alma”. O “belo” da arte, seja qual for a sua forma de manifestação, compõe todos os “estados de alma” que, sensoriamente, se completam em harmonização com as “preferências” e “necessidades” do nosso “existir”.

5. Gustavo. De alguma forma, dói compor?

Marjorie. Dói, até fisicamente. Eu sofri muito. Como te falei, tenho esses dois lados, o racional e o intuitivo, que são muito fortes e opostos na relação entre eles. Então, fico tentando racionalizar o que é intuitivo. E é uma briga ali comigo mesma, é um desgaste. Às vezes, tenho a impressão de que é quando relaxo, quando deixo a intuição falar que acontece alguma coisa. E daqui a pouco vem o lado racional e começa: “Então é por aqui, vamos fazer isso…”. Mas, cada vez que dou mais atenção à minha intuição, eu tenho tido não só prazer, mas o resultado é mais claro, mais redondo. Preciso muito dar mais espaço para a minha intuição.

6. Gustavo. Você tem medo de ouvi-lá?

Marjorie. Não, não é medo. É uma sensação de que… É a falta da metodologia na intuição.

7. Gustavo. É a falta do racional (risos).

Marjorie. É a falta do racional na intuição (risos). Porque a intuição não é matemática, não é uma coisa que você faz um e um e dará dois. Não tem controle, não tem certo e errado. O lado racional queria que tivesse uma faculdade de intuição, com matéria, prova, para saber como vocẽ está indo (risos).

8. Gustavo. E você se entrega com densidade.

Marjorie. (…) Eu me entrego completamente. Sempre fui muito comprometida com tudo o que faço. (…) Não tenho medo dessa sensibilidade. Sempre procuro me preparar minimamente para deixar a intuição e a sensibilidade falarem. A gente lida sempre com a sensibilidade à flor da pele.

Comentário. Com essa sequência de respostas sobre o seu “pensar”, sobre o seu “sentir”, Marjorie prova que o “racional” não combina com o “emocional”. Já refleti muito sobre essa separação que existe entre o nosso “pensar” (enraizado no “racional”) e o nosso “sentir emocional”. Acredito que o “emocional” pode, subjetivamente, influenciar e modelar a “racionalidade”. Isto porque, nesta existência, desde o início do nosso “ciclo existencial”, o “embrião” do “sentir emocional”, no meu entender, já está latente em nós. A “intuição” é o “chamado” da nossa “sensibilidade interior”, que transcende as imposições da “razão”.

A entrevista terminou com esta resposta de Marjorie, reveladora do seu contagiante “sentir” com a “sensibilidade da alma”:

9. Gustavo. Nesse fluxo, você tenta se traduzir, todo dia se olhar e tentar compreender o caminho que está tomando, que é você, pra onde está indo…?

Marjorie. Meu exercício tem sido o contrário; justamente não falar, não pensar, não me cobrar… Porque sou muito esse lugar de olhar quem sou, para onde estou indo, se está certo ou se está errado. Então, o que estou fazendo agora é me exercitar em deixar as coisas acontecerem comigo. Me ouvir, mais do que falar.

Termino esta mensagem, desejando que ela favoreça o “escutar interior”, do nosso “sentir” com a “sensibilidade da alma”.

Entrevista completa:
http://www.revistadacultura.com.br/entrevistas/conversa/14-10-07/De_processos_e_profundidades.aspx

Vejam o envolvimento, pela música, de duas “sensibilidades da alma”. Nesse encontro, é possível perceber, com a sua simplicidade, o encanto da “luminosidade interior” de Marjorie Estiano:

https://youtube.com/watch?v=z_7PKd4ASRE

Notas:
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3. Este post sobre a entrevista de Marjorie Estiano, foi autorizado pelo jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura, publicação da Livraria Cultura.
4. Do youtube, vídeo Gilberto Gil e Marjorie Estiano – Chiclete com Banana (Cidade do Samba).

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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