(036) Sentindo a “Sensibilidade da Alma”, da cantora de fado Carminho.

O dom de “cantar” é uma das mais belas manifestações da “sensibilidade da alma”.

Quem canta com emoção, parece transceder a sua própria “realidade existencial”, além de nos envolver com a “magia contagiante” do seu “cantar”.

Quando escutamos o “BELO” do “cantar com sentimento”, ouvimos esse “cantar” em harmonia com o “escutar” da nossa “sensibilidade interior”. Não ouvimos, apenas, a “sonoridade vocal” de quem está cantando. Também sentimos a sensação de estarmos vivendo o “estado emocional” de “Sentir-se bem” com o “escutar” de um “cantar com “emoção”. Foi o que aprendi, com esta explicação do neurocientista António Damásio, Diretor do Instituto do Cérebro e da Criatividade, da Universidade do Sul da Califórnia:

– Quando olhamos para o mar, não vemos apenas o azul do mar, mas sentimos que estamos a viver esse momento de percepção.

Todo “cantar com sentimento” revela a beleza interior da “alma” de quem está cantando. A beleza assim definida pelo escritor francês Victor Hugo, na sua obra “Les Misérables”:

– Só há um espetáculo mais grandioso que o oceano: o céu;
só há um espetáculo mais grandioso que o céu: o interior da alma.

A motivação desta mensagem foi a entrevista da cantora Carminho, concedida ao jornalista Lucas Rolsen da Revista da Cultura, da Livraria Cultura (publicada na Edição 93, de abril de 2015) e as palavas dessa fadista portuguesa, ao se apresentar no “Jornal das 8”, em Lisboa:

A cantora Carminho está no Brasil para divulgar o seu álbum “Canto”, inicialmente no espaço Vivo Rio, na capital fluminense, e depois no HSBC Brasil, em São Paulo, quando vai dividir o palco com o nosso Milton Nascimento.

Destaco da excelente entrevista, estas partes:

1. Lucas. No novo álbum, Canto, fica mais uma vez nítido o papel de suas andanças pelo mundo em sua definição como fadista. Como você imprime essa incessante busca por sua identidade?

Carminho. Aprendemos o mundo com as experiências que estamos tendo: a felicidade que tive em viagens e encontros. Mas o fado é mais do que uma experiência. Sempre fui muito curiosa e acho que por trás de todo crescimento está também um fado mais original. A partir disso, continuo essa busca em mim e no que quero dar às pessoas, traduzindo experiências.

Comentário. É “sabedoria” reconhecer que “aprendemos o mundo” com as nossas experiências de vida. Carminho faz suas “buscas” em si mesma (um “mergulho interior” na sua “sensibilidade da alma”), para encontrar e projetar para todos nós o seu “sentir” com a”sensibilidade da alma”. Com a magia envolvente da arte de cantar, esse “mergulho interior” reflete, explica, e consolida a “missão existencial” de quem veio ao mundo para “cantar” e para colorir “vida” com as “matizes” do “BELO” da essência das suas emoções e dos seus sentimentos.

2. Lucas. Você tem 30 anos, assume um gênero musical que vem se renovando, mas é também muito tradicional. Em que medida cantar o fado exige uma maturidade prévia do artísta?

Carminho. É a vida das pessoas, suas emoções e seus sentimentos, então há que se cantar com verdade e honestidade. (…) fui adquirindo novos repertórios, poemas, que faziam parte da minha realidade emocional. Assim, percebi que devemos procurar as palavras que conseguimos interpretar.

Comentário. Começo este comentário sem conter a emoção que sinto, com a “inteligência” e a “sensibilidade da alma” dessa jovem cantora. Na entrevista, todas as suas frases são ensinamentos de sabedoria de “viver” para “cantar”, respeitando esse “cantar” que, nas suas palavras – há de ser com “verdade” e com “honestidade”. Carminha finaliza a sua resposta, novamente com o seu “mergulho interior” para, nessas “buscas”, encontrar as palavras certas para a sua interpretação. Isso não é só “responsabilidade profissional”. É manifestação da consciente necessidade de permanentemente querer “aprimorar” o seu “cantar”.

3.Lucas. E qual é o fado presente em Canto, mas que recebe a influência brasileira e também flamenca?

Carminho. Esse é um disco português. Todo ele é português. O desafio a que me propus foi convidar esses artistas com as suas características únicas e que têm a ver com o meu percurso. Por exemplo, o tema que os espanhóis Javier Limón e o António Serrano tocam é português, um poema de Fernando Pessoa. (…) Assim como o tema do Caetano Veloso, inédito e que me causa grande orgulho, pois é a primeira parceria com seu filho Tom. Era inicialmente um samba, uma bossa nova. Então, eu e o Diogo Clemente o transformamos em um fado, mantendo a poesia maravilhosa e também a harmonia e a melodia tão característica dos compositores. Quando mostrei a canção a eles, disseram: “Você transformou isso em um fado!”. E perguntei: “Isso é um elogio ou não?” (risos). Fiquei muito lisongeada porque era essa a vontade, trazê-los sem que os desrespeitasse, mas me mantendo fiel.

Comentário. Carminho manifesta, com facilidade, o seu respeito ao trabalho de quem, como ela, tem a missão de transmitir o seu “sentir” através da música. Estou ansioso para ouvir a canção de Caetano Veloso (em parceria com o seu filho Tom), na versão de fado. Esse trasmutar de estilo musical (sem modificar o sentido original da obra), prova que a comunicação da música é universal.

4. Lucas. Como o fado renova sua motivação hoje para estar no palco?

Carminho. Todos os dias são diferentes. Não consigo interpretar um fado da mesma maneira, igualzinho, de um dia para outro. A energia sendo diferente, também me inspira de outra maneira. Claro que as canções são as mesmas, os arranjos os mesmos, mas há um nível de improvisação no fado que nos leva a estar sempre renovados. O que me inspira é a vida das pessoas, o dia a dia, tentar desacomodar a alma para que ela possa sempre dar frutos. E por isso é um trabalho exigente, às vezes, duro. Uma tentativa de nunca maquinizar o processo de cantar e a minha alma, para que ela possa ser sempre genuína com as pessoas, como se estivesse a cantar pela primeira vez. É uma pergunta difícil de responder, essa é a minha vocação, interpretar, e não penso muito quando canto. Se penso, já não estou a dar o meu melhor. É esquecendo de mim que penso ser desprendida e simplesmente cantar.

Comentário. Todos os dias são diferentes. São únicos. Não serão, para quem não sente a sua “senbilidade da alma”. As “projeções sensórias” das vivências das nossas “realidades existenciais” são, em nós, moldadas pelo nosso “sentir” e não, simplesmente, em razão do nosso “existir”. Somos nós que damos “vida” a tudo, com a singularidade das “percepções interiores” das nossas “realidades emocionais”. Carminho assegura que não consegue “interpretar um fado da mesma maneira”. Lembrei da mensagem postada, neste espaço virtual, sobre a “sensibilidade da alma” da nossa consagrada atriz Clarice Niskier, que há oito anos interpreta, a cada dia e de modo diferente, a peça “A Alma imoral”. Carminho diz que não pensa muito quando canta. Lembrei de Fernando Pessoa: – “Pensar é estar doente dos olhos”. No meu entender, os olhos que deixaram de mostrar os encantos de dimensões interiores da nossa “sensibilidade da alma”.

5.Lucas. E o fado te leva a lugares mais profundos, não?

Carminho. O fado não é triste, é profundo. Tanto na tristeza quanto na alegria, vivo com intensidade as emoções que um ser humano vive no seu dia. É uma tradição das histórias da nossas vidas e, realmente, o português é um povo mais melancólico. (…) Na vida, é importante viver cada momento com intensidade. A felicidade é o momento e não algo que se possa atingir com uma meta. Precisamos assumir com verdade aquilo que vamos vivendo e que a nossa vida, nosso corpo e nossa alma não são monótonos, não estão sempre no mesmo estado. Eles dão espaço para vivermos aquilo que temos para viver.

Comentário. Muitos consideram triste o “cantar” do fado. Carminho não concorda. Para ela, o fado não é triste, mas “profundo” para quem canta e para quem ouve com emoção. A sua “sensibilidade” é manifesta tanto no cantar e, também, como foi nesta entrevista ao expressar seus sentimentos. Esta foi a minha percepção ao comentar as suas respostas, pois ninguém consegue transmitir, com a mesma intensidade emocional, o “sentir” de outra pessoa.

Notas:
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3.Vídeos do youtube: Carminho Pedras da Minha Rua – Alma; e Milton Nascimento canta fado pela primeira vez – dueto com Carminho
4.A reprodução da entrevista da fadista portuguesa Carminho, foi autorizada pelo jornalista Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura, da Livraria Cultura.
5.Entrevista completa:
http://www.revistadacultura.com.br/revistadacultura/detalhe/15-04-08/Esquecendo_de_si_para_simplesmente_cantar.aspx

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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