(209) Sentindo as “imagens interiores” da nossa jornada de ser humano, nesta dimensão de vida.

O que sempre me impulsiona nesta caminhada virtual de “autoconhecimento”, tem sido a determinação de querer ajudar na conscientização dos benefícios que todos nós podemos alcançar através do “conhecimento de si mesmo”. Acredito que esse objetivo amplia a nossa “percepção existencial” de que, nesta dimensão de vida, temos necessidades de crescimentos em todos os sentidos (entenda-se, como “missão” de aprimoramento e de evolução espiritual). Nós não estamos aqui “por acaso” e nem para “viver por viver” sem a idealização de propósitos de conquistas e realizações. Tudo que necessitamos já está “semeado” dentro de nós (mensagem 191).

Gosto desta bela e significativa explicação do médico indiano Deepak Chopra (mensagem 188):

– CADA PESSOA É UM SER INFINITO, NÃO LIMITADO PELO TEMPO E ESPAÇO.

O ser humano, em sintonia de quietude interior, precisa se harmonizar com a essência espiritual da sua “Sensibilidade da Alma”. Precisa aprender a olhar para “dentro de si mesmo”. É com esse “olhar” que será possível “sentir” o esplendor transcendente da nossa “individualidade espiritual”. É com esse “olhar” que nós vamos poder contemplar a maravilha do fluir existencial pela nossa jornada de ser humano (mensagem 195).

Esta mensagem me foi intuída pela leitura da análise do romance “O Momento Mágico”, de Márcio Leite, lançado no Brasil pela Editora Record. Ela foi escrita pelo médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, para a sua coluna “Divã literário” e foi publicada na Edição 124 da Revista PSIQUE, da Editora Escala. Dela, destaco o seguinte:

– Conta a história de Adalberto, um homem de 88 anos, portador de uma doença degenerativa, que se dá conta de que sua vida chegou ao fim. Sabe que aproveitou o máximo de sua vida e quer morrer, mas a morte não vem e ele vive a angústia de não terminar. Vive isolado frente ao mar. Observa, por horas, os frequentadores da praia. Em seu universo interior vive como uma montagem de um filme. Assiste a esse filme com os olhos dos arrependimentos de tudo que considera como “os seus erros”. Adalberto recebe atenção de suas duas filhas, mas rejeita-as em franca deterioração da afetividade para com elas. Perdeu o seu filho Renato, afogado no mar da Bahia.
Sob o enfoque da psicologia analítica do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung, explica o doutor Carlos São Paulo:

– O tempo de VIVER (ou de MORRER). Para a física esse é um conceito que se modifica de acordo com o espaço que o contém, e que este se curva onde existe matéria. E que matéria faz tudo isso quando se trata de um idoso sentindo seu corpo em dissolução?

Em seguida, esclarece:

1. Nada sabemos sobre a vida psíquica depois da morte física. Essa mesma ciência nos fala de átomos que compõem nossos corpos, e que durante a vida encontram-se em constante troca com o cosmo até que, na dissolução desses corpos, esses mesmos átomos serão depois encontrados em todas as coisas.

2. A psique continua a elaborar seus símbolos, mas Adalberto não consegue aproveitar essa preparação, e seu ego se compensa com a culpa e a vontade de transcender por meio da morte física. Com isso vai criando dificuldades para aceitar os cuidados de suas filhas como se elas quisessem mantê-lo em sofrimento.

3. Depois de velho, os olhos não permitem que se enxergue bem o mundo lá fora. Na contrapartida, os “olhos internos”, envolvidos com os eventos, podem nos fazer ver com mais nitidez o mundo interior. A evolução esperada é que possamos olhar para os eventos que passaram em nossas vidas de forma mais amadurecida do que na época em que ocorreram. Assim, as vistas ruins fariam o idoso enxergar o mundo de forma melhor. Adalberto não conseguiu fazer assim e procura em cada jovem que frequenta a praia o seu passado sem conseguir elaborá-lo simbolicamente.

4. Quando olhamos crianças e jovens, revisitamos nosso passado.

5. Em nossas vidas certamente houve muitos eventos em que enfrentaríamos os conflitos com mais sabedoria. Dessa forma, nos processos analíticos, podemos revisitar esse passado com segurança e participar desse processo de ressignificação de vivências para transformá-lo. Aí, o espaço-tempo se relaciona com a matéria sofrendo suas flexões.

6. A Física moderna, quando fala do espaço-tempo, nos lembra as histórias fantásticas contadas pelos nossos ancestrais em volta do fogo. Ela busca verdades e desmancha outras que não fazem mais sentido. Assim ocorre em nossas vidas. Enquanto os físicos enxergam o universo com seus eventos interagindo continuamente uns com os outros, também nossa psique traz os acontecimentos que resultaram de nossas interações com outras pessoas. (…)

7. O que vivemos é o que experimentamos. O universo ou a psique não têm coisas, mas eventos. Nascemos, crescemos e envelhecemos. Isso é o tempo. O tempo medido em dias é imutável. Tem uma única direção, mas tem outro tempo que não segue essa lei. Tanto faz ir para frente como para trás, é o tempo do inconsciente. E o espaço? Como é essa relação?

8. O dia do evento em que o filho de Adalberto morre marca um tempo e espaço na psique que se atualiza no cotidiano. Pensar no que se foi é trazermos sua presença para perto de nós. Isso condensa o passado e o presente deixando o ego alheio e aceitando uma realidade ininteligível. Essa relação pode ser transformada simbolicamente, por meio da análise, para acolher outras possibilidades.

9. Adalberto vivia de arrependimentos. Viveu uma cultura religiosa em que a noção de culpa e arrependimentos relacionava o prazer com coisas erradas e se forçava a respeitar o outro por medo da punição divina. Numa cultura mais evoluída, respeita-se o outro por entender que fazendo assim também se é respeitado. É como saber lidar com o outro de si mesmo.

Termino esta mensagem, com esta conclusão do doutor Carlos São Paulo sobre o mencionado romance de Márcio Leite:

– Talvez sejamos a única espécie que tem consciência de sua finitude. Nascemos como se fôssemos um filho único que cresce e aprende que o mundo não gira somente ao nosso redor, como pensávamos. Descobrimos que somos importantes para aqueles que nos amam e apenas ínfimos fragmentos de eventos de um grande universo. Treinamos para aprender o desapego para que não se viva como se já tivéssemos morrido.

Assim são nossas vidas, levadas pela leveza infinita do renascer na imortalidade da alma!

Notas:

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3. Vídeo youtube (“Bernward Koch – Under Trees”).

Muita paz e harmonização interior.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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