(335) Sentindo como devemos entender as necessidades de mudanças em nossas vidas (Parte IV da 332).

Sinto que meu barco
encontrou algo grande
lá no fundo.
E nada acontece!
Nada…
Silêncio… Ondas…
Nada acontece?
Ou tudo aconteceu
e estamos tranquilos no novo.

“Oceanos”. Que bela inspiração do poeta espanhol Juan Ramón Jiménes (1881-1958), laureado com o Nobel de literatura de 1956. Assim também podem ser as “mudanças” em nossas vidas, surpreendendo-nos com a mesma sensação das águas no barco de Juan. Umas são “mudanças” conhecidas, esperadas; outras não, com suas transformações ofuscadas ou despercebidas porque nem sempre conseguimos identificar seus significados. Como acredito, as práticas de “autoconhecimento” também podem favorecer uma espécie de “revelação sensorial” das nossas subjetivas necessidades de “mudanças”. É quando, com mais possibilidades, sentimos aquela “sensação de incompletude” e conhecemos alguns dos nossos desejos ainda não realizados. Para ser alcançado esse nosso interior despertar de necessidades de “mudanças”, temos que estar em sintonia de conexão com a nossa própria subjetividade. Com o nosso “eu interno”, expressão muito usada por Carl Jung (1875-1961).

Em nossas vidas tudo é cíclico, tem um sentido de ser, se manifesta no seu tempo, mas nem sempre encontramos a nossa convincente explicação de causalidades. Assim são os chamados “mistérios da vida”, que desafiam os nossos desejos de escolhas. Todos nós precisamos projetar a nossa mente em buscas de significados para os nossos “sentimentos” e “emoções”. Precisamos conhecer, sentir e, principalmente, simbolizar as nossas realidades. No seu interessante artigo, “O sintoma como símbolo”, explica a psicóloga Lígia Diniz, que possui pós-graduação em Psicologia Junguiana (Revista PSIQUE, edição 151, julho de 2018, da Editora Escala):

– Há dentro de nós um movimento para que sejamos nós mesmos, para que obtenhamos o máximo possível de nossa força vital, para que vivamos a nossa inteireza, e que o processo terapêutico através da arte poderá dinamizar essa tendência. Os símbolos são parte do processo de autoconhecimento e transformação, vão onde as palavras não pisam, alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Conectam a essência de cada ser, atuando diretamente no eixo ego-Self, isto é, a conexão entre o complexo que comanda a consciência – o ego – e a psique como totalidade – o Self, apontando o rumo que a energia psíquica segue.

COMPLEMENTO:

Existem contemplações em nossas vivências exteriores, que são representadas por significativas “percepções” dos nossos estados de envolvimentos emocionais. Vejam este exemplo de “sentir” com a sensibilidade da alma, assim explicado pelo neurocientista António Damásio:

– QUANDO OLHAMOS PARA O MAR, NÃO VEMOS APENAS O AZUL DO MAR, SENTIMOS QUE ESTAMOS A VIVER ESSE MOMENTO DE PERCEPÇÃO.

Damásio explica no seu livro “A estranha ordem das coisas – As origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela Editora Companhia das letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– É fascinante que um simples truque – a subjetividade, que poderíamos também chamar de truque da propriedade – possa transformar o esforço da sua mente para produzir imagens em material significativo e orientador, ou que, pelo simples fato de estar ausente, faça todo o empreendimento da mente parecer inútil. É evidente que, se quisermos entender como a consciência é feita, precisamos entender como é feita a subjetividade.
A subjetividade não é obviamente uma coisa, mas um processo, que depende de dois ingredientes cruciais: a criação de uma perspectiva para as imagens mentais e o acompanhamento das imagens por sentimentos. (…) Uma das principais contribuições para a construção da subjetividade é dada pela operação dos portais sensitivos, nos quais encontramos os órgãos responsáveis por gerar imagens do mundo externo. Os primeiros estágios de qualquer percepção sensorial dependem de um portal sensitivo.

Para você pensar:

O psiquiatra e psicoterapeuta alemão Fritz Perls (1893-1970) defendia que as nossas sensações de realidades são definidas pelas nossas próprias experiências, porque nós somos responsáveis por elas podendo, inclusive, modificá-las. As nossas realidades são criadas por nós, pela percepção das nossas experiências de vida.

Termino esta mensagem com este conhecido “sentir” de Perls:

– – Seja como você é. De maneira que possa ver quem és. Quem és e como és. Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes. Arrisque um pouco, se puderes. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano pra você surja dentro de você.

No nosso dia, desejo para todos os pais novos horizontes de “Sabedoria de Viver”, pelas águas do oceano do poeta Juan.

Continua no nosso próximo encontro. Espero você.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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