(054) Sentindo a “Sensibilidade da Alma”, da atriz Denise Fraga.

Todos nós estamos compondo a nossa história de vida. Ela é o espelho que reflete a trajetória da nossa caminhada existencial. Com imagens de “perdas”, de “ganhos”, do que “somos”, do que “sonhamos ser”, do nosso “pensar” e de todo o nosso “viver”, provam que a vida é um fluente processo de sucessivas descobertas.

Existem pessoas que além da sua “história de vida”, também fazem “histórias”. Neste espaço virtual, a “História das Artes Cênicas” no Brasil, está sendo contada por mensagens que já mostraram a “Sensibilidade da Alma” de Domingos Oliveira, Clarice Niskier, Marjorie Estiano, Maria Paula, Betty Lago, e Fernanda Montenegro recitando Simone de Beauvoir. Nesta, vamos conhecer fragmentos da “Sensibilidade da Alma” da atriz Denise Fraga.

Em recente encontro com o jornalista Gustavo Ranieri (Editor-chefe da Revista da Cultura, publicação da Livraria Cultura), Denise falou da peça Galileu Galilei, do dramaturgo alemão Bertold Brecht, que está sendo encenada com a sua participação, no Teatro Tuca, em São Paulo (fonte: Edição n. 96, de julho de 2015):

1.Logo no início da conversa, Denise disse o que admira no “pensar” de Brecht:

Denise. As ideias dele são muito complementares. Ele levanta sempre a questão de se a ética resiste à fome, de até onde a gente consegue ser bom em um universo capitalista, em que todo mundo quer passar a perna no outro. E neste nosso momento somos levados a pensar em como manter os nossos ideais em dia, como não morrer em ideal nesse mundo onde cada vez mais o que vale é o rentável. (…) Fico muito feliz de conseguir pegar pela mão gente que nem sabe quem foi Brecht e foi tocada pelos ideais dele.

Comentário. Denise é uma atriz completa. Não se limita à interpretação do texto. Ela consegue identificar e traduzir, com a sua inteligência e “sensibilidade interior”, o “pensamento” e o “sentir” do autor da peça, independente da sua nacionalidade. Essa capacidade inata engrandece a dramaturgia, porque transfere para o palco a sintonia que sempre deve existir entre a “criação” e a “representação”.

2. Sobre a mudança de comportamento social provocada pelo uso de celular, argumentou:

Denise. O grau de atenção das pessoas mudou (…), parece que com ele a nossa atenção ficou fragmentada. (…) Com as mídias sociais, eu leio menos livros. Embora você leia mais linhas por dia, acaba não mergulhando em nada, tem menos estados sublimes. Um celular é uma janela tão incrível. E outro dia, sem sentido metafórico algum, abri a janela do meu quarto e pensei em como é bom ter o prazer de abrir uma janela, ver a luz entrar. Então, se a gente não cuidar, vai se fechando para esses pequenos prazeres sensoriais.

Comentário. Depois de comparar o celular a “uma janela incrível”, a sua “Sensibilidade da Alma” ficou manifesta ao se referir à abertura da janela do seu quarto. Foi quando ficou nítida a profundidade de um “significado subjetivo” surgido do seu interior. Ela conseguiu transmitir a sensação de poder experimentar, de poder valorar o simples ato de abrir a janela do seu quarto. Só que esse “abrir” foi dimensionado pela essência da sua “sensibilidade interior”. Como se a “janela do quarto” fosse a “janela da sua vida”, A janela que recebe os raios do Sol, que recebe a claridade das noites enluarada, mas também reflete, de dentro para fora, a contagiante “luminosidade interior” de Denise Fraga.

3.Sobre a atuação do ator, Denise explica:

Denise. O ator é aquele que faz um texto viver, se apodera das palavras de outro para tomar carona nessa voz.(…) Quando se faz uma peça boa, energicamente é uma coisa de muito poder.

Comentário. Todos nós interagimos com as nossas realidades. Para Denise, a “interação emocional” do ator deve transcender a sua capacidade de decorar o texto. Ele precisa “sentir” e se envolver com o texto. É o que torna sublime o poder da magia do teatro. Com este entendimento, Denise complementa:

– Sem dúvida nenhuma, para mim, há camadas Galileu, Brecht e Denise que se sobrepõem. Quero dizer o que Brechet diz, que por sua vez quer dizer o que Galileu diz. Nós todos queremos dizer a mesma coisa, em épocas diferentes, mas todos estamos querendo dizer.

Um momento da conversa com Gustavo Ranieri que merece ser registrado nesta mensagem, foi esta consciente declaração de responsabilidade profissional de Denise Fraga:

– Sempre estive em cena com uma proposta real do teatro em que acreditava.

Em seguida, justificou com este lampejo de memória:

– Outro dia, encontrei um papelzinho em uma agenda na casa da minha mãe com coisas que escrevi quando eu tinha 22 anos e fique nesta de ler ali como era atual a minha angústia, parecida com a que tenho hoje, de querer não compactuar com o que não acredito. Sempre tive grande interesse no ser humano, ainda mais depois de ter filho. E a gente tem dilemas desde o início, e vai se questionando, se ampliando.

O encontro foi encerrado com esta manifestação da “Sensibilidade da Alma” de Denise:

– Adoro falar no final da peça ‘Galileu Galilei’. (…) Não preciso chamar as pessoas para nada que está fora delas, mas para o que está dentro e que talvez elas estejam deixando morrer.

Termino esta mensagem pedindo para você colorir os “palcos da vida”, com as matizes da sua “Sensibilidade da Alma”.

Notas:
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3.Citação da entrevista autorizada por Gustavo Ranieri, Editor-chefe da Revista da Cultura.
4.Conferir a entrevista: //www.revistadacultura.com.br/revistadacultura/detalhe/15-07-10/Passagem_para_o_sublime.aspx
5.Vídeo do youtube: “Galileu Galilei de Denise Fraga”.

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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