“TIRE SUAS PRÓPRIAS CONCLUSÕES, MAS ENTENDA QUE ESSAS SÃO TEMPORÁRIAS, APESAR DE PARECEREM DEFINITIVAS. POR ISSO, NÃO SE ESTENDA NOS JULGAMENTOS QUE FIZER INTIMAMENTE DAS PESSOAS NUM DIA COMO HOJE. É TEMPORÁRIO”
São palavras do astrólogo Oscar Quiroga, para um dos signos do seu horóscopo publicado na edição de 25 de dezembro do ano passado, do jornal Correio Braziliense. Foram escolhidas para esta mensagem, porque o modo como recebemos ou reagimos aos estímulos sensórios das nossas interações com a “transitoriedade”, também são valiosas fontes subjetivas de “autoconhecimento” que merecem a nossa atenção. Nesse sentido, a criação de “imagens simbólicas” elaboradas com a sensação de “transitoriedade” (sejam de que natureza forem), são experiências subjetivas que através dos nossos sistemas cognitivos de “percepção” podem produzir significativos efeitos de interpretação interativa (inclusive nas nossas relações interpessoais). Isto porque, como esclarece a médica colombiana Julieta Guevara, com especialização em Psiquiatria pela UFRJ, “no ser humano, a capacidade de simbolização permite atribuir um valor emocional a várias situações, coisas ou vivências”. Por sua vez, ao ser perguntado sobre como o cérebro humano gera a consciência e articula a concepção de mundo de cada pessoa, respondeu o professor de neurociência, Vasco Manuel Martins do Amaral:
– O cérebro mantém suas áreas em prontidão e apoio entre si, interagindo pelas necessidades ou solicitações externas e internas. (…) Quanto ao que se refere à consciência e à mente, nos seres humanos, podemos afirmar que o cérebro aprende em áreas diferentes com os estímulos do ambiente, que aspectos culturais e bases genéticas podem potencializar ou restringir habilidades.
Todos nós devemos vivenciar os resultados da integração da nossa “conexão interior” com os eventos manifestos de “transitoriedades”, como sendo estímulos sensórios de “expansão de consciência”. O ser humano está inserido em dimensões de ciclos permanentes de mudanças. Somos espectadores das nossas realidades. Nelas, as nossas percepções estão sujeitas ao modo como interagimos em todos os sentidos do nosso “viver” (inclusive no espiritual). Esclarece o psicólogo junguiano Thiago Domingues, concordando com o entendimento de Fritjof Capra, no seu livro “Sabedoria Incomum”, que em 1999 foi lançado no Brasil pela Editora Cultrix:
– Ao mudarmos a percepção sobre uma realidade, ela também muda, pois “o que enxergamos depende do modo como olhamos; as configurações da matéria refletem as da nossa Mente” (Capra).
Ora, se antecedendo uma determinada contemplação nós podemos direcionar um sentido para a percepção das nossas realidades, entendo que também, de modo consciente, podemos preestabelecer (para nós mesmos) o alcance de um desejado significado para as nossas futuras experiências de “transitoriedades”, mas desde que estejam condicionadas às nossas prévias escolhas de aceitação. Com esmerada clareza de estilo, explica a doutora Daniela Benzecry no seu belo livro “Sentimentos, valores e espiritualidade”, lançado no Brasil pela Editora VOZES:
– A visão de mundo de um indivíduo pode estar relacionada a diversas crenças pessoais, aspectos culturais e do espírito da época, mas é sempre subjetiva e individual. (…) A visão de mundo individual é importante a cada instante, a cada escolha – pequenas e grandes -, ela nos guia e é revelada pelo sentimento, o responsável pela valoração.
Segundo Freud, nos vemos o mundo orientados pelo “inconsciente” e não pela racionalidade cartesiana. As imagens do inconsciente são “atemporais”, porque pertencem à nossa realidade psíquica interna. Assim podemos reviver os acontecimentos do nosso passado, que permanecem memorizados com a mesma intensidade de valoração de significados.
Termino esta mensagem, recomendando a leitura do primoroso texto de Freud “Sobre a Transitoriedade”, que resumo nestes termos:
Freud conta uma caminhada feita no verão, acompanhado de dois amigos. O mais jovem era um poeta e admirava a beleza do cenário, que para ele deixaria de existir com a chegada do inverno. Sem a beleza natural que estavam vivenciando, tudo perderia o seu valor de encanto pela “transitoriedade”. Ao contrário, Freud entendia ser impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas sensações e do mundo externo, realmente venha a se desfazer em nada. De uma maneira ou de outra, a beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição. No texto, ele afirma que não deixou de discutir o ponto de vista do seu amigo poeta, de que a “transitoriedade” do que é belo implica na perda de seu valor. Segundo Freud,ao contrário, implica em um aumento porque “O VALOR DA TRANSITORIEDADE É O VALOR DA ESCASSEZ NO TEMPO”. Assim, era incompreensível que o pensamento sobre a “transitoriedade” da beleza interferisse na alegria que dela derivamos. Quanto à beleza da Natureza, cada vez que é destruída pelo inverno, retorna no ano seguinte, do modo que, em relação à duração de nossas vidas, ela pode de fato ser considerada eterna. Uma flor que dura apenas uma noite, nem por isso nos parece menos bela. Para Freud, o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para a nossa própria vida emocional; não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta. Freud conclui o seu belo e expressivo texto fazendo considerações sobre “o luto pela perda de algo que amamos ou admiramos”.
Notas:
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2.As citações dos entendimentos do professor de neurociência Vasco Manuel Martins do Amaral e do psicólogo Thiago Domingues, foram reproduzidas respectivamente das edições 147 e 154 da Revista PSIQUE, da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.