(228) Sentindo o espelhar interior das imagens sensórias do deficiente visual (Parte V).

“A IMAGINAÇÃO É A VISÃO DA ALMA”
Foram as palavras do escritor francês Joseph Joubert, sobre a visão vinda do nosso “sentir interior”.

Terminei a mensagem anterior, com esta pergunta: “Como o deficiente visual de nascença interpreta as suas “imagens sensórias”, recebidas de uma “percepção interior”, por ele ainda não conhecida?” Respondo: Uma importante descoberta das neurociências, é a comprovação de que os nossos processos cognitivos e emocionais estão vinculados à áreas distintas e específicas do cérebro. É o caso da redução ou perda total da visão, superada por uma aguçada compensação sensória de outro(s) sentido(s). Aliás, referindo-se ao enriquecimento interior alcançado pela meditação, esclarece o monge budista Matthieu Ricard no seu livro “Cérebro e Meditação”, em coautoria com o neurobiologista Wolf Singer, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, com tradução de Fernando Santos:

– O objetivo do esforço da meditação é desenvolver um enriquecimento interior, não uma aptidão física. Sei que o desenvolvimento das funções do cérebro decorre da exposição ao mundo exterior. Nos indivíduos que nascem cegos, as áreas cerebrais ligadas à visão não irão se desenvolver, sendo “colonizadas pelas funções auditivas, que são extremamente úteis para eles. (…) Nessas circunstâncias, o enriquecimento exterior é quase nulo, mas o enriquecimento interior é máximo.

Certo é que o cérebro se adapta às nossas necessidades de interações sensitivas e ambientais. Em recente entrevista publicada na Edição 147 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala, esclarece o professor de neurociência Vasco Manuel Martins do Amaral:

– O cérebro mantém suas áreas em prontidão e apoio entre si, interagindo pelas necessidades ou solicitações externas ou internas. As principais envolvem os sentidos, os sentimentos, a cognição e a formação da mente do sujeito, levando-se em consideração os neurotransmissores envolvidos no estado de vigília e os sistemas de consciência, ou seja, dependendo da solicitação, áreas mais baixas, como o bulbo e a ponte, sistema límbico e funções especializadas no neocórtex se intercalam ou se conjugam. Quanto ao que se refere à consciência e à mente, nos seres humanos, podemos afirmar que o cérebro aprende em áreas diferentes com os estímulos do ambiente, que aspectos culturais e bases genéticas podem potencializar ou restringir habilidades.

Complemento com estas interessantes informações da doutora Daniela Benzecry, médica clínica, homeopata e analista junguiana, contida no seu livro “Sentimento, valores e espiritualidade”, lançado no Brasil pela Editora VOZES:

– A função sensação é a função responsável por dizer o que algo é, ela “proporciona a percepção de um estímulo físico” (JUNG, OC, vol 6, § 889) e relaciona-se, segundo Jung, tanto aos estímulos externos, passando pelos órgãos dos sentidos (da visão, do olfato, do tato, do paladar, da audição), quanto aos estímulos internos que vêm do corpo e de seus órgãos. (…) A função pensamento é a função responsável por interpretar o que é percebido, ou seja, “exprime o que uma coisa é, dá-lhe nome e conceitua-a, pois pensar é perceber e julgar” (JUNG, OC, vol. 18/1, § 22); o pensamento ordena os conteúdos da consciência em forma de conceitos.

Antecipo que na próxima mensagem desta série, será mostrado o que podemos aprender com os deficientes visuais que praticam Yoga (técnica contemplativa de “autoconhecimento”).

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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