(311) Sentindo a subjetividade das nossas percepções sensoriais de “solidão” (Parte III).

“O QUE IMPORTA É CONHECER A SUA REAÇÃO, NÃO APENAS O QUE ACONTECE COM VOCÊ.”
Esta é a síntese de um precioso ensinamento do filósofo estoico Epiteto, também conhecido por Epicteto. Esse seu “sentir”, no meu entender, deve ser considerado nas avaliações de todos os nossos sentimentos, com atenção especial para os de “solidão”. Mas que não seja para encontrar respostas satisfatórias, porque, em nós, a “solidão” se manifesta por um subjetivo processo interior de “percepção” dos nossos estados de necessidades de completudes de todas as naturezas. Compondo, assim, um mosaico de variantes sensoriais que nos levam para o mesmo ponto de chegada do nosso “sentir” interior, chamado “SOLIDÃO”. Em “The Enchiridion”, também aprendi com Epiteto que não somos tocados apenas pelas coisas em si, pelos eventos do nosso viver, mas, e muito mais mesmo, pelos modos como tudo percebemos. Essa tem sido a sabedoria das minhas caminhadas de “autoconhecimento” quando, em muitas delas, procuro significados para as descobertas interiores do meu “sentir”.

– O QUE ACONTECE NOS NOSSOS ESTADOS INTERIORES DE “SOLIDÃO”?

Explica o psicólogo Marco Callegaro, que também é mestre em Neurociências e Comportamento, no seu artigo “O cérebro Solitário”, publicado na edição n. 111, Ano IX, da Revista PSIQUE, da Editora Escala:

– A solidão não é, apenas, a ausência de companhia; é uma percepção de isolamento que tem enormes implicações para a saúde, levando a depressão, dependência química ou transtornos alimentares. A percepção de que estamos conectados aos outros é algo vital para um ser humano, uma vez que, em nosso passado evolutivo, estar segregado do grupo significava menos acesso a fontes de alimento e a chances de acasalamento, e ainda levava a uma grande vulnerabilidade aos predadores.
Neurocientistas descobriram que a percepção de exclusão usa a mesma rede da dor física no cérebro. Ou seja, a solidão dói, literalmente. O importante neurotransmissor serotonina é reduzido quando a pessoa sente solidão, dificultando o controle de pensamentos, emoções e impulsos. Isso diminui as funções executivas e aumenta a dificuldade de inibir impulsos de prazer imediato, como comer em excesso, beber ou usar drogas.
Nosso cérebro social faz comparações e pode interpretar que se está isolado e em uma posição inferior na hierarquia social, mesmo que, de fato, a pessoa esteja muito bem posicionada.
O cérebro emocional e social não faz distinções finas e incorpora a percepção de isolamento, sem considerar que estamos vendo uma montagem de melhores momentos. Paradoxalmente, uma rede social pode contribuir para a solidão, ao induzir uma percepção exagerada da socialização dos outros e um sentimento de estar à parte da festa da vida.

Complemento com esta informação da psicóloga Luiza Elena L. Ribeiro do Valle, especialista em aprendizagem, reproduzida da sua abordagem “Boa memória em qualquer idade”, publicada na edição n. 112, Ano IX, da mesma revista acima:

– O cérebro é uma estrutura flexível, que se desenvolve conforme o nível de solicitação. Entretanto, a solicitação do ambiente encontra limites no próprio indivíduo, que atuará conforme seus interesses e/ou necessidades e possibilidades que estão dispostas ao seu redor. É preciso integrar informações e experiências para interferir na capacidade do sistema nervoso central de modificar algumas propriedades morfológicas e funcionais em respostas aos estímulos. Esse fenômeno define a plasticidade cerebral. É quando se aprende.

Muitas outras perguntas poderiam ser feitas neste nosso encontro. Principalmente agora, nesta pandemia, por causa dos efeitos psicológicos que podem ser em nós causados pelo necessário isolamento social e pelas restrições de permanências em determinados locais públicos. No passado, em setembro de 2019, muito antes desta triste e preocupante realidade que estamos vivenciando, a psicóloga Maria Amélia Penido já explicava em entrevista citada na mensagem anterior:

– Somos seres sociais e quanto mais isolados mais ativamos nosso sistema de autopreservação, olhando o mundo como mais ameaçador. Algumas habilidades são importantes para um comportamento social, como a empatia. Para ser empático preciso ter a capacidade de flexibilidade cognitiva, tomada de perspectiva, escuta sem julgamento. Nunca ser confrontado com informações diferentes das que já tenho pode potencializar uma inflexibilidade de pensamento e rigidez, tornando mais difícil me colocar no lugar de um outro que pensa e sente diferente de mim. Para conviver com outros preciso estar aberto e flexível. Logo, tudo que me deixa mais rígido e fechado acaba dificultando a conexão.

Sentir “solidão” é um sentimento. Não uma sensação. Ensina Daniela Benzecry, no seu belo livro “Sentimentos, valores e espiritualidade – Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual, da Editora VOZES (resumido, com minhas palavras):

– Jung definiu as funções psicológicas, classificando-as como sendo irracionais e racionais. As irracionais (sensação e intuição), ocorrem diretamente na consciência sem passar pela reflexão. As racionais (pensamento e sentimento), demandam a reflexão. A função sensação é responsável por dizer para nós que “algo é”, que “algo existe”. A função sentimento determina o “valor de algo” para a pessoa, interpreta “se algo é bom ou não” para a pessoa.

Para esta mensagem, acrescento:

O “conhecimento consciente” dos nossos sentimentos (sejam de que natureza forem) é muito importante para as nossas práticas de “autoconhecimento”. No seu livro, esclarece a doutora Daniela (resumido, com minhas palavras):
1. Nós somos responsáveis pelos nossos sentimentos, porque dependem da nossa visão de mundo.
2. Os sentimentos podem e devem ser por nós analisados, principalmente porque dizem respeito de nós mesmos.
3. Eles são imagens de “vivências conscientes” do que se passa no interior da pessoa. Cada um de nós expressa do seu jeito, das formas mais diversas.

A importância do “conhecimento consciente” dos nossos sentimentos é manifesta principalmente para, se for o caso, por meio dos estímulos emocionais recebidos das nossas realidades (interiores e exteriores), serem favorecidas as desejadas buscas de significados para as nossas subjetivas percepções sensoriais de “solidão”. No seu livro “O mistério da consciência – do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, lançado no Brasil pela Editora Companhia das Letras com tradução de Laura Teixeira Motta, em síntese conclusiva esclarece o neurocientista António Damásio (recomendo a leitura):

– EU SUMA, A CONSCIÊNCIA TEM DE ESTAR PRESENTE PARA QUE OS SENTIMENTOS INFLUENCIEM O INDIVÍDUO QUE OS TEM, ALÉM DO AQUI E AGORA IMEDIATO.

Espero você no nosso encontro, desejando que tenha gostado desta mensagem.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual.

Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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