(364) Sentindo em nossas buscas de “autoconhecimento”, a importância do “inconsciente”. (Parte Final)

“O inconsciente é o círculo maior que abrange em si o círculo menor da consciência; tudo o que é consciente tem um estágio prévio inconsciente, enquanto o inconsciente pode permanecer nesse estágio e ainda assim reclamar o valor pleno de uma produção psíquica.”

Que maravilha de explicação! São palavras de Sigmund Freud (1856-1939). Com a sua genialidade, ele preconizou o principal embasamento da teoria psicanalítica, consolidado no sentido de que, acessando o “inconsciente” dos seus pacientes, conseguiria aflorar para a consciência muitas das suas memórias esquecidas e, assim, aliviaria seus sintomas. A respeito, vejam este importante entendimento do médico e psicoterapeuta junguiano, Carlos São Paulo, que entendo ser valioso para os profissionais das áreas de saúde:

– O inconsciente pode fazer com que cada momento de nossa vida influencie todos os outros, para frente e para trás. Assim, a intenção no futuro poderá modificar as probabilidades de uma enfermidade. Um simples diagnóstico pode influenciar o curso da doença. Dessa forma, a psicoterapia é um método que nos faz voltar no tempo para alterar o nosso próprio futuro.

Com os ensinamentos de Freud e de Jung, estou plenamente convencido de que, subjetivamente, o nosso “inconsciente” orienta e nos ajuda modelar o modo como, sensorialmente, todos nós “sentimos” as percepções do nosso mundo. Ensina o doutor Carlos São Paulo, diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia, acima citado:

– Possuímos um eu para nos relacionarmos com o mundo em volta e, também, com aquele outro mundo interno, criado a partir do que vai se organizando com as nossas experiências, misturadas às respostas coordenadas pela nossa constituição biológica.
O mundo externo pode nos envolver em eventos que não atendem às nossas expectativas e nos conduzem a um estado de insatisfação muitas vezes desproporcional ao acontecimento. Essa insatisfação pode nós trazer um sofrimento maior do que deveria, caso não houvesse despertado experiências antigas, situadas em memórias emocionais que, embora sejam acontecimentos diferentes, guardam entre si alguma semelhança.

Complementa o doutor Carlos São Paulo:

– O mundo moderno disponibiliza processos psicoterapêuticos de “insights” que propiciam a possibilidade de compreendermos quando o sofrimento é neurótico (assim chamado aquele que altera a realidade por reagirmos de forma desproporcional aos acontecimentos) e nos ajuda a estabelecer essa relação com o eu mais profundo para percebermos que aquela infelicidade experimentada também aponta para oportunidades disfarçadas e nos lança a um nível de consciência mais acima.

Um dos importantes interesses das neurociências, são os nossos processos conscientes e inconscientes. Selecionei estas observações:

Para o neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Plank de Pesquisa do Cérebro, “uma infinidade de fatores, ao mesmo tempo conscientes e inconscientes, determina quais são, entre os inúmeros sinais que percebemos, aqueles que chegam a nossa consciência”. (…) Os processamentos conscientes exigem tempo. Portanto, seu mecanismo está perfeitamente adaptado aos momentos em que a pessoa não se encontra submetida a uma restrição temporal, quando ela não tem de levar em conta um número elevado de variáveis, e em que estas últimas são definidas com suficiente precisão para serem objeto de uma análise racional. (…) Parece que os mecanismos inconscientes dependem mais de processamentos paralelos, que permitem que inúmeras assembléias de neurônios, cada uma representando uma solução específica, rivalizem entre si. Depois, um algoritmo “vitorioso” consegue estabilizar a assembléia neuronal na configuração mais bem adaptada ao contexto presente. O resultado desses processos inconscientes se manifesta seja por meio de respostas comportamentais imediatas, seja por meio do que chamamos de “sentimento instintivo” ou “convicção íntima”.

Por sua vez, esclarece o neurologista António Damásio no seu livro, “Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos”, publicação da Editora Companhia das Letras, adaptado para o português do Brasil por Laura Teixeira Motta:

– Os sentimentos envolvem a percepção de um certo estado do corpo e a percepção de um certo estado de espírito. Temos imagens não só de um estado do corpo mas também, em paralelo, imagens de uma certa forma de pensar. (..) Sentir a tristeza não diz respeito apenas ao mal-estar. Diz respeito também a um modo ineficiente de pensar, concentrado em torno de um número limitado de ideias de perda.

Certamente todos nós devemos ter registros pretéritos de significados de muitas das nossas esquecidas experiências de vida que, como acredito, podem ser despertas em nossas buscas de “autoconhecimento”. Foi este meu entendimento que me motivou escrever esta série de mensagens sobre o nosso “inconsciente. Termino, com esta conhecida conclusão de Freud:

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS É O REAL CAMINHO AO CONHECIMENTO DAS ATIVIDADES INCONSCIENTES DA MENTE.

Pensem nisso.

Notas:
1. A reprodução parcial ou total, por qualquer forma, meio ou processo eletrônico dependerá de prévia e
expressa autorização, com indicação dos créditos e links, para os efeitos da Lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2. As citações do médico e psiquiatra junguiano Carlos São Paulo foram reproduzidas das edições 135, p. 67 e 167, p. 33, da Revista PSIQUE, da Editora Escala. Do neurobiologista Wolf Singer, do seu livro Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência, da Editora ALAÚDE, pgs. 107 e 108.
2.Havendo nesta mensagem qualquer alegação ou citação que mereça ser melhor avaliada ou que seja contrária aos interesses dos seus autores, mande a sua solicitação para edsonbsb@uol.com.br .

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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