(339) Sentindo a subjetividade nos significados das nossas emoções.

OS ESTADOS EMOTIVOS QUE EXPERIMENTAMOS SÃO DETERMINADOS PELAS AVALIAÇÕES QUE FAZEMOS.”

São palavras de Elisabeth Pacherie, pesquisadora do Instituto Jean Nicod, em Paris, no seu artigo “As Engrenagens do Sentimento”, publicado em “O desafio das Emoções”, n. 5, da Biblioteca Mente Cérebro, da Editora Duetto.

Todos nós sabemos quando estamos emocionados, mas nem sempre conseguimos explicar para nós mesmos. Significar as percepções do nosso “sentir emocional” são importantes experiências de “autoconhecimento”, porque espelham a essência subjetiva da nossa “interioridade existencial”. Essas buscas devem ser feitas silenciosamente e com naturalidade. Com elas, podemos favorecer condições para interpretar insights de significados da linguagem simbólica de muitos dos nossos “sentimentos” e “emoções”. Mas como ensina Jung, não podemos esquecer que “toda interpretação é uma hipótese e o inconsciente sabe mais do que a nossa compreensão consciente” (Collected Works, 8, par. 568). Complemento com esta explicação do neurocientista António Damásio, no seu livro “O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si”, publicação da Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta:

– A consciência tem de estar presente para que os sentimentos influenciem o indivíduo que os tem, além do aqui agora imediato. (…) Sentir uma emoção é uma coisa simples. Consiste em ter imagens mentais originadas em padrões neurais representativos das mudanças no corpo e no cérebro que compõem uma emoção. Não precisamos ter consciência do indutor de uma emoção, com frequência não temos e somos incapazes de controlar intencionalmente as emoções.

Também merecem atenção os “estímulos emocionais” que recebemos com os nossos envolvimentos de realidades. Explica o médico e psicoterapeuta junguiano, Carlos São Paulo, fundador do Instituto Junguiano da Bahia:

– Possuímos um “eu” para nos relacionar com o mundo em volta e, também, com aquele outro mundo interno, criado a partir do que vai se organizando com nossas experiências, misturadas às respostas coordenadas pela nossa constituição biológica. O mundo externo pode nos envolver em eventos que não atendem às nossas expectativas e nos conduzem a um estado de insatisfação muitas vezes desproporcional ao acontecimento. Essa insatisfação pode nos trazer um sofrimento maior do que deveria, caso não houvesse despertado experiências antigas, situadas em memórias emocionais que, embora sejam acontecimentos diferentes, guardam entre si semelhança.

Pergunto para você:

COMO ENTENDER OS NOSSOS “SENTIMENTOS EMOCIONAIS”?

Em qualquer resposta para esta pergunta, implicitamente sempre será transmitida a essência deste precioso ensinamento do filósofo estoico Epicteto, divulgado na sua obra The Enchiridion, por mim considerado um dos fundamentos históricos de todas as terapias cognitivas – “O que importa é conhecer a sua reação, o modo como você percebe, e não apenas o que acontece com você.”

No seu artigo sobre a “Cognição Humana”, a Bióloga Marta Relvas, com doutorado e mestrado em Psicanálise, explica que o nosso cérebro funciona processando as informações recebidas por intermédio dos órgãos dos sentidos. Depois de processar e elaborar os significados dessas informações, emite uma resposta motora ou, conforme o caso, memoriza-a para, talvez em outro momento, utilizá-la e transmitir a resposta correspondente.

Em seguida acrescenta:

– Antes de embarcar em uma viagem ao entendimento dessa evolução humana, deve-se conhecer melhor o conceito, que, segundo a Enciclopédia Britânica, “é a habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em nós mesmos, ou mudando o ambiente, ou achando um novo ambiente”. Essa é uma definição inteligente, porque incorpora aprendizado (uma mudança, em nós mesmos), manufatura e abrigo (mudança do ambiente) e migração (encontrando um novo ambiente). De modo a nos adaptar efetivamente, o cérebro deve usar todas estas funções. Portanto, “inteligência não é um processo mental único, mas sim uma combinação de muitos processos mentais dirigidos à adaptação efetiva do ambiente”. (coloquei em negrito).

Aproxima-se a chegada de um novo ano em nossas vidas. Todos nós, com o nosso “sentir interior”, compomos as imagens simbólicas das representações que fazemos das “realidades exteriores”. Nessa subjetiva dinâmica de interação “existencial” e “emocional”, já está provado pelas neurociências que as nossas “emoções” podem gerar “sentimentos”, e não apenas as realidades em si. Sentindo-me emocionado neste meu agora, termino a última mensagem deste ano e desejo para todos um “Feliz 2023“.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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