(392) Sentindo a subjetiva amplitude existencial e espiritual da nossa percepção. (Parte II).

Percepção, lembranças e vontade são reflexos da mente. É nela que os sentidos se transformam em sensações provocando sentimentos e vice-versa.

São palavras do filósofo de Roma, Marcus Tullius Cicero (106-43 a.C.), que muito influenciou a filosofia ocidental. Uma primorosa síntese sobre a importância da “percepção humana”. Por sua vez, no título desta série de mensagens, propositalmente aparece a expressão “amplitude existencial e espiritual” porque, para tudo, usamos a nossa “precepção”, seja de modo consciente ou inconsciente. Esta introdução me foi inspirada com a leitura deste “sentir” do gênio Leonardo da Vinci (1452-1519), que encontrei no inicio do prefácio do livro de Fayga Ostrower sobre a sensibilidade do nosso intelecto. Vejam que bela e significativa analogia de Leonardo da Vinci:

– Assim como uma pedra jogada na água torna-se centro e causa de muitos círculos, e o som se difundi no ar em círculos crescentes, assim também qualquer objeto que for colocado na atmosfera luminosa propaga-se em círculos e preenche os espaços em sua volta com infinitas imagens de sí, reaparecendo em todas e em cada uma de suas partes.

Vejam que essa construção de uma linguagem figurativa mostra-nos, por analogia, o que subjetivamente também acontece com a nossa “percepção” em todas as nossas relações interpessoais. Também, em nossas apreciações artísticas está muito presente. Em 1999 manifestei este entendimento, no meu texto sobre “A percepção da Arte”, que foi publicado na edição n.30 da Revista VENTURA, da Editora Ventura Cultural. Dele destaco (numerei):

1. O que se precisa entender é que toda obra de arte é a imagem que se percebe e não, necessariamente, uma imagem fixa e apenas representativa dos elementos da sua composição, ou a disposição dos diversos elementos de um trabalho artístico.

2. Toda obra de arte é sentimento, é emoção (do latim “emovere” – “o que se move”). É o sentimento, a emoção presente na essência da obra que “desencadeia o dinamismo criador do artista”, repercutindo no espectador “o movimento que provoca novas combinações significativas entre suas imagens internas”. Portanto, nós precisamos entender uma obra de arte através dos nossos sentidos e não como sendo o resultado de uma ideia de imagem pré-concebida do artista que a idealizou.

3. A visão da composição de qualquer objeto de arte poderá ser parcial ou total. O observador possui a capacidade psíquica de fracionar a abrangência da sua percepção visual. Assim, todos nós podemos nos deter apenas sobre determinado ângulo de uma escultura; sobre determinado elemento constitutivo de uma paisagem ou mesmo, em uma pintura abstrata, sobre determinada intensidade e presença de cores, manchas ou traços de retas. Esta interior preferência visual está diretamente relacionada com a essência da sensibilidade artística do observador de uma obra de arte. Por isso é que a visão da arte está muito ligada à Psicologia, existindo psicólogos que utilizam a arte como instrumento de investigação da personalidade (como ocorre, por exemplo, com o conhecido Teste do Borrão de Rorschach).

4. Quando apreciamos um quadro figurativo, contendo um prato com maçãs ao lado de uma jarra com flores, podemos receber interiormente uma predominância de estímulos inconscientes de preferencias sensitivas que podem direcionar a nossa atenção apenas para “parte” da composição dessa pintura (ou seja: poderemos visualizar, com maior interesse perceptivo, somente detalhes da jarra, das flores, ou do contorno das maçãs). Esta dinâmica de percepção visual da arte efetiva-se de modo inconsciente e emerge de estímulos inconscientes de preferências que variam de acordo com os nossos graus de sensibilidade artística. Isto porque ninguém, mediante um processo de conscientização prévia, aciona a sua atenção visual apenas para “parte” de um quadro figurativo, abstraindo, ao mesmo tempo, nesse mecanismo de conscientização prévia, os demais elementos da sua composição, como se fosse possível estabelecer um consciente comportamento prévio de observação, dizendo: “Eu vou apreciar aquele quadro, mas só vou ver as flores que estão na jarra.” Portanto, a percepção visual da imagem de um objeto de arte tem que ser assimilada de forma global, como sendo a visão de um “todo” harmônico.

Espero você no nosso próximo encontro, com a terceira parte da mensagem 391.

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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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