(338) Sentindo a nossa “realidade psíquica”, como fonte de autoconhecimento.

EXISTEM MOMENTOS NA VIDA DA GENTE, EM QUE AS PALAVRAS PERDEM O SENTIDO OU PARECEM INÚTEIS, E, POR MAIS QUE A GENTE PENSE NUMA FORMA DE EMPREGÁ-LAS ELAS PARECEM NÃO SERVIR. ENTÃO A GENTE NÃO DIZ, APENAS SENTE.

São palavras do criador da psicanálise, o neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Pergunto: Como devemos entender essa dificuldade no nosso modo de “transmitir” o que desejamos, seja pela fala ou pela escrita? São muitas as respostas para essa pergunta. Entendo que as origens desses “apagões” devem ser subjetivas experiências sensoriais que, em sua maioria, representam estímulos interiores de “necessidades de atenção”, recebidos do nosso inconsciente. Nesse sentido, ensina o psicólogo e professor Fernando Gonzáles Rey( (1949-2018) que, em todas as nossas ações, nós somos naturalmente influenciados por uma interação do simbólico com o emocional. Na comunicação pela escrita, por ser uma linguagem formal sujeita às regras gramaticais, nem sempre conseguimos nos expressar com facilidade.

Complemento com estas explicações da doutora Michele Müller, especialista em Neurociências e Neuropsicologia Educacional, no seu artigo sobre a “Construção Abstrata na Mente”, publicadas nas edições 161 e 162 da Revista PSIQUE, ano 2019, da Editora Escala (numerei):

1. A linguagem vai além do campo cognitivo. Ela auxilia na identificação de sensações e na construção da inteligência emocional.

2. A linguagem abstrata permite enxergarmos coisas que antes se encontravam em um ponto cego da percepção. Como se fossem lanternas da mente, as palavras expandem os limites do nosso mundo interno, como defendeu o filósofo alemão Wittgenstein. Um mundo que é inteiramente guiado pelas emoções e sentimentos – das grandes conquistas às piores decisões.

3. A linguagem cumpre um papel fundamental não apenas na comunicação, como na interpretação do ambiente e na identificação das próprias emoções, o que possibilita a formulação consciente de respostas mais apropriadas. Se, por um lado, a ampliação do vocabulário permite a ampliação da própria consciência e modifica a forma como as pessoas processam suas experiências no mundo, por outro são as próprias experiências que dão sentindo à palavra, em uma relação recíproca e interdependente.

Sobre o tema central desta mensagem, peço a sua atenção para este ensinamento da professora Ana Suy Sesarino Kuss, que é mestra em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica, com doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise, no seu artigo “A gente ama uma verdade”, publicada na edição 115 da Revista Humanitas, da Editora Escala:

– De acordo com Freud, a realidade que é determinante na vida humana é a realidade psíquica. Assim, na vida humana importa menos o que aconteceu e mais como nós interpretamos aquilo que aconteceu.

REGISTROS HISTÓRICOS:

1. Em 1895, no seu “Projeto para uma psicologia científica“, foi a primeira vez Freud se referiu a duas realidades: a externa e a do pensamento.

2. Somente na edição de 1909 da sua conhecida obra “A interpretação dos sonhos“, passou a conceber a “realidade psíquica” como sendo as realidades do inconsciente, das fantasias e a dos nossos desejos.

Com seu estilo didático, essencialmente detalhista, Freud esclarece na sua conhecida obra “A interpretação dos sonhos“, vol. V (1900-1901), p. 637, publicado no Brasil pela Editora Imago:

– É essencial abandonar a supervalorização da propriedade do estar consciente para que se torne possível formar uma opinião correta da origem do psíquico. Nas palavras de Lipps [1897, 146 e segs.], deve-se pressupor que o inconsciente é a base geral da vida psíquica. O inconsciente é a esfera mais ampla, que inclui em si a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem um estágio preliminar inconsciente, ao passo que aquilo que é inconsciente pode permanecer nesse estágio e, não obstante, reclamar que lhe seja atribuído o valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais íntima, ele nos é tão desconhecido quanto a realidade do mundo externo, e é tão incompletamente apresentado pelos dados da consciência quanto o é o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais.

RESUMINDO:

Toda a teoria psicanalítica está fundamentada no reconhecimento de que, em sua maioria, os processos psíquicos são inconscientes.

Termino esta mensagem convencido de que, sendo a Vida um fluente ciclo permanente de transformações, pela nossa trajetória existencial todos nós devemos priorizar a escuta do nosso sentir interior. A linguagem do inconsciente é simbólica. Nem sempre encontramos palavras para conhecer a essência dos seus significados.

Espero você no nosso próximo encontro.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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