“DA “JANELA DA VIDA” VEJO O PASSAR SIMBÓLICO DE UM TEMPO DE TRANSFORMAÇÕES, COM NUVENS COMPONDO NO CÉU DESENHOS IMAGINÁRIOS DE DUAS REALIDADES: UMA, MESCLADA PELOS SIGNIFICADOS SENSORIAIS DE PROJEÇÕES SUBJETIVAS DA NOSSA SINGULARIDADE EXISTENCIAL. NA OUTRA, COM DESENHOS EM SUAS NUVENS TAMBÉM ESPELHANDO AS INSISTENTES TENTATIVAS DE MUITOS QUE, “SEM VOLTAREM-SE PARA SI MESMOS”, FICAM PROCURANDO ENCONTRAR O QUE JÁ EXISTE DENTRO DELES, E DE TODOS NÓS, FORTALECIDO PELOS NOSSOS SENTIMENTOS HUMANISTAS DE SOLIDARIEDADE E DE VALORAÇÃO DAS NOSSAS VIDAS.”
São minhas palavras, que me foram intuídas logo depois da leitura desta explicação do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise literária da obra “A Morte de Ivan Ilich”, lançada no Brasil pela Editora 34. Uma novela de Liev Tolstói, publicada pela primeira vez em 1886, marcada pelo enfrentamento de uma doença e possível morte que em Ivan despertou profundas reflexões sobre o que teve validade em sua existência:
– Para a Psicologia Analítica, “alma” é um conceito que define o modo como o EU se relaciona com o mundo interior, enquanto “persona” determina o modo com que esse mesmo EU se relaciona com o mundo exterior. O homem, em seu desenvolvimento, constrói um mundo interior que fala a linguagem dos símbolos e, por meio deles, relaciona-se com a natureza que nos habita e às suas exigências. Como o mundo externo que compartilhamos faz-nos reféns da razão e nos impede de ouvir os “murmúrios” da natureza que nos torna singular, muitos acabam seguindo o ritmo frenético dos “gritos” produzidos nesse mundo e se conduzem como manadas interessadas em realizar seus desejos ambiciosos de chegar ao sucesso em detrimento da alma. Quando estamos tensionados entre as exigências de ser um indivíduo singular, imprevisível, adaptado a si mesmo para decidir seus caminhos de acordo com a sua essência, e a decisão de realizarmos nossos desejos ambiciosos, no silêncio da noite, o EU cede lugar aos sonhos. Ao sonharmos que estamos mergulhando em águas escuras e profundas nos assombramos. No entanto, gostamos quando voamos nesses sonhos. É o voo que compensa a sensação desconfortável do confronto. Essa é também uma luta entre se proteger com uma máscara que induz o outro a ter uma ideia falsa da nossa importância no mundo, enquanto, por outro lado, uma natureza tenta realizar a sua verdade e seguir o caminho para onde sua alma aponte.
Certo é que quando mudamos a percepção das nossas “realidades”, elas também mudam para nós. Doutor em Física Teórica pela Universidade de Viena, ensina o escritor Fritjof Capra no seu livro “Sabedoria Incomum: Conversas com pessoas notáveis”, lançado no Brasil pela Editora Cultrix:
– O QUE ENXERGAMOS DEPENDE DO MODO COMO OLHAMOS; TODAS AS CONFIGURAÇÕES DA MATÉRIA REFLETEM AS DA NOSSA MENTE.
Gosto deste “sentir” da Psicóloga Cláudia Maria França Pádua, na sua inteligente e esclarecedora abordagem “As Profundezas do indivíduo”, sobre a percepção de mundo de Jung, explicada pelos seus arquétipos:
– O arquétipo representa um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e também percepção, assumindo matizes variantes de acordo com a consciência individual na qual se manifesta. Os arquétipos de Jung, em sua teoria da psique, simbolizam as nossas motivações, encantamentos e valores intrínsecos com seus significados e personagens místicos, que se revelam em cada traço de personalidade, que residem no interior do nosso inconsciente coletivo. Esses arquétipos são expressos por símbolos oníricos, relacionados com as representações psíquicas, que se transformam em temas mitológicos. (…) Em nossa visão do mundo, devemos descobrir um ponto de vista, do qual seja possível encontrar um caminho que nos leve a perceber a real simbologia dos arquétipos do mestre Jung, onde nosso inconsciente guarda essas imagens seculares e as reproduz em nosso cotidiano com nossas simples atitudes e revelações de nosso caráter.
COMPLEMENTO:
Os nossos arquétipos se manifestam pelos seus significados simbólicos. Somos nós que podemos “construir” as realidades subjetivas do nosso “existir”. Também como acredito, os símbolos fazem parte do nosso processo de “autoconhecimento” e ajudam muito na ressignificação do nosso “viver”.
Termino, manifestando o meu entendimento de que para começar a preparar o individual e interior processo de criação do nosso futuro “pós-pandemia”, não podemos esquecer desta recomendação do sociólogo e filósofo Edgar Morin, feita em plena pandemia da Covid-19 na França (mensagem 295):
É PRECISO ESTAR ABERTO PARA O INCERTO, PARA O INESPERADO. É PRECISO SER SENSÍVEL AO FRACO, AO ACONTECIMENTO QUE NOS SURPREENDE.
Notas:
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2.As citações da análise literária do doutor Carlos São Paulo e a do artigo da psicóloga Cláudia Maria França Pádua, foram respectivamente reproduzidas da Edições 150 e 151 da Revista PSIQUE, da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.