(146) Sentindo o nosso “envolvimento terapêutico”, com a natureza.

No final do ano passado, fui intuído para dar uma nova perspectiva aos enfoques dos temas escolhidos para este espaço virtual. Antes, predominou a motivação sugestiva de práticas de “buscas interiores” de autoconhecimento, com a finalidade de ser alcançado o despertar da nossa “Sensibilidade da Alma”. Agora estou trazendo abordagens sobre as projeções sensórias do nosso “sentir interior”, nas interações com a “realidade exterior”. Iniciei essa nova caminhada com quatro mensagens que já foram postadas (as de número 141, 143, 144 e 145, relacionadas com a subjetividade dos nossos sentimentos de “Solidão”, de “Liberdade”, com o bem-estar-interior favorecido pela “Psicanálise”, com a nossa necessidade de “Afeto”.

Esta mensagem me foi inspirada principalmente para você que gosta de fazer caminhada por trilha, de apreciar o mar, o pôr do Sol, de tomar banho na cachoeira. É para quem gosta de se integrar com a da natureza.

Peço a sua atenção para esta afirmação feita na mensagem 115:

– Certo é que nós somos responsáveis pela nossa natureza mental e emocional. Nós somos o que sentimos. Mas essa responsabilidade também precisa estar em harmonia interior com a natureza. Para o budismo, a plenitude dessa nossa “interação existencial” é explicada pela “interdependência” de tudo que existe no Universo. Todos os estímulos que recebemos do “mundo exterior” são, dentro de nós, “imagens” elaboradas com as matizes da “essência transcendente” da nossa “Sensibilidade da Alma”. Pertencem a nós, de acordo com a “modelagem sensória” do nosso “sentir interior”.

Pergunto:

– Como devemos experienciar tudo que existe na natureza, para, com a “Sensibilidade da Alma”, sentir a nossa “interação existencial” de “interdependência”, explicada pelo budismo?

Entendo que não basta simplesmente “olhar”. Devemos, sim, nos “tornar unos” com o que estamos contemplando, para nos envolver em estados de “harmonização interior” com a natureza. Isto porque, no Universo, toda manifestação de existência é uma só, possuindo o mesmo significado de “transformação” e de, como acredito, de evolução da sua essência Superior de origem “transcendente” e “espiritual”.

O que motivou esta mensagem foi a entrevista do especialista em “ecopsicologia”, Marco Aurélio Bilibio, de Brasília, concedida à Revista Bons Fluidos (Edição n. 208, de julho de 2016, lançada no Brasil pela Editora Caras), em publicação assinada pela jornalista Sibele Oliveira.

Resumidamente, destaco dessa entrevista o seguinte:

1. Sobre como surgiu a ecopsicologia.

Marco Aurélio. Surgiu com o objetivo de levar a ecologia para a psicologia e a psicologia para a ecologia. O historiador Theodore Roszak (…) ampliou, então, o conceito de Jung de inconsciente coletivo (conjunto de sentimentos, pensamentos e memórias compartilhadas por toda a humanidade), e criou o conceito de inconsciente ecológico, que seriam os registros que trazemos da evolução da vida no planeta para a nossa psiquê. Essa camada da consciência se expressaria como uma sensibilidade para entender, ler e seguir a maneira como a natureza faz as coisas. Roszak buscou uma sensibilização da psicologia para essa dimensão da relação do ser humano-natureza, que ele percebia que ficava fora do pensamento psicológico dominante. E identificou o que a falta desse contato com o mundo natural acaba causando em nós.

2. Sobre o que se perde com o afastamento entre homem e verde.

Marco Aurélio. Esse distanciamento do mundo natural acaba gerando um modo de funcionar focado demais no intelecto. Esse afastamento corta a conexão com a nossa sensorialidade, nos deixa mais ansiosos, estressados, e, como num ciclo vicioso, a gente vai perdendo a capacidade de observação de como a natureza trabalha – seus ritmos, tempos, superação. Acabamos criando uma lógica própria, desconectada da real. Nesse choque, em primeiro lugar quem perde é a natureza, mas no longo prazo somos nós. (…) Os ecossistemas estão presentes em nós, no nosso DNA. Então, quando desonramos a vida pela destruição dos ecossistemas, praticamos um crime contra nós mesmos. Ocorre um empobrecimento psíquico e da vida toda.

2. Sobre a dificuldade de perceber o quanto tudo isso é indissociciável.

Marco Aurélio. Há muita gente que vive concebendo seu bem-estar sem considerar a natureza, e ponto. Mas, quando a pessoa tem a experiência da reconexão, abre-se uma possibilidade extremamente enriquecedora, harmoniosa, de se sentir inteiro. Essas pessoas se sentem profundamente recompensadas. E tende a ser algo que elas não esquecem mais.

3. Sobre a possibilidade dessa reconexão com a natureza trazer um novo sentido para a vida.

Marco Aurélio. (…) a experiência da natureza preenche espaços vazios. Se a pessoa fica um tempo suficiente em contato com o ecossistema em equilíbrio, o primeiro efeito é de desestressamento. Se ela dá tempo suficiente para essa experiência, logo as coisas que são essenciais e secundárias vão ficando muito claras. (…) a experiência com a natureza frequentemente se converte em uma experiência espiritual. O mundo natural facilita essa experiência. As coisas ficam mais claras sobre nós, sobre a nossa vida. Tudo vai se reconfigurando, se ressignificando.

4. Sobre o cuidado na escolha do ambiente externo.

Marco Aurélio. A privacidade é importante e o ambiente não pode ser dispersivo. (…) A ecopsicologia usa o mundo natural como instrumento terapêutico. (…) A pessoa pode reconhecer processos psíquicos dela em uma planta, árvore, pedra, em um animal. Ela se vê retratada nos seres ou nos fenômenos da natureza. E isso pode ser útil no processo.

5. Sobre o que esperar de um paciente que optou pela ecopsicologia.

Marco Aurélio. Da prática da ecopsicoterapia, espera-se que a pessoa descubra-se parte da teia da vida, vivenciando os efeitos terapêuticos dessa identidade ampliada.(…) E espera-se, claro, maior contato com árvores, florestas, mar, cachoeiras, jardins. Porque tudo isso provoca efeitos comprovadamente antidepressivos e ansiolíticos. Quando uma pessoa fica tempo suficiente em contato com a natureza, e esse tempo varia para cada um, vem um estado de reequilíbrio e centramento. (…) A mata pode oferecer a oportunidade para a pessoa entrar num silêncio profundo, focar na sensorialidade, observar e descobrir o que nos atrai. Quando algo nos atrai no mundo natural, geralmente tem algo a ser descoberto sobre nós ali. Pode ser algo simples como o prazer de respirar fundo.

6. Sobre o que sugerir para que quem não faz ecopsicoterapia, também usufrua melhor desse reencontro com o verde.

Marco Aurélio. Sugiro que você chegue perto de um ramo com folhas e, ao inspirar, tome consciência de que está recebendo de outro ser o que é necessário para a vida. Quando expirar, faça-o com a consciência de que está devolvendo a vida para esse outro ser. Receber com gratidão quando inspirar e devolver com amor quando expirar. Essa experiência torna a respiração um exemplo da nossa conexão profunda com todos os seres. Qualquer espaço verde já provoca esse efeito, mas é preciso silenciar a cabeça. E deixar que os sentidos nos movam, respeitando as atrações naturais e descobrindo para onde elas nos levam.

Termino esta mensagem comparando a revolução causada pela ecopsicologia, com a dos pintores impressionistas que levaram o cavalete para o ar livre, para melhor sentir as cores contagiantes do “BELO” da natureza.

Notas:

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3. Vídeo youtube (“Maravilhas da natureza onde o homem não tocou”).

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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