(308) Sentindo o poder de “construir” os mundos das percepções do nosso existir.

“É NA BUSCA DA COMPLETUDE QUE CONHECEMOS COISAS SIMPLES QUE MOSTRAM A BELEZA DO EXISTIR. SER COMPLETO É ULTRAPASSAR NOSSO PRÓPRIO LIMITE HUMANO E NÃO DEIXAR ESPAÇO PARA VIVER. A FALTA QUE FAZ É A VOLTAGEM NECESSÁRIA PARA FLUIR A ENERGIA QUE MANTÉM A VIDA.”
São palavras do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise literária da obra infantil “A Parte que Falta”, escrita por Shel Silverstein, publicada no Brasil pela Editora Companhia das Letras. Por sua vez, sobre o livro “Authenticgames: vivendo uma Vida Autêntica”, do escritor Marco Túlio, da Editora Cultural, ele nos apresenta esta interessante analogia:

– Somos a ponte entre a percepção do mundo em nosso entorno – o mundo da luz – e o da percepção inconsciente – o mundo das trevas. Como resultado temos a imagem do mundo em que vivemos, o qual nos orienta na adaptação da nossa realidade. O mundo da luz nos deixa alheios ao que acontece na escuridão da alma, mas é na combinação dessas duas condições que nasce o “espírito do tempo”.

Em seguida, complementa:

– O filósofo Hegel difundiu zeitgeist como o “espírito do tempo”. Trata-se da alma de uma época que se expressa no clima intelectual e cultural do mundo. As incertezas, a rapidez da busca e o excesso de informações do mundo atual fazem parte do “espírito do tempo”. Muitos pertenceram a um mundo agora considerado obsoleto, ou seja, adquiriram experiências que não se aplicam mais aos filhos.

Há muito acredito que todos nós temos condições, podemos, e somos responsáveis pela construção dos nossos mundos. Do “interior”, que se manifesta pela linguagem simbólica das nossas percepções sensoriais, mostrando-nos em todos os sentidos a “essência” dos significados das nossas necessidades de completudes existenciais. Do “exterior”, através das buscas de realizações dos nossos desejos de alcances de satisfações em todos os nossos relacionamentos de conquistas. O que não podemos é esquecer deste precioso ensinamento da doutora Daniela Benzecry, que encontrei no seu belo livro “Sentimentos, valores e espiritualidade – Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual”, publicado pela Editora VOZES:

– Embora costumemos ver no mundo externo a causa para o que sentimos, o mundo externo não é a causa em si, funcionando mais como uma oportunidade dos sentimentos surgirem, pois o sentimento é uma função de relação. É necessário haver a interação do mundo interno com o mundo externo ou com um conteúdo interno para que o sentimento ocorra. (…) Desse modo, a causa dos sentimentos estaria mais relacionada a nós mesmos do que à realidade externa. A realidade externa funciona como a tela em que o mundo interno é projetado por meio da emoção deflagrada no encontro com o mundo externo, e a vivência consciente daquela emoção produziria o sentimento.

Conclui a doutora Daniela, com a sua clareza de estilo:

– Entrando em contato com os nossos sentimentos e escutando-os, no sentido de observar o que eles comunicam sobre nós mesmos, podemos descobrir com base em quais valores nos conduzimos e perceber a visão de mundo no qual eles se apoiam. E se desejarmos conquistar o bem-estar a partir de dentro, não haverá outro caminho que não seja uma transformação íntima do ser – a qual vem acompanhada de uma mudança da visão de mundo -, já que é o mundo interno que os sentimentos refletem.

Estou plenamente convencido de que qualquer prática de interiorização através de um silencioso “voltar-se para si mesmos” (procurando conhecer ou elaborar significados para os nossos sentimentos e emoções), ajuda-nos construir a nossa “individualidade” existencial; ajuda-nos construir o nosso “mundo externo” de interações em todos os sentidos do nosso “viver”. Isto porque, como ensina a doutora Daniela Benzecry no seu livro acima citado, a “função sentimento” determina o valor de algo para a pessoa, interfere nas nossas escolhas, ensejando-nos a nossa aceitação ou rejeição.

Por sua vez, afirma António Damásio no seu mais recente livro “A estranha ordem das coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, lançado no Brasil pela Editora Companhia da Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta (recomendo, como leitura obrigatória):

– Em circunstâncias comuns, os sentimentos comunicam à mente, sem o uso de palavras, se a direção do processo da vida é boa ou má, em qualquer momento, no respectivo corpo. Ao fazerem isso, eles naturalmente qualificam o processo da vida como conducente ou não ao bem-estar e à prosperidade.

Construir para ressignificar as realidades dos nossos mundos interno e externo, favorece o conhecimentos das nossas necessidades de experiências de vida (como acredito, inclusive de natureza espiritual).

Termino esta mensagem, com este “sentir” da psicóloga Cláudia Maria França Pádua, transmitido no seu artigo “As profundezas do indivíduo”:

– A forma com que agimos é determinada pela percepção peculiar que temos do mundo, ou seja, como nosso cérebro estrutura o mundo ao seu redor e o delimita. Algumas aptidões são inatas, mas, ao testá-las, percebemos que precisam de um estímulo sensorial para serem ativadas. Nosso corpo é o edifício, todo o arcabouço que integra o indivíduo e o delimita em suas ações e reações. O arquétipo representa um conteúdo inconsciente, o qual se modifica através de sua conscientização e também percepção, assumindo variantes de acordo com a consciência individual na qual se manifesta.

Notas:
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2. As citações do doutor Carlos São Paulo e da psicóloga Cláudia Maria França Pádua (que foram feitas sem a indicação das suas fontes de publicação), foram respectivamente reproduzidas das edições 147, 129 e 151, da Revista PSIQUE, da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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