Existe em Portugal o site Psicologia.pt, excelente “Portal dos Psicólogos” que aprecio pela diversidade dos temas que, em sua maioria, são apresentados com facilidade de compreensão. Nele encontrei esta advertência (é como defino a minha avaliação) feita no artigo “A expressão da sexualidade das pessoas com autismo”, assinado pela doutora Marina da Silveira Rodrigues Almeida, Consultora em Educação Inclusiva, Psicóloga e Especialista do Instituto Inclusão Brasil:
– A pessoa com Autismo tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio e único, como qualquer pessoa (…). Observamos nos casos em que a sexualidade é bem encaminhada na vida destas pessoas: melhora o seu desenvolvimento afetivo, transcurso da puberdade/adolescência/vida adulta mais tranquila e feliz, facilita a capacidade de se relacionar, melhora a auto-estima, permite a construção da identidade adulta e a adequação à sociedade.
A maior parte dos indivíduos portadores de TID (transtorno invasivos do desenvolvimento) apresentam um desenvolvimento biológico normal da sexualidade. Entretanto, no desenvolvimento psicológico ocorre uma série de alterações que se manifestam na conduta e podem variar de intensidade e freqüência, dependendo do grau de distúrbio e do nível intelectual. Em alguns deles predomina a necessidade de satisfação imediata dos próprios impulsos. Segundo Haracopos e Pederson (1989), em outros casos, a capacidade de conter os impulsos sexuais e agressivos é rudimentar, havendo pouca ou nenhuma autocrítica. Pode ocorrer também uma distorção da percepção da realidade, bem como capacidade limitada ou ausente de fantasiar ou imaginar, assim como ansiedade ligada ao sentimento de excitação sexual, associações bizarras e pensamento concreto. Haracopos e Pederson (1989)
A partir do momento que pudermos pensar em sexualidade relacionada a afetos, relacionamentos afetivos e não mais puramente da esfera dos genitais, conseguiremos intervir criativamente nas situações, sem tantos sobressaltos, medos, reservas, preconceitos, autoritarismos, castigos. A pessoa com Autismo vai precisar de apoios para compreender o mundo a sua volta de forma a desenvolverem sua identidade como jovem e futuro adulto libertando-se do modelo infantilizado, de maneira concreta, firme, vivenciando a experiência através de teatros, escrevendo, desenhando, expressando-se artisticamente.
Em seguida, conclui a doutora Marina:
A ambiguidade no comportamento dos pais e profissionais frente à sexualidade do deficiente levam aos conflitos e atitudes incoerentes de ambas as partes, gerando frustração, dor e muita angústia. A ansiedade e falta de confiança no potencial afetivo-sexual das pessoas com deficiência intelectual e autismo, faz com que fiquemos agitados e irracionais quando temos de lidar com um problema, uma situação. O que sabemos é que tanto as pessoas com deficiência intelectual e autismo sentem, desejam, sonham, sofrem, como qualquer ser humano, portanto nós é que precisamos libertar-nos dos nossos preconceitos frente à sexualidade humana e proporcionar uma vida com qualidade e respeito as singularidades individuais.
Sempre ressalvando que não sou da área de saúde, entendo que essas considerações da doutora Marina cabem para a qualquer tipo de comprometimento da capacidade psíquica ou física do indivíduo, observadas as variações dos graus de deficiências que lhes são causadas. Justifico, em razão da abrangência do conceito de “pessoa deficiente”, assim definido pela ONU (Organização das Nações Unidas):
– O termo “pessoa deficiente” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas e mentais”.
O “despertar da sexualidade” (principalmente nos autistas) merece atenção aumentada na adolescência, quando correm as transformações assim explicadas por Giancarlo Spizzirri, psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq), da Faculdade de Medicina da USP:
– Adolescência é uma fase do desenvolvimento, que geralmente ocorre dos 10 aos 19 anos de idade. Para a Organização Mundial da Saúde, a puberdade se distingue por mudanças envolvidas com particularidades físicas (por exemplo, pela influência dos hormônios no desenvolvimento das características sexuais secundárias), emocionais, relacionadas, entre outras. Com a maturação das gônadas (ovários e testículos), a função reprodutora passa a se constituir uma possibilidade, além do mais, é nessa fase que as práticas sexuais ganham outra dimensão, e normalmente costumam ser mais empreendidas, como a masturbação, brincadeiras e jogos com a finalidade de gratificação sexual. Entretanto, não podemos resumir esse período somente como sendo o qual novas práticas sexuais são exploradas; ele é também um momento importante de interação dos adolescentes com seus pares, família e sociedade.
Certo é que, no ser humano, a sexualidade é uma sensória descoberta interior “de si mesmo”.
Termino esta mensagem com a síntese de um artigo sobre a sexualidade no autismo, publicado pelo Journal of Autism and Developmental Disorders. Relata um estudo, no estado da Carolina do Norte, EUA, com 21 autistas adultos (sendo 11 homens e 10 mulheres) referente ao conhecimento de sexo. Uma hipótese aponta que sujeitos do sexo masculino com autismo demonstraram um interesse maior do que as mulheres, e alguns com experiências sexuais, porém, a maioria somente praticava a masturbação. O resultado da pesquisa demonstra que há um interesse sexual por parte dos indivíduos com autismo maior do que a literatura sobre o tema sugere e os programas de Educação Sexual devem se basear no que estes indivíduos sabem, querem e precisam.
Esse artigo, noticiado na Edição 101, Ano VIII, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala (Colaboração de Priscila Sampaio, a serviço da revista Sentidos), foi complementado com esta observação da doutora Adriana Cintra Moraes, pedagoga habilitada em deficiência intelectual:
– A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma, e eu concordo, que a sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade. Integra o modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações influenciando nossa saúde física e mental. Por isso devemos ter uma atenção maior para as pessoas com autismo.
Fiquem com este belo depoimento de mãe e filho:
Notas:
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3.Vídeo youtube (“Autismo – Sexualidade e Relacionamento”)
Muita paz e harmonização interior.