(147) Sentindo a necessidade de encontrar um sentido para a nossa existência.

Na condição de leitor da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala, gosto da coluna “Divã Literário”, assinada pelo médico e psicoterapeuta junguiano, Carlos São Paulo, diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. Com admirável conhecimento profissional, mensalmente ele seleciona e comenta um livro com profundas análises apoiadas na Psicanálise. Na última edição, a de número 130, a obra escolhida foi “Carta a D.”, da Editora Cosac Naify. Ele inicia a sua abordagem, com este título e explicação:

– Um SENTIDO para a existência.
Quando chega o envelhecimento, recorremos à ciência na tentativa de reparar os estragos da idade. Nossas antigas lutas por um lugar de importância no mundo cedem lugar ao mistério que é a própria vida.
Um olhar para quem está terminando sua vida lentamente faz-nos imaginar uma luta para domesticar a morte até que o medo dela permita-nos chegar ao lugar intemporal de onde emergimos ao nascer.

O livro foi escrito por André Gorz, que conta a história de amor com a sua esposa, Dorine Keir, vitima de uma doença degenerativa. Sem nada mais poder ser feito pela Medicina, para aliviar o sofrimento o casal resolve eternizar a paixão com a própria morte.

O que motivou esta mensagem foi a carta (que é o livro), deixada por André. Dela, destaco apenas o início:

– Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Comenta o Doutor Carlos São Paulo:

1. Ao tempo em que descreve as mudanças físicas, deixa claro o quanto o amor não depende desse tipo de apreciação. Afinal, o encontro de almas que se fundem faz com que um não possa viver sem o outro. No amor, a alma habita um só corpo.

2. Nossos sonhos trazem mensagens relacionadas com os nossos sentimentos mais autênticos. Por meio deles, podemos experimentar a vida e a morte de uma forma mágica e até brincar com isso. Esse sonho fez André perceber que a escolha estava entre viver sem vida ou deixar a paixão ressoar no espírito que encontra unidade ao se dissolver no outro até existir uma única alma para esses dois corpos.

3. André pergunta por que amamos e queremos ser amados por determinada pessoa, excluindo todas as outras. Isso nos faz refletir sobre o que é trazer o outro para nossa vida. Não é preencher uma solidão ou atender alguma expectativa de completude, pois o amor é a própria incompletude.

4. O sofrimento gerado por nossos erros é o modo como temos de evoluir até compreendermos o significado do sofrimento e mudar de nível dentro da evolução humana.

5. O homem moderno apega-se à ilusão de uma ideia de felicidade que consiste em conseguir realizar todos os seus desejos. Essas expectativas nunca serão atendidas, pois existe outra ordem que rege nossas vidas.

6. O mistério do que acontece quando o corpo morre a ciência não consegue responder. Mas o pensamento mítico, que conduz o imaginário do homem, precisa da ideia de que algo sobrevive além do físico. Então, é mais saudável adotarmos a ideia de que tudo vai continuar sem precisar buscar provas e muito menos acreditar. Basta saber que a verdade psíquica é a que prevalece, pois algo nos leva a sentir que a vida se comporta como se fosse continuar.

7. O envelhecimento do humano, em sua relação com o outro, precisa encontrar um sentido para a sua existência. Alguns trilham um caminho permeado de uma paisagem cheia de saudade de um mundo que passou; outros buscam a aquisição de uma sabedoria em olhar com outra visão e sentir que nos aproximamos do lugar intemporal de onde emergimos ao nascer.

Termino esta mensagem, desejando que você também sinta, com a sua “Sensibilidade da Alma”, a emoção interior que envolveu o meu coração. A emoção que não consigo explicar. A emoção sentida com a historia de amor de André Gor, me ensinou que:

– O “AMOR” SEMPRE SERÁ A ESSÊNIA TRANSCENDENTE DE TODOS OS SENTIDOS DA NOSSA CAMINHADA EXISTENCIAL E DE EVOLUÇÃO ESPIRITUAL.

Notas:

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3. Vídeo youtube (“Queen – Love of may life – legendado”).
4. Contato com o Dr. Carlos São Paulo – carlos@ijba.com.br

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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