“NA CONVIVÊNCIA, O TEMPO NÃO IMPORTA. SE FOR UM MINUTO, UMA HORA, UMA VIDA. O QUE IMPORTA É O QUE FICOU DESTE MINUTO, DESTA HORA, DESTA VIDA”
São palavras do poeta Mario Quintana (1906-1994). Esta não é a primeira vez que dedico mensagem à passagem ilusória do “tempo” em nossas vidas (as anteriores: 042, 109, 130 e 168). Concordo com o “sentir” de Mario Quintana, porque entendo que o “tempo” não existe. É uma abstrata e necessária condicionante do permanente fluir das nossas interações existenciais. Quanto ao que ficou em nós registrado (que prefiro chamar de “significado”) e dependerá exclusivamente da nossa valoração interior (inclusive de natureza espiritual). É essa valoração individual que, como acredito, poderá nos ajudar em nossas buscas de “autoconhecimento” conforme será sugerido no final desta mensagem.
Pergunto para você:
– COMO SOMOS SUBJETIVAMENTE INFLUENCIADOS PELO “TEMPO”?
Gosto desta explicação do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo:
– O que vivemos é o que experimentamos. O universo ou a psique não têm coisas, mas eventos. Nascemos, crescemos e envelhecemos. Isso é o tempo. O tempo medido em dias é imutável. Tem uma única direção, mas tem outro tempo que não segue essa lei. Tanto faz ir para a frente como para trás, é o tempo do inconsciente. E o espaço? Como é essa relação? Pensar no que se foi é trazermos sua presença para perto de nós. Isso condensa o passado e o presente deixando o ego alheio e aceitando uma realidade ininteligível.
O passado é uma experiência ilusória, em que a memória deixa o homem se ocupar como se estivesse no presente. Essa carga dificulta uma vida digna e com sentido. Precisamos deixar esse passado como um museu a contar nossas histórias sem o envolvimento das emoções desorganizadas e com a qualidade das ficções embelezadas por nossas fantasias. Pois todos aqueles fatos que a memória não se preocupa em pensar como a única verdade, cederão lugar à beleza da criação. E todos nós, não se sabe de que forma (ou sem forma), continuaremos. É tudo impreciso, mas não é preciso ser preciso, pois viver não é preciso.
Sobre o “tempo futuro”, esclarece o escritor Eduardo Shinyashiki, no seu artigo “Escolha seus sonhos”:
– Antecipar-se ao futuro, planejar e criar mecanismos que permitam conseguir as realizações que pretendemos são ações determinantes para que todos possam levar a vida que desejam e merecem.
Pergunto:
– AFINAL, O QUE É O TEMPO EM NOSSAS VIDAS?
Por se tratar de uma “sensação subjetiva” do ser humano, desde a Gécia Antiga existem várias respostas para essa pergunta. Do excelente artigo “Eixo Mente-Tempo” do doutor Daniel Lascani, pós-graduado em Psicologia Junguiana pela PUC-Rio, selecionei esta:
– Para o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941), o tempo é um fenômeno mental e não espacial. É apenas uma percepção humana, uma construção psicológica. A consciência, através da memória, produz o tempo passado e, também, a noção de tempo futuro. Qualquer lembrança está presente, podendo ser atualizada em nosso cérebro, relativamente, em qualquer momento. O passado é representado por nossas lembranças, memórias, conhecimentos, habilidades, razões; nosso futuro são nossas esperanças, encantamentos, ansiedades, criações e emoções. Já o presente é apenas um constante sentir, através da consciência. Nossa mente cria essa divisão cartesiana entre passado, presente e futuro, que denominamos de tempo.
Complementa:
– A psique humana consegue, claramente, observar que o presente está sempre passando, que o passado está sempre presente, se acumulando, e que o futuro é um tempo presente que está sempre chegando, em cada instante no contínuo espaço-tempo. Tudo é um constante tempo-presente.
Pergunto:
– COMO A NOSSA RELAÇÃO COM O TEMPO, PODE INFLUENCIAR EM NOSSAS PRÁTICAS DE “AUTOCONHECIMENTO”?
No início desta mensagem, concordei com Mario Quintana em relação à importância do que guardamos com a passagem do “tempo” em nossas vidas. Mas, em todos os sentidos, os significados vão depender das nossas avaliações. Estendo que essa valoração interior influencia e também pode ajudar nas nossas buscas de “autoconhecimento”. Vejam estes dois exemplos: 1.Podemos ressignificar todas as nossas realidades (capacidade de imaginação, atribuída à região cerebral do córtex pré-frontal). 2.As repetições futuras de eventos semelhantes aos que já foram por nós vivenciados, certamente ensejam o surgimento de novas condições interiores de reavaliações com propósitos de “autoconhecimento”. Certo é que podemos aprender com todas as nossas experiências. Por sua vez, como ensina a doutora Michele Müller no seu interessante artigo “MENTE presente”, “o estar no momento de agora permite desligar a capacidade cerebral de alertar para as possibilidades que podem estar nos aguardando”.
Em seguida, esclarece:
– Muito antes do termo mindfulness ganhar popularidade no Ocidente, a psicóloga e pesquisadora Ellen Langer, do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard, estudava o fenômeno da atenção plena. Quando a mente está presente, ela defende, nos tornamos sensíveis ao contexto. Mas não basta decidir estar presente: o domínio da atenção é uma habilidade que, como qualquer outra, precisa ser exercitada. Começa com a prática de perceber. (…) Trazer a mente para o presente envolve também o exercício da aceitação, outro conceito enraizado na filosofia oriental. Deixar de se apavorar com as possibilidades imaginárias depende de aceitarmos – e até apreciarmos – o incerto.
Termino, convidando você para pensar sobre este “sentir” do escritor Mia Couto:
– NÃO PRECISAMOS DE MAIS TEMPO. PRECISAMOS DE UM TEMPO QUE SEJA NOSSO.
Encontre o seu “tempo” e enriqueça as suas práticas de “autoconhecimento”.
Notas:
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2.As citações dos doutores Carlos São Paulo,Eduardo, Daniel e da doutora Michele Muller foram respectivamente reproduzidas das edições 124, 94, 106, 143 e 131 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.
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