“O MÉDICO TRATA, A NATUREZA CURA”
São palavras reproduzidas desta citação de um dos livros do médico alemão Georg Groddeck (1866-1934), um analista notável, contemporâneo de Freud, que comparava os benefícios da Psicanálise aos ensinamentos de Jesus:
– QUANDO CONHECI SCHWENINGER, HÁ TRINTA E CINCO ANOS, OUVI DELE REPETIDAS VEZES DUAS FRASES QUE ELE APRESENTAVA COMO SENDO O ESPÍRITO DO MÉDICO: O MÉDICO TRATA, A NATUREZA CURA.
Delas tomei conhecimento com a leitura do artigo “DOENÇA como forma de EXPRESSÃO humana”, da médica endocrinologista Tatiana Hotimsky Millner, que foi detalhadamente desenvolvido com este seu entendimento:
– PRECISAMOS COMPREENDER A SUCESSÃO DE MAL-ENTENDIDOS QUE OCORRE ENTRE COMO O PACIENTE SE APRESENTA E COMO O MÉDICO O ENTENDE, QUE GERA CONSEQUÊNCIAS NA EVOLUÇÃO DE UMA DOENÇA, NO SEU TRATAMENTO, TAIS COMO: A BAIXA RESPOSTA AOS TRATAMENTOS CONVENCIONAIS, AS TROCAS CONSTANTES DE SINTOMAS, A REINCIDÊNCIA DA DOENÇA OU O ATAQUE À COMPETÊNCIA DOS MÉDICOS.
Em seguida, embasada na comprovação da sua experiência clínica, justifica a doutora Tatiana:
– Sempre me interessei pela interface corpo e mente, porém, para uma médica com formação tradicional, tem sido um desafio constante compreender o ser humano e suas manifestações em sua forma integral. Quando os pacientes chegam ao nosso consultório, noto, como médica, que as pessoas doentes procuram legitimamente encontrar soluções para seus incômodos. Às vezes, seus pedidos pedem respostas “milagrosas”. É o caso de quando nos delegam suas vidas, transferindo toda a responsabilidade do sucesso do tratamento, ou nos confiando seus dramas mais íntimos, e nos encarregando integralmente de seus sofrimentos. Anseiam por retornar ao seu estado anterior à doença, retomar seus afazeres como se não houvessem passado por nenhuma mudança imposta pela doença. Adoecer é encarado como um acidente indesejável em seu percurso de vida, como um atropelo do destino que prejudica seus projetos, sua rotina. (…) Também não é raro encontrar pessoas que chegam ao nosso consultório com alto nível de frustração com os tratamentos disponíveis, baixa adesão ao tratamento proposto, elevados graus de angústia e mudanças frequentes de médicos, além do consumo da medicação, na maioria das vezes, realizado de forma irregular.
No final do seu artigo, ela insere a seguinte pergunta [que foi adaptada ao estilo de subjetividade, predominante na comunicação desta jornada para o “autoconhecimento”]:
– QUAL É A IMPORTÂNCIA DE SE COMPREENDER AS FORMAS DE EXPRESSÃO DA MENTE COM O CORPO, NOS PACIENTES QUE NECESSITAM E PROCURAM UM ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR?
Para Jung, a “qualidade humana” do médico é o mais importante e decisivo para o seu desempenho profissional. Mas entendo que em toda relação “médico-paciente” deve fluir uma permanente vinculação de “responsabilidade” e de “confiança”. No entanto, precisamos reconhecer que o “emocional” do paciente, a sua história de vida, afetam o seu sistema fisiológico. Por sua vez, o “emocional” dos profissionais da saúde também pode prejudicar o alcance dos desejados ideais humanistas de atendimento (mensagens 101 e 249).
Na relação “médico-paciente”, muitas vezes uma palavra ouvida na consulta, ou mesmo o simples gesto de segurar nas mãos dos seus paciente, são muito mais importantes do que o resultado que se espera com a medicação prescrita. Isto porque todos os nossos interiores processos psíquicos se revelam, para nós, por meio da elaboração de imagens sensórias. São essas imagens que, em nós, vão perpetuar com novos significados: o da necessidade de se acreditar no profissional da saúde e, principalmente, de acreditar na nossa cura.
O enfoque do realista artigo da doutora Tatiana, centrado intrinsecamente no “psicossomático” do paciente, não se refere à visão que todos nós (no primeiro e nos atendimentos seguintes), criamos sobre necessária interação do profissional da saúde que nos assiste. Mas acredito que esse profissional, seja qual for a sua especialidade, tem condições de perceber a satisfação ou não, com a sua conduta, em termos de comprovação dos seus desejados vínculos mútuos de “empatias”. Explica a doutora Daniela Benzecry, médica clínica, homeopata e analista junguiana, no seu belo livro “Sentimentos, valores e espiritualidade’, lançado no Brasil pela Editora VOZES:
– Os sentimentos estão interferindo o tempo todo em nossas preferências, escolhas e julgamentos. Frases como “gostei de cara” e “nossos santos não bateram” refletem julgamentos e podem ser frutos, respectivamente, de simpatia e da antipatia, isto é, de sentimentos. A expressão “A primeira impressão é a que fica”, com frequência, também se trata de um julgamento pelo sentimento. O sentimento é julgamento.
Gosto deste “sentir” do neurologista e fisiologista italiano Paolo Mantegazza (1831-1910):
– ENTRE DOIS, ENTRE TRÊS, ENTRE MUITOS MÉDICOS BONS, ESCOLHI SEMPRE O QUE TIVER MAIS CORAÇÃO.
Entendo que essa escolha, também é uma prática de “autoconhecimento”, porque o paciente que precisa de cuidados médicos, primeiro deve “conhecer a si mesmo”.
Termino, com este ensinamento de Jung que, no meu entender, sempre deverá ser buscado pelos profissionais da saúde e pelos seus pacientes:
– QUANDO ESTIVERMOS DIANTE DE OUTRO SER HUMANO, DEVEMOS PROCURAR QUE OCORRA SOMENTE UM VERDADEIRO ENCONTRO DE ALMAS.
Notas:
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2.O artigo da doutora Tatiana Hotimsky Millner (contendo a citação do médico Georg Groddeck), está publicado na edição 104 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.