(109) Sentindo a subjetividade ilusória do “tempo”, em nossas vidas.

Em 25 de maio do ano passado, iniciei a mensagem ‘Sentindo se a “passagem do tempo” é ilusória’, com este meu entendimento sobre a subjetividade do “tempo” em nossas vidas:

– Há muito, com o meu imaginário, fiquei convencido de que o “tempo” não existe, que a sua aparente “passagem” nada mais é do que uma “sensação ilusória”. Os benefícios desse meu modo de “pensar” foram muitos, principalmente em relação às experiências vivenciadas com a “percepção sensória” das minhas “realidades” (a “interior” e a do “mundo externo”). São “realidades que variam de acordo com os nossos diferentes “estados de consciência”. Passei a intensificar a “valoração” do meu “existir”, o que ensejou profundos reflexos no meu “sentimento de interação” com “tudo que existe” e “parece existir”, por ser ainda “desconhecido”.

O que motivou esta mensagem foi a sabedoria deste “pensar” do filósofo grego Heráclito:

– Nunca banhamos nas mesmas águas do mesmo rio

Assim como a passagem contínua das corredeiras das águas dos rios, o subjetivo passar ilusório do “tempo” não apaga a nossa valoração da sucessividade de “agora” no nosso “viver”. Além disso, o fluir das nossas experiências permanecerá imutável na memória, permitindo-nos mentalmente trazer, para a realidade de cada “agora”, lembranças do que, no mudo real não mais existe.

Gosto, e já citei neste espaço virtual, deste “sentir” da passagem do tempo, assim explicado pela Monja Coen (primaz fundadora da Comunidade Zen Budista, em São Paulo), no seu livro “A sabedoria da Transformação”, lançado no Brasil pela Editora Academia, com todos os direitos de edição reservados à Editora Planeta:

– Há o antes e o depois, mas ambos se manifestam no agora. Sem o antes, não estaríamos aqui. Estar aqui é criar condições para o depois. Entretanto, o depois nunca chega, pois estamos sempre no agora. E o antes nunca volta, porque estamos no agora.

Por sua vez, tenho acompanhado com muita atenção as criativas abordagem do médico e psicoterapeuta junguiano, Carlos São Paulo, fundador do Instituto Junguiano da Bahia, mensalmente publicadas no “Divã Literário”, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala. Na edição n. 124 deste mês, com esmerada síntese de estilo ele comentou o romance “O Momento Mágico”, de Márcio Leite, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2009, lançado no Brasil pela Editora Record. Para esta mensagem, reproduzo as seguintes passagens:

– Conta a história de Adalberto, um homem de 88 anos, portador de uma doença degenerativa, que se dá conta de que sua vida chegou ao fim. Sabe que aproveitou o máximo de sua vida e quer morrer, mas a morte não vem e ele vive a angústia de não terminar. Vive isolado frente ao mar. Observa, por horas, os frequentadores da praia. Em seu universo interior vive como uma montagem de um filme.

Comenta o Doutor Calos São Paulo:

– Nada sabemos sobre a vida psíquica depois da morte física.

– Depois de velho, os olhos não permitem que se enxergue bem o mundo lá fora. Na contrapartida, os “olhos internos”, envolvidos com os eventos, podem nos fazer ver com mais nitidez o mundo interior. A evolução esperada é que possamos olhar para os eventos que passaram em nossas vidas de forma mais amadurecida do que na época em que ocorreram.

– (…) nos processos analíticos, podemos revistar esse passado com segurança e participar desse processo de ressignificação de vivências para transformá-lo. Aí, o espaço-tempo se relaciona com a matéria sofrendo suas flexões.

-O que vivemos é o que experimentamos. O universo ou a psique não têm coisas, mas eventos. Nascemos, crescemos e envelhecemos. Isso é o tempo. O tempo medido em dias é imutável. Tem uma única direção, mas tem outro tempo que não segue essa lei. Tanto faz ir para frente como para trás, é o tempo do inconsciente.

Termino esta mensagem, sugerindo que na subjetiva passagem ilusória do “tempo”, as lembranças do nosso “passado” ajudem ressignificar os “agora” do seu viver.

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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