“O QUE SEI SOBRE MIM NUNCA É O QUE SOU INTEIRAMENTE. SOMOS MUITO MAIS DO QUE CONHECEMOS SOBRE NÓS MESMOS”
São palavras de Mario Jacoby (1925-2011), analista junguiano nascido em Lípsia, na Alemanha. Pergunto: O que sabemos sobre nós mesmos? Para que saber? São essas e muitas outras perguntas que nos ajudam ressignificar um novo sentido para a nossa própria existência, que melhor atendam as nossas necessidades. O que não devemos é simplesmente “viver por viver”, sem conhecer a nossa potencialidade interior, sem idealizar um propósito para o nosso “viver”. Talvez tenham sido essas buscas de “autoconhecimento” que, no meu entender, explicam este “sentir” de convencimento de Clarice Lispector: “A mais premente necessidade de um ser humano, era tornar-se um ser humano.”
Por sua vez, ensina Jung (OC 11/4, § 746):
– O HOMEM NÃO PODE AVANÇAR POR CONTA PRÓPRIA SE NÃO POSSUIR UM CONHECIMENTO MAIS APURADO A RESPEITO DE SUA PRÓPRIA NATUREZA.
Sobre o seu conceito de individuação (mensagem 057), esclarece Mario Jacoby:
– O processo de individuação pode ser descrito ou nomeado com outras palavras: torne-se quem você é, ou realize-se a si mesmo. Assim, você é algo ou alguém, mas deve se tornar um Si mesmo (Self). Quem ou o que é esse você mesmo, esse Si mesmo? (…) Visto como uma unidade psicossomática, meu Si mesmo abrange tudo que compõe minha pessoa. E, como humanos, desenvolvemos imagens e avaliações sobre nós mesmos. Gosto de mim mesmo? Não gosto de mim? Carregamos internamente “representações” de nós mesmos que geralmente influenciam nosso ser e nossas ações. (…)
As imagens que rodeiam o Si mesmo são de grande significado para o bem-estar ou mal-estar psíquico; representam os problemas de auto-imagem e autovalorização e têm papel central em muitas psicoterapias. Mas o emprego de Jung do termo Si mesmo (Self) envolve algo muito mais amplo. Quando falamos de experienciarmos a nós mesmos ou encontrarmos a nós mesmos, isso implica claramente que nossa consciência (com o Ego em seu centro) deseja, ou poderia experienciar ou aprender algo a partir do Si mesmo. Ou seja, o Si mesmo parece conter dimensões de si que somente podem ser observadas por meio da introspecção diferenciada e contínua.
O que sei sobre mim nunca é o que sou inteiramente. Somos muito mais do que conhecemos sobre nós mesmos. E em muitas situações constituímos um mistério para nossa própria consciência. A criança, por exemplo, é um Si mesmo vivente, apesar de que seu ego como centro da consciência ainda não tenha despertado. E chegamos aqui ao desenvolvimento que é estimulado e impulsionado pelo que denominamos Si mesmo. Podemos simplificar comparando o Sí mesmo a uma semente. Esta semente contém em si – como potencialidade essencial – a futura planta ou uma árvore. Poderíamos dizer que ela tem a potencialidade e a necessidade de crescer, de se transformar e se desenvolver em uma planta específica. Mas para tal suceder, necessita de um tipo especial de terra, temperatura, clima, tempo etc.; em outras palavras: um ambiente facilitador. (…) O ambiente é a condição para que o Si mesmo se desenvolva de acordo com sua estampa natural.
Termino esta mensagem convidando você “voltar-se para si mesmo” e, com sentimento de harmonização interior, “sentir” a sua singularidade espiritual de, nesta dimensão de vida, “ser humano”. Faço esse convite, inspirado neste ensinamento do poeta e filósofo Mark Nepo (mensagem 119):
– UMA FLOR FLORESCE NÃO PORQUE TEM UMA PLATEIA, MAS PORQUE É ASSIM QUE SE TORNA AQUILO PARA O QUAL FOI DESTINADA.
Notas:
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2.A citação de Mario Jacoby sobre o processo de individuação de Jung, foi reproduzida da sua entrevista concedida à jornalista Rose Campos e à psicóloga Liliana Liviano Wahba, publicada na edição 26 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.