(171) Sentindo se podemos “ressignificar” experiências subjetivas de eventos passados.

Em todas as nossas “interações existenciais” (sejam de que natureza forem), nada teria sentido em nossas vidas sem a necessária percepção (ou elaboração) de significados para as nossas “emoções” e “sentimentos”. O ser humano precisa “voltar-se para si mesmo”, para as manifestações sensórias da sua “subjetividade interior”. Precisa “tornar-se uno” consigo mesmos, e por si mesmo. Precisa ser incansável na busca interior do “sentir” a essência existencial e transcendente da sua “Sensibilidade da Alma” (a mesma essência imantada em todos os nossos sentimentos de “espiritualidade”). O ser humano precisa buscar um sentido para a sua “vida”, para o seu “existir”. Esse caminho pode ser para nós facilitado, mas nunca ensinado por ninguém. É caminho a ser “desperto em nós”. É descoberta interior personalíssima, porque o “autoconhecimento” da nossa potencialidade interior é fundamental para o nosso “viver”, por dimensões infinitas do nosso “existir espiritual”. Estou convencido de que seja!

O que motivou esta mensagem foi a sensação da passagem do “tempo” em nossas vidas. Acredito que o “Tempo” seja um dos temas que mais ensejou mensagens neste espaço virtual (mensagens 042, 092, 109, 130 e 168). Em todas, sempre me posicionei no sentido da sua inexistência, mas reconhecendo ser (para nós) uma necessária e ilusória condicionante de organização cronológica em todos os sentidos determinantes do nosso “viver”. A respeito, explica o neurocientista António Damásio: “Varias estruturas cerebrais contribuem para o “tempo mental”, organizando nossas experiências em cronologias de eventos recordados (Fonte: “Lembrando quando tudo aconteceu”, publicado na Edição Especial (1), da Revista Scientific American, n. 46, lançada no Brasil pela Editora Duetto).

Existem duas formas de se “sentir” e “pensar” o “tempo”: I – A “linear” (marcada pelo fluir da sucessão contínua do passado, do presente e do futuro). II – A “circular” (conhecida de culturas judaico-cristãs e da civilização Maia, por meio de uma perspectiva de repetição, de retornos cíclicos que, para nós, se assemelham à da chegada das estações do ano. Essa forma de “sentir o tempo”, para muitos também favorecia a busca interior de estados sensórios de “preparação” e “superação” de certos eventos ainda não acontecidos).

Mais uma vez este espaço virtual está sendo enriquecido pelas análises do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, que assina a coluna “Divã Literário” da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala (mensagens anteriores: 092, 109, 116, 147, 158 e 165). Para a edição deste mês, foi escolhido um dos contos do livro “História da sua vida”, de Ted Chiang, gênero ficção, lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, com tradução de Edmundo Barreiros, adaptado para o cinema por Denis Villeneuve com o filme” A Chegada”. Ele inicia a sua análise fundada na Psicologia Analítica de Carl Jung, com esta instigante síntese: – “O conto “História da sua vida” permite entender o que está por vir e confronta o livre-arbítrio para escolher continuar ou não no caminho que sabemos já estar determinado.”

Complementa, em seguida:

– A investigação científica tem se deslocado para além da compreensão humana. Na Psicologia Analítica, damos importância aos sonhos e a sua funcionalidade teleológica. (…) O problema dos cientistas é como testar histórias desse tipo em laboratórios para qualificar e controlar premonições como a ciência moderna exige [O doutor Carlos está se referindo às histórias de premonições e de sonhos prevendo o futuro]. O inconsciente pode fazer com que cada momento de nossa vida influencie todos os outros, para frente e para trás. Assim, a intenção no futuro poderá modificar as probabilidades de uma enfermidade. Um simples diagnóstico pode influenciar o curso da doença. Dessa forma, a psicoterapia é um método que nos faz voltar no tempo para alterar nosso próprio futuro.
Jung chamou a atenção para um fenômeno que tem uma conexão misteriosa entre a psique pessoal e o mundo material. Tais fenômenos têm um significado importante para a pessoa neles envolvida. A esses acontecimentos ele chamou de sincronicidade. É quando um sonho, ideia ou premonição coincidem com um evento do mundo exterior.

Assim conclui a sua abordagem:

– A vida é uma espécie de espetáculo cujo roteiro não controlamos. Vivemos envolvidos com gozos que se desmancham com o sofrimento e vice-versa.

Por sua vez, ao tomar conhecimento do interessante artigo “Modificar o passado?”, do conceituado filósofo clínico Lúcio Packter, publicado na Revista Filosofia, n. 87, edição de outubro de 2013 da ANER (atual Editora Escala), está me parecendo ser possível no nosso “agora”, ressignificar certas lembranças sensórias de determinadas “experiências subjetivas” do nosso “passado”, em face da nossa capacidade de “reinterpretar”.

A respeito, de modo conclusivo pergunta e esclarece o doutor Lúcio Packter:

– Você já observou que usualmente o futuro aparece aberto, em construção, cheio de possibilidades, e que o passado se mostra concluído, acabado? Essas características mostram direcionamentos sobre a forma como a sociedade na qual vivemos está constituída. Desde fatores emocionais até os elementos espirituais e, o modo como a vida se organiza, há muitos segmentos existenciais que cumprirão rotinas a partir das diretrizes passado e futuro. Em geral, construímos coisas no futuro, não no passado; buscamos lembranças no passado, não no futuro.

Certo é que “Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. E é do mesmo modo necessário”. Inspirado nesse belo e significativo “pensar” de Fayga Ostrower, desejo que você “crie” condições para o surgimento interior de um sentimento de plenitude “existencial” e “espiritual” que seja independente das influências da ilusória “passagem do tempo”, em nossas vidas.

Dedico esta mensagem à doutora Daniela Benzecry, autora do livro “Sentimentos, valores e espiritualidade”, publicação da Editora Vozes, valiosa fonte de estudado dos ensinamentos de Carl G. Jung e das pesquisas do neurocientista António Damásio (recomendo como leitura obrigatória).

Notas:

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Muita paz e harmonia espiritual.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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