Com a mensagem duzentos, a nossa caminhada de “autoconhecimento” foi acrescida de um novo sentido de “buscas interiores”. Refiro-me às considerações que foram feitas sobre “yoga”, uma das conhecidas práticas “psicossomáticas” que ajudam no equilíbrio da integração “corpo, mente e espírito”. Antes, e desde a criação deste espaço virtual, predominavam mensagens sugestivas de condições de interiorização (conhecimento de si mesmo), apenas com a finalidade de melhor compreender os significados dos nossos “sentimentos” e “emoções” (conhecimento da subjetividade humana). A partir desta mensagem, essa inovação será enriquecida por abordagens de temas que, de modo positivo ou não, podem afetar a nossa “psique” e também repercutir indiretamente na “percepção sensória” da nossa “Sensibilidade da Alma”.
Para esta mensagem, selecionei as seguintes considerações do psicólogo Julio Peres, especialista em superação de “traumas psicológicos”, com a ressalva do seu entendimento de que “as memórias traumáticas são prevalentes em muitos outros transtornos, como depressão, fobias específicas, pânico e ansiedade generalizada”. Ele também é pesquisador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Proser) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Da sua entrevista concedida ao jornalista Lucas Vasques, publicada na Edição 140 da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala, destaco o seguinte:
1. Sobre o que tragédias ou traumas podem trazer à mente da pessoa a curto e longo prazos.
JP. São inúmeros os tipos de eventos traumáticos que afetam grande parte da população. Estudos epidemiológicos revelam que a maioria de nós passou ou passará por episódios potencialmente traumáticos. O trauma psicológico se caracteriza por um afluxo de excitações relativamente superior à capacidade do indivíduo de processar e elaborar esses conteúdos, que ficam dispersos em fragmentos sensoriais, emocionais e cognitivos, causando imenso sofrimento. (…) Contudo, o que pode ser um evento traumático para uma pessoa não necessariamente será para outra, e o despreparo em relação a essas representações subjetivas pode caracterizar o evento estressor como um trauma psicológico. Devemos nos lembrar que a natureza do trauma psicológico é imensamente subjetiva, indo além do fato em si. O indivíduo vivencia o imponderável, o efeito surpresa, sem representações e recursos para significar o episódio ocorrido.
2.Sobre se os traumas de infância permanecem até a fase adulta.
JP. A infância é um período especialmente delicado, com extrema vulnerabilidade ao trauma psicológico, porque a criança ainda não desenvolveu suas habilidades cognitivas para categorizar e classificar eventos emocionais e sensoriais. Tais traumas nessa fase, quando não tratados, reverberam na adolescência, na idade adulta e na terceira idade, enquanto as emoções e sensações dolorosas permanecerem como fragmentos dispersos sem representações para o que ocorreu.
3. Sobre se o medo é essencialmente causa ou consequência do trauma.
JP. O medo figura entre as cinco emoções básicas e pode ser saudável ou patológico. A maioria das pessoas traumatizadas não preenche os critérios de qualquer transtorno psiquiátrico, mas apresenta sintomas específicos também associados ao medo que geram imenso sofrimento e limitações diárias. (…) A expressão saudável dessa emoção nos permite avaliar riscos de maneira adaptativa, protege-nos de situações ameaçadoras e nos permite viver bem. Por outro lado, a expressão patológica do medo é decorrente de traumas psicológicos. As pessoas generalizam os eventos como se esses pudessem ser cópias ameaçadoras do trauma, sendo assim um mecanismo que visa a proteção, porém “desadaptativo” (não atualizado ao contexto presente), que, ao invés de ajudar, promove sofrimento.
4. Sobre se auxilia na superação, falar a respeito de traumas .
JP. Observamos há muitos anos na prática clínica que expressar a dor, significá-la para, em seguida, conseguirmos ressignificar o sofrimento como um aprendizado que nos fortalece, é fundamental no processo de superação traumática. Falar, contar e recontar a história traumática com a perspectiva resiliente envolvem aquisição de aprendizados que tornam a vida ainda melhor do que foi antes do trauma acontecer. (…) Contudo, o que observamos em nossos estudos e na prática clínica é que não basta simplesmente falar sobre a dor. É preciso, em um primeiro momento, expressá-la com as palavras possíveis ao indivíduo. Mas, em um segundo momento, é necessário que o indivíduo ressignifique a dor, buscando um sentido maior para o que aconteceu e/ou uma aliança de aprendizado.
5. Sobre se o preconceito e o bullying podem provocar sérios transtornos psicológicos.
JP. Todos nós necessitamos e buscamos o acolhimento, o afeto, que também nos conferem o sentimento agradável de pertencer a um grupo. As pessoas que eu tive oportunidade de atender em minha clínica, com bullying associado a seus traumas, trouxeram sentimentos de inferioridade, tristezas profundas e raiva por todos os abusos, críticas ácidas e humilhações que sofreram. O bullying pode deixar traços mnêmicos traumáticos severos, relacionados a falsas crenças de não ser bom o bastante para estar no mundo.
6. Sobre se os tratamentos psicológicos sozinhos, normalmente alcançam os resultados esperados.
JP. A superação de vários casos em psicoterapia se relaciona com o desenvolvimento de um estado ampliado de consciência e a quebra do ciclo traumático através do perdão (etimologia: perdonare), que significa a maior e melhor doação que você possa fazer, porque se liberta do sofrimento, libertando também o outro que a fez sofrer.
7. Sobre se a psicoterapia é a solução para superar os traumas.
JP. Sim. A psicoterapia é a primeira linha de escolha terapêutica para o tratamento de indivíduos com traumas psicológicos, conforme revisões sistemáticas e meta-análises publicadas em periódicos científicos.
8. Sobre o tempo de possível superação de um trauma.
JP. O tempo de tratamento é variável, e na minha experiência clínica, em média oito meses são suficientes para a superação do trauma psicológico. Algumas pessoas concluem seus processos com pouco meses; outras requerem um ano ou mais, a depender da magnitude traumática, da estrutura psíquica e dos recursos cognitivos pessoais que cada um apresenta.
Termino esta mensagem com o meu sentimento de querer enriquecer esta caminhada virtual de “autoconhecimento”, com o propósito de poder “despertar” em você a descoberta sensória da sua “potencialidade interior” de integração e harmonização plena “consigo mesmo” em todos os sentidos do nosso “existir” e do nosso “viver”. Desejo que a leitura desta mensagem seja fonte de ajuda, porque a pessoa exposta a eventos traumáticos e condicionantes de subjetivos abalos psíquicos, certamente vai precisar da nossa humanista proteção de solidariedade.
Notas:
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