(216) Sentindo a “necessidade humanista” de conhecer o autismo (Parte I).

Nesta nossa jornada para o “autoconhecimento”, todas as mensagens me foram intuídas por uma envolvente necessidade interior de querer contribuir, de alguma forma, para a conscientização de que nesta dimensão de vida todos nós temos uma finalidade bem definida de possibilidades de crescimento existencial e espiritual. Defino-a como sendo um “propósito de vida” que precisa ser “desperto em nós” por contagiantes sentimentos humanistas de “amor”, de “ajuda” e de “solidariedade”. Assim, como acredito, pretendo consolidar nos nossos corações este ensinamento de Jesus: – “Ame o próximo como a ti mesmo”. Talvez tenha sido esse “propósito de vida” que imantou este “sentir” de Cora Coralina (mensagem 001):

Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Com esta mensagem desejo “semear” em você informações sobre a nossa oportunidade de poder ajudar na interação “humana” e “social” dos “autistas”, em nossas vidas. Por sua relevância, inicio com esta mensagem que será sucessivamente sequenciada por outras.

Quem primeiro procurou descrever o “autismo” foi o psiquiatra austríaco Leo Kanner, em 1943. Ele tentou diferenciar da esquizofrenia infantil, definindo o “autismo” como sendo uma incapacidade “para estabelecer relações normais com pessoas e reagir a situações”. Por sua vez, o consagrado psicólogo Luca Surian (2010, na sua conhecida obra “Autismo: informações essenciais para familiares, educadores e profissionais da saúde”, lançada no Brasil pela Editora Paulinas, sustenta o seguinte entendimento:

– O autismo é um distúrbio do desenvolvimento neuropsicológico que se manifesta através de dificuldades marcantes e persistentes na inteiração social, na comunicação e no repertório de interesses e atividades.

Sobre essa dificuldade de manter laços sociais (em muitos casos, com prevalência comportamental de “isolamento” e de “indiferenças”), peço a sua atenção para a subjetividade desta explicação da psicóloga e psicanalista Silvana Rabello, citada pela jornalista Roberta de Medeiros no seu artigo “Criança Encapsulada”, publicada na Edição 74, Ano VI, fevereiro de 2012, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala [na época, a doutora Silvana coordenava o projeto “Espaço Palavra”, da PUC-SP, destinado ao acolhimento de crianças com psicose e autismo]:

– Sem a compreensão das emoções, as crianças autistas “podem” ter dificuldade de reconhecer os sentimentos dos outros (o que é resultado de uma não realização simbólica do outro). Explica: “A ideia do ‘eu’ e do ‘outro’ é desenvolvida na criança normal e a partir daí ela conquista o código linguístico e os padrões afetivos de relacionamento. Com isso, essa criança recebe injeção de cultura de tudo o que a sociedade vem construindo há milhares de anos. Mas isso não ocorre na criança autista.”

Em seguida, complementa a jornalista Roberta de Medeiros:

– O não reconhecimento do outro leva à estereotipia, um padrão de linguagem bastante restrito, que tende a uma repetição infinita. Isso ocorre porque essa comunicação não é claramente dirigida ao outro. “Essa comunicação, então, começa a ser desprezada pelo adulto, que precisa ter uma configuração do outro”, diz Silvana. Ela lembra que todas as pessoas apresentam uma estereotipia, embora em uma escala reduzida. “A tendência é repetir o discurso sempre que sentimos que a nossa comunicação não foi bem sucedida, mas isso é mais acentuado na criança autista”, observa.

Termino esta primeira mensagem da série sobre “autismo”, antecipando o enfoque principal da próxima. Será sobre a capacidade extraordinária dos “autistas savants” (especificamente sobre como eles lidam com as emoções), assim comentada pelo neurobiologista Wolf Singer, diretor emérito do Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro:

– Crianças autistas, por exemplo, têm dificuldade de decifrar o sentido das expressões faciais e associá-las a emoções. Isso lhes torna difícil deduzir das expressões faciais dos cuidadores se elas se comportaram bem ou mal, e essa incapacidade as impede de desenvolver a capacidade de socialização.
Quando crianças autistas realizam uma tarefa, acabam sempre olhando para o cuidador que as acompanha para avaliar se o comportamento delas está correto ou não. Se não conseguem interpretar as expressões dos cuidadores, é difícil para elas desenvolver suas funções cognitivas e se relacionar com o mundo, de modo que ficam cada vez mais isoladas. Esse isolamento é outra explicação da imensa capacidade de memorização de algumas crianças autistas. Considerando que não são capazes de investir nas relações sociais, seu entorno fica extremamente empobrecido; elas dirigem, então, toda a atenção para outras fontes de informação, como tabelas de horários e calendários, que decoram, repetem e memorizam. Como não sou especialista na matéria, aceite com cautela o que acabei de dizer.

Notas:

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3.Foi o entendimento do doutor Wolf Singer que motivou a idealização desta mensagem. A reprodução acima foi feita do livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”, lançado no Brasil pela Editora ALAÚDE, que estou lendo e recomendo aos seguidores do “Sensibilidade da Alma”.
4.Consultem a Lei 12.764 de 27 de dezembro de 2012 (Lei do Autismo, também conhecida por Lei Berenice Piana), que Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Muita paz e harmonização interior.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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