(201) Sentindo em “Demian”, a sensibilidade da alma do escritor Hermann Hesse.

Desde o início desta nossa caminhada virtual, tive vontade de escrever sobre uma obra literária em que a sua essência esteja relacionada à busca do “autoconhecimento”. Não foi fácil, porque também foi preciso conhecer um pouco da história de vida do seu autor e sobre a subjetividade das suas consequentes necessidades de interações existenciais. Prevaleceu a escolha de Hermann Hesse, escritor alemão, naturalizado suíço, que em 1946 foi laureado com o prêmio Nobel de Literatura. Levei em consideração o fato dele ter sido depressivo, socialmente solitário, e paciente de J.B.Lang e Carl Gustav Jung. A obra escolhida foi o seu conhecido e consagrado romance Demian, publicado em 1949 com manifesta influência recebida de Nietzsche e com conhecimentos de psicologia. Nele, a frase que mais me tocou foi esta:

– “A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo…”.

Sobre Demian, esclarece o médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua bela coluna “Divã literário”, publicada na Edição 87, Ano VII, de março de 2013, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:

– Hermann Hesse, numa de suas crises nervosas da meia-idade, procurou um analista junguiano. Em 1919 e sob essa influência, escreveu o romance Demian. Mais tarde ele retomou o seu processo de análise com o próprio Jung. Nessa época, escreveu a um amigo que o objetivo da análise é “criar um espaço no qual podemos ouvir a voz de Deus”.

O doutor Carlos São Paulo, assim definiu o romance de Hermann Hesse:

– No livro Demian, Hermann Hesse, por intermédio de seus personagens, pôde realizar no mundo da ficção o que ele percebia, mas não podia concretizar no mundo real.

Para manter uma certa padronização entre os espaços das mensagens deste espaço virtual, deixo de narrar detalhes desse belo romance de Hesse que, no entanto poderão ser conhecidos pelo vídeo abaixo. Por esta razão, da análise do doutor Carlos São Paulo, destaco apenas estes ensinamentos embasados na psicologia analítica de Jung:

1. Quando, no convívio social, procuramos ajustar uma persona – a maneira como queremos ser vistos -, temos a intenção de ser amado pelo outro. Mas no momento em que se cria o que se quer mostrar, também se esconde o que se tem vergonha de deixar aparecer. Uma das consequências desse ato é esquecermos que foi uma mentira para impressionar até a quem não conhecemos. Isso nos torna refém do outro e pagamos um alto preço para não sermos denunciados por nós mesmos. É dessa forma que, como Sinclair [personagem do livro de Hesse], ficamos à mercê do caráter explorador do outro. Caráter esse, muitas vezes, representado pelas grifes, etiquetas e o mundo falso das alegrias. Desse modo mergulhamos nas terríveis viagens da alma, em meio a trevas, sem saber encontrar um sentido para a própria existência.

2. Nessa obra, Hesse consegue mostrar o “processo de individuação” [sugiro a leitura da mensagem 057], um dos conceitos mais importantes da obra junguiana. É nesse processo que se aprende que nem sempre o que é certo é também justo. (…) Jung define o Si-mesmo como a totalidade de tudo que é do humano: a consciência e o inconsciente; a psique e a matéria. Sua manifestação na consciência é a imagem de Deus (Imago Dei).

Conclui o doutor Carlos São Paulo, mais uma vez enriquecendo esta nossa caminhada de “autoconhecimento” (mensagens: 092, 109, 116, 147, 158, 164, 165, 171, 179 e 197):

Somos seres que nascemos com todos os segredos do universo. É como Pistorius, um personagem que substituiu a ausência de Demian na vida de Sinclair, nos esclarece: Cada homem, enquanto vive e cumpre a vontade da natureza, é maravilhoso e digno de consideração. O único trabalho importante na vida de uma pessoa, no entanto, é saber/poder se encontrar.

Termino esta mensagem, com este conhecido “sentir” de Hermann Hesse:

– Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.

Esta é a mesma ajuda que desejo para você, de acordo com a proposta de criação deste espaço virtual (mensagem 001).

Notas:

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3.Video do youtube “Demian – Resenha” de Rodrigo Villela, autor do Blog de Livros “Leia para Viver”.
4. O doutor Carlos São Paulo é diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia (www.ijba.com.br).

Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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