(437) Sentindo as nossas “realidades”, como fontes de “autoconhecimento”.

Sob uma perspectiva objetiva todos nós podemos espelhar as matizes do nosso “modo de ser”, mas nem sempre as subjetivas do nosso “sentir interior”, quando ainda precisão serem melhor definidas pelas nossas práticas de “autoconhecimento”.

São minha palavras recebidas do meu “inconsciente”, quando estava querendo encontrar um tema para este nosso encontro. Certamente por estar subjetivamente influenciado pela recente leitura do interessante artigo “Os outros que vivem em nós”, escrito por “Ana Suy Sesarino Kuss”, que é professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR) e possui doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise e mestra em Psicologia.

Observem que diferenciei duas “realidades”: a do nosso “modo de ser” e a do nosso “modo de sentir“. Como entendo, “realidade” é como tudo se apresenta para nós ou para todos, seja por uma perspectiva objetiva ou por uma perspectiva subjetiva. Esta última é valiosa, quando somos observadores de nós mesmos – “autoconhecimento”.

Do bem fundamentado artigo da doutora Ana, selecionei estas partes para este nosso encontro (numerei):,

1. Em seu célebre texto “A interpretação dos sonhos”, Freud afirma que “o inconsciente é a verdadeira realidade psíquica”. Nossa realidade compartilhada, por vezes, é dividida apenas no campo da palavra, uma vez que nós nunca compartilhamos com alguém exatamente da mesma experiência, O inconsciente de cada um se atravessa fundando cada realidade, e talvez possamos dizer que cada um vive em uma realidade diferente da realidade do outro, ainda que possamos encontrar certas coisas em comum.

2. A realidade de cada um de nós é confeccionada da nossa história, dos nossos genes, da nossa forma de habitar nosso corpo, da história dos nossos antepassados… e isso não se replica. Por mais que tenhamos irmãos nascidos em uma mesma família, ainda que sejam gêmeos, cada um terá experiências diferentes na relação com a sua existência e com o modo como o mundo recebeu cada um.

3. Quando desconsideramos as tantas nuances que compõem as nossas maneiras de existir, tendemos a pensar que o outro é nosso igual, nosso semelhante e que por isso poderíamos saber o que ele pensa e sente. Nesse sentido, a noção de “empatia” que temos no senso comum pode ser muito desrespeitosa, uma vez que nela se poderia supor que temos um saber prévio a respeito do outro, a partir da nossa existência.

4. Em seu O Seminário 1, Lacan afirma: “uma das coisas que mais devemos evitar é compreender muito, compreender mais do que existe no discurso do sujeito.” Ele está falando ali com psicanalistas, ao se referir ao que cada paciente/analisante diz no setting analítico. Mas podemos tomar emprestado esse fragmento para considerar que a noção dos laços que as pessoas fazem, dentro da perspectiva psicanalítica freudo-lacaniana, funda-se por considerar uma diferença entre as pessoas que é abissal e intransponível.

5. Paradoxalmente, ao considerarmos que o outro é radicalmente diferente de nós e de certo modo vive em outra realidade, acabamos por nos aproximar dele. Isso porque esse abismo entre um e outro insere algo que considero muito caro, excessivamente dito e pouco exercitado: o respeito pela diferença.

Logo após ter feito essas considerações, a doutora Ana Suy Sesarino Kuss [que muito aprendo, sendo seu seguidor], termina o seu interessante e bem fundamentado artigo citando o premiado filme ganhador de sete Oscars, “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, que através do seu enredo, transmite que todos nós “temos uma noção muito divertida da ficção que é a nossa vida, uma vez que a teia de acontecimentos da nossa vida é de uma delicadeza que beira a loucura.”

Ela finaliza, com esse seu “sentir”:

– “Como não podemos ter tudo nem estar em todo lugar, muito menos ao mesmo tempo, resta-nos respeitarmos nossos limites para poder sustentar nossa pequeneza diante da vida, diante do outro e até mesmo diante de nós mesmos.”

Pensem nisso.

Notas:
1. A reprodução parcial ou total de qualquer parte desta mensagem, dependem de prévia autorização (Lei nº 9.610/98).
2. Havendo nesta mensagem qualquer alegação ou citação que mereça ser melhor avaliada ou que seja contrária aos interesses dos seus autores, mande sua solicitação para edsonbsb@uol.com.br
3. As citações do artigo da doutora Ana, foram reproduzidas da Revista humanitas, n. 163, publicação da Editora Escala.

Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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