“O TEMPO CORRE, O TEMPO É CURTO: PRECISO ME APRESSAR, MAS AO MESMO TEMPO VIVER COMO SE ESTA MINHA VIDA FOSSE ETERNA.”
São palavras de Clarice Lispector. Com a chegada de um novo ano, foram escolhidas para lhe desejar um permanente “renascer” de melhorias em todos os sentidos do seu viver. Ao querer intensamente perpetuar o seu existir, Clarice parece brincar com a passagem do tempo em nossas vidas. Sempre enriquecendo a nossa jornada para o “autoconhecimento” (mensagens 015, 038, 190, 271, 275, 277, 320, 326), não esqueço quando fiquei surpreso com esta sua confissão:
– Faço o possível para escrever por acaso. Eu quero que a frase aconteça. Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio. Expressar-me por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras.
Só depois de seguidas leituras acreditei ser de Clarice esse silêncio, para nós transmitir o seu envolvente “sentir” com a sensibilidade da alma. Com graduação em Letras, formação em Linguística e doutorado em Psicologia explica a psicanalista Lucília Maria Abrahão, que se dedica ao estudo das principais interpretações relacionadas ao tempo e as intersecções entre a linguagem e o psiquismo humano:
– A linguagem é incompleta, opaca e equívoca e não nos dá garantia de inteireza. A criação é um dos modos de dar borda ao impossível dizer, ao que não conseguimos colocar em palavras. Justamente porque nos faltam palavras para denominar o mundo e os sentimentos, a criação acontece como uma aposta em algo que não se sabe como é, o que é, de que modo se constitui. Muitos artistas e escritores não conseguem explicar sua
obra e seus mecanismos de composição justamente por isso.
Nesta jornada para o “autoconhecimento” dediquei muitas mensagens sobre o “tempo”. Destaco as seguintes: Sentindo se a “passagem do tempo é ilusória” (042), Sentindo a subjetividade ilusória do tempo, em nossas vidas (109), Sentindo como “sentir” a passagem do tempo em nossas vidas (130), Sentindo a vida, sem a ilusão do tempo em nós ficar (168), Sentindo com o “tempo da espera”, o que aprendemos com o “AMOR”, Sentindo a subjetividade do “tempo”, em nossas vidas (264) e Sentindo a necessidade de criar um sentido simbólico para o tempo do nosso existir, nesta pandemia (289).
Agora peço a sua atenção para estes ensinamentos do médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise literária do livro “História da sua vida”, de Ted Chiang, lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, que foi adaptado para o cinema com o filme “A Chegada” (a seguir, com a minha numeração):
1. Imagine um momento em que você sente o tempo escoar de forma circular, um verdadeiro “eterno retorno” dos domingos que o deixam na expectativa da segunda-feira, enquanto você também experimenta esse tempo escoar de forma linear de tal modo que, ao olhar para sua vida, lembra-se dos momentos importantes que se passaram e percebe essa progressão medida pelos relógios e calendários até constatar o envelhecimento.
2. Imagine também que assim como podemos recuar ao passado, também pudéssemos enxergar o futuro. Esses e outros assuntos são discutidos no conto “História da sua vida”.
3. A investigação científica tem se deslocado para além da compreensão humana. Na Psicologia Analítica, damos importância aos sonhos e sua funcionalidade teleológica. O inconsciente pode fazer com que cada momento de sua vida influencie todos os outros, para frente e para trás. Assim, a intenção no futuro poderá modificar as probabilidades de uma enfermidade. Um simples diagnóstico pode influenciar o curso da doença. Dessa forma, a psicoterapia é um método que nos faz voltar no tempo para alterar nosso próprio futuro.
4. A vida é uma espécie de espetáculo cujo roteiro não controlamos. Vivemos envolvidos com gozos que se desmancham com o sofrimento e vice-versa.
Começo 2022 com esta certeza:
– O MEU TEMPO EXISTE, É VIDA !