Durante o fluir virtual desta nossa caminhada de “autoconhecimento”, em recente leitura do artigo da Psicóloga Flávia da Silva do Rêgo sobre “A importância da Autonomia”, com enfoque direcionado para os profissionais de reabilitação, detive minha atenção para esta citação do psicólogo americano Carl Rogers, idealizador de uma relação terapêutica por ele denominada “Abordagem Centrada na Pessoa”:
– ACEITAR-SE A SI MESMO É UM PRÉ-REQUISITO PARA UMA ACEITAÇÃO MAIS FÁCIL E GENUÍNA DOS OUTROS.
Ao considerar a pessoa com deficiência como sendo um ser humano único dentro do seu universo de “autonomia” e “necessidades”, ela sustenta que os profissionais de reabilitação “precisam ter clara a necessidade de independência – especialmente quando se trata do universo das pessoas com deficiência – não há mais espaço para um olhar generalista e uniforme”.
Em seguida, esclarece dentre outros argumentos:
1.O grau de autonomia e necessidades estão vinculados a isso, ou seja, não se pode estabelecer qual o nível de autonomia que cada um deve adquirir. Isso deve partir da pessoa diante de suas necessidades e desejos. Quando uma pessoa com deficiência passa a ter consciência de suas próprias escolhas e obtém condições para isso, os ganhos psicológicos são muitos e melhoram significativamente: a auto percepção, as sensações de pertença, autoestima etc.
2.Para discussão desses aspectos, abordei nesse artigo as premissas descritas por Carl Rogers em sua ‘Abordagem Centrada na Pessoa’. Uma destas premissas – e a fundamental delas – é o pressuposto de que as pessoas usam de sua experiência para se definir, ou seja, tudo o que vivemos, de positivo e negativo, desde nosso nascimento, fala muito sobre o que temos como autodefinição.
3.Do ponto de vista do serviço de Psicologia, a psicoterapia tem o objetivo de ajudar as pessoas a se tornarem mais conscientes de suas ações, potencialidades, pensamentos e atitudes, na medida em que estes as afetam, assim como afetam os outros ao seu redor. Durante um processo psicoterápico, a pessoa se modifica e reorganiza a concepção que faz de si mesmo, podendo desviar-se de uma ideia que o torna inaceitável aos seus próprios olhos, indigno de considerações e obrigado a viver segundo normas ditadas por outros. Dessa forma, durante o processo, vai conquistando progressivamente uma concepção de si mesmo como uma pessoa de valor, autônoma, capaz de fundamentar os próprios valores e normas na sua experiência, desenvolvendo, assim, uma atitude de muito positiva em relação a si mesmo.
E posso garantir, diante de minha experiência, que essa afirmação vale para pessoas com qualquer tipo de deficiência. O que difere, para cada um, é o nível de complexidade das dificuldades em cada tipo de apoio que será necessário ao terapeuta na realização de suas intervenções e o meio social em que a pessoa é inserida.
4.Quando uma pessoa com deficiência procura por um serviço de reabilitação, independente do seu nível de comprometimento, busca direta ou indiretamente a aceitação do meio social e a autoaceitação. Para isso, esses ambientes e profissionais precisam ser acolhedores, voltados para a busca de potencialidades e o empoderamento dessas pessoas.
Com estas importantes considerações, volto para a mencionada afirmação de Carl Rogers:
– ACEITAR-SE A SI MESMO É UM PRÉ-REQUISITO PARA UMA ACEITAÇÃO MAIS FÁCIL E GENUÍNA DOS OUTROS.
Observa-se, com facilidade, que esse estado psicosensório de “aceitação de si mesmo”, além de estar por nós moldado, inclusive para os outros, de certa forma também está associado aos resultados das nossas buscas de “autoconhecimento”. Entenda-se, nesse caso, como sendo o subjetivo “espelhar interior” do reconhecimento da nossa “individualidade existencial”. Em outras palavras: – é o mostrar, para nós mesmos e para os outros, as “projeções sensórias” do nosso “EU”. Parece-me, salvo engano, que esse meu “pensar” está em sintonia com esta explicação do doutor Carlos São Paulo, médico e psicoterapeuta junguiano, ao comentar na sua coluna “Divã literário” a obra “Macunaína, o herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade, publicada na Edição 110, Ano IX, da Revista PSIQUE, lançada no Brasil pela Editora Escala:
– O Eu nos dá uma identidade e estabelece um elo entre a sua condição biológica, que o faz existir, como uma estrutura que imagina a si mesmo e, também, supõe como está sendo visto pelo outro. A partir da forma como se vê imaginado, monta seus mecanismos para enganar o outro e atender ao ideal dentro de um grupo social.
Termino esta mensagem sugerindo que você, nas suas práticas de “autoconhecimento”, modele o espelhar da sua aceitação como “pessoa”, de acordo com os seus ideais de plenamente “sentir-se bem”. O alcance desse estado de interiorização, certamente enriquecerá você em todas as suas interações existenciais de mútuas necessidades humanistas.
Notas:
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3.O artigo da doutora Flávia, está publicado na Edição 108, Ano IX, da Revista PSIQUE, publicação da Editora Escala.
Muita paz e harmonização interior.