(302) Sentindo, para o seu “pós-pandemia”, que já podemos modular a percepção dos nossos sentimentos (Parte VII da 296).

“O “TEMPO” É UMA ABSTRAÇÃO, UM MOSAICO DE APARENTES PERCEPÇÕES SENSORIAIS DE “IMPERMANÊNCIAS”, QUE VIVENCIAMOS COM A SUBJETIVA SENSAÇÃO DE “PASSAGEM” EM NOSSAS VIDAS.”
São minhas palavras sobre a nossa percepção de “tempo”. Nesta pandemia, escutei de algumas pessoas que para elas o “tempo” parou. São manifestações que também podem ser explicadas por reações emocionais causadas pelas necessárias medidas de proteção em isolamento social e de controle de permanências e circulação pública em diversos lugares. Certo é que somos responsáveis pelas nossas ações, porque temos a capacidade de definir, para nós mesmos, realidades existenciais e imaginárias. São preferências de escolhas que fazemos, por caminhos diversos. Muitos deles, concebidos e modelados com expectativas de destinos ainda desconhecidos. O meu “tempo”, não me condiciona. Por vezes, até parece não existir. Dos meus “tempos de descobertas”, guardo os aprendizados que me fortalecem e ajudam ressignificar o meu “viver”.

O que motivou esta mensagem foi o interessante e bem elaborado artigo “Tempos Suspensos”, da doutora Ana Maria Haddad Baptista, publicado na Edição 137 da Revista Humanitas, lançada no Brasil pela Editora Escala. Ana Maria é graduada em Letras, possui mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pós-doutoramento em História da Ciência pela Universidade de Lisboa e PUC/SP, autora de diversos livros publicados no Brasil e no exterior. Há muito fiquei esperando uma oportunidade como esta, para enriquecer a nossa jornada para o “autoconhecimento” (mensagem 001). A minha leitura do seu curriculum, confesso, me deu orgulho de ser brasileiro. Com esmerada sensibilidade de estilo, Ana assim manifestou parte do seu “sentir” sobre o “tempo” de pandemia:

– A experiência do isolamento social tornou ainda mais urgente a compreensão do tempo, esse senhor cuja biografia foi explorada por muitos pensadores. Invisível, ele sempre escancara a nossa finitude.

A verdade sempre teve uma relação essencial com o tempo, por lembrar uma vez mais de Deleuze. E aqui a velha pergunta: o que é o tempo? Como falar a respeito de algo que é invisível? Mas todos sentimos, de alguma forma, certa dimensão que flui internamente e ao nosso redor. O tempo. Eterno mistério. O tempo! Um processo que nos conduz à finitude pelos caminhos mais diversos. Heidegger lembra que o relógio não é o tempo. O relógio é uma relação indireta com o tempo. Mede-o. Apenas isso. Um mero indicador de que alguma coisa passa. Uma apreensão. Nada mais do que isso.

Para Paul Ricoeur existem duas leituras a respeito do tempo que se apresentam com mais clareza. Complementam-se. Uma cosmológica e outra psicológica. Admite, o pensador francês, que não há como unificar o tempo em termos conceituais. Tal perspectiva deve nos conduzir a questões mais amplas. Em outras palavras: o tempo cosmológico se desdobra pelas cronologias, e o tempo psicológico, de alma, mergulha em subjetividades. Tempo quantitativo. Tempo qualitativo.

Tempos suspensos, ou seja, aqueles que imprevisíveis rompem com nosso cotidiano social e subjetivo, na maioria das vezes, preenchidos pelo tédio. (…) Nessa perspectiva nos colocam, talvez, em face de reflexões mais amplas a respeito de nós mesmos. Em que medida nossas frequências subjetivas podem ser ativadas e potencializadas? Em que medida nossos abismos, sempre vertiginosos, podem e devem ser acionados? Em que medida temos a capacidade e disposição para viver, de fato, o instante?

FOME DE SENTIDO
E finalmente, pensando, em parte, com Jean-Luc Nancy, a nossa identidade, individual e coletiva, quando em situação de tempos em descontinuidade, tempos suspensos, vacilam. Oscilam. Com isso as contradições que nos cercam se tornam, sobretudo, mais exponenciais. O que nos leva à busca de um sentido para a vida. Na verdade, imersos em um tempo que nos expõe à própria exposição, ou seja, espaços e valores que eram identificáveis, de repente, se tornam inconsistentes. A existência se torna opaca a si mesma. Como existir sem clareza de um sentido para a vida? Ou nas palavras de Nancy: “Como fazer ver que o sentido se expõe impenetrável, e nos expõe a esta compacidade?” Precisamos, com urgência, de um pensamento que materialmente seja poroso a ponto de estar disposto a se desfazer em prol da criação de um mundo novo. Que realmente convoque a nossa, tão em vias de falir, capacidade de admiração.

Para mim são reflexões que merecem a nossa atenção, no sentido de valoração das nossas vidas, principalmente nesta triste e preocupante realidade que estamos vivenciando.

Espero você no nosso próximo encontro.

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Muita paz e harmonia espiritual

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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