(250) Sentindo, neste novo ano, o poder de mudar as nossas “realidades” de vida.

“PARA FALAR DE REALIDADE É PRECISO QUE O PERCEBIDO PELA SENSIBILIDADE CHEGUE À CONSCIÊNCIA E ALI SEJA EXAMINADO, PORQUE NÃO BASTA EXPERIMENTAR SEM ENTENDER OU REFERENCIAR O QUE SENTIMOS”
São palavras do psicólogo e filósofo José Maurício de Carvalho, ao comentar a terceira edição do seu livro “O Homem e a Filosofia” que será lançado no Brasil pela Editora Mikelis. O motivo da escolha para iniciar esta mensagem, deve-se ao meu antigo interesse pela necessidade de também se entender as influências recebidas das nossas “realidades” como sendo fontes de “autoconhecimento”. Estou convencido de que é possível, de modo consciente, interpretar, construir, e ressignificar essas “realidades”, reavaliando as percepções vindas do nosso interior e do mundo exterior. Para que isso seja possível, concordo com o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015):

– A PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA MODIFICAR A REALIDADE, CONSISTE EM CONHECÊ-LA.

Acontece que esse conhecimento não é alcançado apenas pela contemplação e análise de uma “realidade” em si mesma. Para o psicólogo Steve Ayan, “nós podemos aprender a antecipar nossas próprias reações em momentos intensos, visualizando os resultados que preferimos e identificando ações que podem mudar sensações futuras”. Portanto, se queremos mudar as nossas “realidades”, inicialmente devemos interpretar os significados sensoriais alcançados com as nossas percepções. Aliás, esse é o objetivo de todas as conhecidas práticas de mindfulness. São essas técnicas de “atenção plena”, que nos ajudam perceber as manifestações sensórias da nossa subjetividade interior. Como sustenta a psicóloga clínica Tiffany Rain Carei, do Hospital Infantil de Seattle, em Washington, “ao aprender a se concentrar nas próprias sensações físicas do aqui e agora, as pessoas ampliam sua capacidade de interocepção”. Esclarece António Damásio, no seu livro “Em busca de Espinosa”, lançado no Brasil pela Editora Companhia Das Letras:

– Quando digo que os sentimentos são constituídos, sobretudo, pela percepção de um certo estado do corpo, ou quando digo que a percepção do estado do corpo forma a essência do sentimento, insisto no valor das palavras “sobretudo” e “essência”. (…) Em muitas circunstâncias, especialmente quando há pouco ou nenhum tempo para reflexão, os sentimentos são de fato constituídos pela percepção de um certo estado do corpo. Noutras circunstâncias, contudo, os sentimentos envolvem a percepção de um certo estado do corpo e a percepção de um certo estado de espírito. Temos imagens não só de um certo estado do corpo mas também, em paralelo, imagens de uma certa forma de pensar.(…) Na construção de um sentimento, a percepção do estado do corpo é, assim, acompanhada pela percepção de temas consonantes com esse estado e pela percepção de um certo modo de pensar.(…) Concluindo, a minha hipótese de trabalho sobre aquilo que são os sentimentos indica que um sentimento é uma percepção de um certo estado do corpo, acompanhado pela percepção de pensamentos com certos temas e pela percepção de um certo modo de pensar. Todo esse conjunto perceptivo se refere à causa que lhe deu origem. Os sentimentos emergem quando a acumulação dos detalhes mapeados no cérebro atinge um determinado nível.

Concordo com António Damásio. Entendo ser o nosso “modo de pensar” que elabora a construção cognitiva de todos os significados das nossas experiências de vida. Mas em todas as relações interpessoais, também devemos escutar com atenção o “modo de pensar” do outro e, assim, comparando, favorecemos uma melhor avaliação das nossas “realidades”. No mesmo sentido, precisam ser aferidas as percepções das nossas interações no “mundo exterior” (principalmente com o esplendor da natureza, preciosa fonte de bem-estar humano). No seu livro “Sentimentos, valores e espiritualidade”, lançado no Brasil pela Editora VOZES, ensina a Doutora Daniela Benzecry:

– A visão de mundo não é simplesmente como um indivíduo pensa o mundo ou acha que pensa o mundo, embora ela interfira nos conceitos e julgamentos que a pessoa faça (pensamento). A visão de mundo de um indivíduo pode estar relacionada a diversas crenças pessoais, aspectos culturais e do espírito da época, mas é sempre subjetiva e individual. Ela orienta a vida da pessoa e vai mudando na medida em que a sua consciência amplia-se pela compreensão oriunda da experiência, assim, a visão de mundo de uma pessoa variará ao longo de sua vida. A visão de mundo é diretamente relacionada aos nossos valores, os definidores das nossas prioridades e, portanto, atua nas nossas escolhas.

Observe que até agora só foram feitas considerações sobre a percepção dos “sentimentos”. Mas os nossos “estados emocionais” também merecem atenção especial para o enfoque desta mensagem. Na obra acima citada, esclarece António Damásio:

– AS EMOÇÕES SÃO UM MEIO NATURAL DE AVALIAR O AMBIENTE QUE NOS RODEIA E REAGIR DE FORMA ADAPTATIVA.

Por sua vez, cabe registrar o interessante estudo do psicólogo holandês Nico Frijda (1927-2015), por ele denominado “Leis das Emoções”. Sobre a da “Realidade Aparente”, explica Marco Callegaro, psicólogo e mestre em Neurociências e Comportamento: “Essa lei valida o que em terapia cognitiva chamamos de interpretação. A lei da realidade aparente postula que as reações emocionais de uma pessoa são causadas pela interpretação da situação, e não da situação em si. Ou seja, não respondemos à realidade, mas ao que consideramos realidade dentro de nosso sistema de crenças e de atribuição de significado.”

Certo é que a “essência interior” dos anseios de renovação de vida, são por nós (e para nós) idealizados de acordo com os desejos e necessidades de futuras realizações em todos os sentidos do nosso existir (inclusive no espiritual). Não basta “querer” mudar a “realidade”, sem antes escolher a “realidade” que gostaríamos de vivenciar. Para os que gostam de Filosofia, acredito que seja assim que devemos entender as três dimensões de vida (a estética,ética e religiosa), que foram concebidas pelo pensador e teólogo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855).

Pergunto:

– QUAL É A “REALIDADE” QUE VOCÊ DESEJA PARA 2019?

No início do ano 2010, na primeira edição da Revista Veja, a escritora Lya Luft, para quem dediquei esta nossa jornada de “autoconhecimento” (mensagem 001), assim começou a sua conhecida e consagrada coluna:

– O ano de pensar
“A essência seria esta: neste ano, eu vou pensar. Em mim, na vida,
nos outros, no mundo, em mil coisas ou numa coisa só – que seja
realmente importante.”
Mudança de ano, que, com o Natal, para uns é celebração (estou desse lado), para outros, melancolia.
O que nos atrapalha é que alguém inventou que temos de tomar decisões e fazer projetos para esse novo ano. São quase sempre irreais, quase sempre não cumpridos. Aí já nos frustramos neste mundo de tantas frustrações, em que a gente teria de ser bonito, saudável, competitivo e competente, bom de cama e ruim de mesa, e uma lista interminável de “ter de”.
Pois eu acho que 2010 pode ser o Ano de Pensar. Bom projeto, boa intenção. Uma só, e já é bastante. Pensar: coisa que tão pouco fazemos, embora seja o que nos distingue das outras feras.

Termino, convidando você a “pensar” na sua atual “realidade” de vida, ou em outra desejada. Tudo é possível pelo nosso merecimento, mas no “tempo certo de Deus”.

Notas:

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2.A explicação do Psicólogo Marco Callegaro foi reproduzida da edição 153 da Revista PSIQUE, publicação da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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