(281) Sentindo a necessidade do controle das emoções, durante a pandemia do coronavírus.

“LOGO QUE COMEÇAMOS A OBSERVAR OS SENTIMENTOS, PASSAMOS A VER QUE SEMPRE HÁ UMA LIGAÇÃO COM O PENSAMENTO, EM TODAS AS COISAS QUE FAZEMOS. UMA VEZ NOTADOS, OS SENTIMENTOS PODEM TAMBÉM SER OBSERVADOS SEM APEGO, COMO UM PÁSSARO QUE PASSA VOANDO. A MENTE FICA COMO UM LAGO TRANQUILO”
São palavras do filósofo Barry Bowden (1945-2010). Foram escolhidas para iniciar esta mensagem porque, como fontes de sabedoria, merecem estar juntas deste belo e expressivo “sentir” de Clarice Lispector:

– É NECESSÁRIO ABRIR OS OLHOS E PERCEBER AS COISAS BOAS DENTRO DE NÓS, ONDE OS SENTIMENTOS NÃO PRECISAM DE MOTIVOS NEM DESEJOS DE RAZÃO.

Começo, pedindo sua atenção para este exemplar comportamento do filósofo e escritor Mario Serfgio Cortella:

– Em entrevista concedida à jornalista Adriana Ferraz, do jornal “O Estado de S.Paulo”, publicada na edição n. 46191 com o título “Saldo pode ser a volta da credibilidade da ciência”, ao ser perguntado sobre o que de positivo pode ser tirado do distanciamento social, respondeu:

– ALGUMA RECLUSÃO, SEM QUE IMPLIQUE EM SOLIDÃO, É BASTANTE BENÉFICA, POIS POSSIBILITA UM USO MAIS LIBERADO E SELETIVO DO TEMPO DISPONÍVEL. NESTE INSTANTE, O DISTANCIAMENTO SERVIRÁ TAMBÉM PARA MÚLTIPLAS AÇÕES QUE O COTIDIANO ATRIBULADO NÃO PERMITE COM INTENSIDADE, DESDE CONVIVÊNCIAS ATÉ REORGANIZAÇÕES DOS ESPAÇOS E COISAS. ALÉM, CLARO, DA DEDICAÇÃO AO ÓCIO RECREATIVO.

Em seguida, sobre os seus cuidados acrescentou:

– DESDE O DIA 16 DE MARÇO ESTOU EM RECLUSÃO ORGANIZADA, TENDO SAÍDO DE CARRO POR ALGUMAS HORAS EM DIAS DISTANTES, SEM CONTATO INSEGURO COM OUTRAS PESSOAS, PARA DUAS TAREFAS IMPRESCINDÍVEIS E SALVAGUARDADAS. AFINAL, EMBORA ME SAIBA MORTAL, QUERO ADIAR ESSA OCASIÃO NO LIMITE MÁXIMO DA MINHA SAUDABILIDADE E CONSCIÊNCIA LIVRE.

A essência do enfoque desta mensagem é subjetiva. Foi motivada pelo meu reconhecimento da importância de uma reflexão sobre como devem ser os nossos comportarmos durante o necessário confinamento social de proteção contra o coronavírus.

Todos nós vivemos o que experimentamos. Somos influenciados por um contínuo fluir de sucessivos eventos, muitos deles para nós desconhecidos ou inesperados. Acontece que existem experiências, sejam de que natureza forem, que precisam ser precedidas de um fortalecimento psicológico para nos ajudar nessa realidade do coronavírus. Como enfrentar essa situação? Não é fácil porque ficamos fragilizados, inseguros e com medo, por causa das incertezas dessa assustadora experiência para a qual ninguém estava preparado. Nesse preocupante cenário, ensejador da adoção de medidas urgentes de proteção, entendo que devemos exercitar a nossa “inteligência emocional”. Refiro-me à capacidade humana de reconhecer “emoções”. Como fazer? Primeiro peço a sua atenção para as seguintes informações:

1.Esclarecem Albert Newen e Alexandra Zinck, ambos da Universidade Ruhr, em Bochum): O autoconhecimento e a atribuição de sentidos ao que vivemos influem diretamente sobre a forma como nos apropriamos das experiências. Estímulos internos, assim como a atribuição de sentidos a eles, representam fatores importantes, que influem diretamente sobre a forma como vivemos experiências emocionais e as interpretamos. As chamadas emoções básicas [no isolamento social, principalmente as de “medo” e de “tristeza”] independem do processo mental consciente, possibilitando, assim, um rápido direcionamento da atenção.
2.Para Elisabeth Pacherie, pesquisadora do Instituto Jean Nicod de Paris, a emoção é determinada pela maneira como representamos a situação e pela avaliação que dela fazemos.
3. Segundo Sylvie Berthoz, psicóloga e doutora em neurociências do Instituto Mutualiste Montsouris de Paris, existem pessoas que não identificam suas emoções e reagem com sintomas físicos, como dores e taquicardia. Isto porque provavelmente, na infância, não aprenderam a expressar alegria, raiva ou tristeza.

Para exercitar a nossa “inteligência emocional” precisamos reconhecer “emoções”. Não apenas as nossas, por meio de um interior e silencioso encontro “consigo mesmo”, mas, também, as emoções “do outro” ao nosso lado e as emoções daqueles que interagimos à distância. Incluo nessa abrangência, as nossas crianças (filhos, netos), os idosos e os nossos animais de estimação. Justifico esse meu entendimento porque, quando não estamos bem, eles demonstram aguçada percepção de sensibilidade. Para mim, a natureza desse comportamento é de “integração espiritual”, muito comum nos gatos e cachorros. Aliás, estou convencido de que eles entram na vida da gente para ficar. Vejam, como exemplo, o transcendente alcance subjetivo da essência deste “sentir” do poeta e ensaísta Ferreira Gullar, ao perder a gatinha que lhe foi dada pela cantora Adriana Calcanhotto:

– PARA ELA A MORTE NÃO EXISTE, COMO PARA NÓS, GENTE. ELA É MORTAL, MAS NÃO SABE, LOGO É IMORTAL.

Ainda, sobre a presença dos animais domésticos em nossas vidas (que também podem ser vítimas do coronavírus), no seu artigo “Elo de apoio emocional”, esclarece a Psicóloga Claudia Maria França Pádua:

– Quando olhamos para o nosso animal de estimação sabemos o quão importante ele é para nós e identificamos as emoções que ele nos transmite através do olhar, de uma lambida, de um abanar de cauda ou de um afago espontâneo ao chegarmos à casa… um ser peludinho, que nos espera sempre, incondicionalmente com alegria e muito amor. Com todos os avanços da ciência, pesquisas revelam que o convívio com os animais é considerado um dos melhores recursos terapêuticos. Os animais domésticos passaram a ser considerados importantes na sociedade por oferecer apoio emocional.

Com relação às muitas das experiências ensejadas pelo recebimento de estímulos (internos e externos), entendo que algumas emoções podem estar relacionadas às condições de ambientação. Nesse caso, são reações emocionais explicadas pela comprovada “plasticidade do cérebro”. A respeito, no seu artigo “Plasticidade Cerebral e Plasticidade Emocional”, esclarece a doutora Adriana Fóz, pós-graduada em Psicologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP):

– O que faz essa tal plasticidade? A plasticidade cerebral refere-se à capacidade que o Sistema Nervoso possui em alterar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente, segundo Oliveira e cols, 2000 [Adriana estava se referindo à obra “Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC”]. Diversas análises dos aspectos plásticos do SNC (sistema nervoso central) permitem que os relacionemos a vários fatores, tais como a influência do meio ambiente, o estado emocional, o nível cognitivo, dentre outros. Durante muito tempo, pensou-se que o cérebro fosse uma estrutura rígida, não “modificável”, e que alterações por lesões estariam fadadas àquela realidade.

Sobre a “plasticidade emocional” (PE), complementa:

– Tem como características as habilidades conscientes que podemos otimizar para promover, recuperar ou modificar nosso desempenho. A PE é um conjunto de competências que devem ser estimuladas para que possamos melhorar nossa performance na vida [entenda-se, no sentido de realização, feito ou desempenho]. Dentre estas: consciência, motivação, criatividade, intuição, empatia, flexibilidade mental, controle de impulsos, treino, foco, generosidade.

Para concluir, durante a preocupante pandemia do coronavírus “precisamos” ficar atentos e observar todas as “manifestações emocionais”. As nossas e as dos outros. Também, sempre que possível, devemos identificar suas causas.
Não esquecer de fazer uso dos seus medicamentos, de acordo com as condições prescritas. Quando for preciso, nunca deixar de procurar ou seus médicos pelos meios de comunicação ao seu alcance. Cabe a você e aos nossos familiares próximos, acompanhar as alterações do nosso “equilíbrio emocional”. A respeito, recomenda a Psicóloga Isabela Cotian no seu artigo “A conquista do equilíbrio emocional”, que foi escrito principalmente para as mulheres que são mães:

– Cada dia ganha mais importância o equilíbrio emocional para o bem-estar da pessoa. Portanto, é imprescindível descobrir como desenvolvê-lo antes que seja tarde. A busca pelo equilíbrio emocional está cada vez mais frequente, independentemente de sexo e idade. A habilidade em se conhecer e lidar com os próprios sentimentos, sabendo se adaptar às diferentes situações e expressar seus pensamentos e sentimentos de maneira saudável para si mesma e para o outro faz parte dessa busca. Para nós, mulheres, essa busca fica ainda mais forte após a maternidade. O maior presente que podemos dar aos nossos filhos é criar espaço e encorajamento para que saibam lidar com eles mesmos, para que eles possam se conhecer e cuidar de suas emoções. Aprendemos isso à medida que também estamos aprendendo a enfrentar as nossas emoções e frustrações. Hoje em dia contamos com uma gama de informações, conteúdos, técnicas e recursos que abordam como encontrar o equilíbrio para lidar com um mundo frenético. Também existem técnicas que ensinam a acalmar a mente e os pensamentos acelerados, assim como a ouvir a própria respiração, a intuição, a alma. A meditação é uma delas.

Desejo que durante o nosso necessário isolamento social, todas as mensagens desta série sobre o coronavírus sejam aproveitadas para um nosso:
REPENSAR A VIDA!!!!

Notas:
1.A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2.As citações do filósofo Barry Bowden; de Albert Newen e Alexandra Zinck; de Elisabeth Pacherie; de Sylvie Berthoz; de Claudia Maria França Pádua; de Adriana Fóz; de Isabela Cotian, de acordo com a ordem do texto da mensagem, foram respectivamente reproduzidas da EDIÇÃO N. 60, ANO 14, Revista SOPHIA; da edição n. 5, de 2013, da Revista mente e cérebro, edição especial n. 5, sobre “o desafio das Emoções, de 2013, da Editora Duetto; e das Edições ns.93 e 152 da Revista PSIQUE, publicação da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.

Publicado por

Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br

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