(320) Sentindo a importância de conhecer ou ressignificar o nosso “viver”, nesta pandemia (Parte Final da 318).

“O TEMPO CORRE, O TEMPO É CURTO: PRECISO ME APRESSAR, MAS AO MESMO TEMPO VIVER COMO SE ESTA MINHA VIDA FOSSE ETERNA. […] A ETERNIDADE É O ESTADO DAS COISAS NESTE MOMENTO.”

Que Belo espelhar sensorial da “percepção interior” de Clarice Lispector. Talvez tenha sido assim que ela, brincando com o uso das palavras “tempo” e “eternidade”, “fez-se sentir” em suas buscas de “significados” para nos transmitir a perpetuação da essência do seu “existir” e do seu “viver”. Para mim não foi surpresa, porque já conhecia esta sua declaração: “Não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir.”

No nosso último encontro, ficou pendente de resposta esta pergunta:

– As “percepções interiores” recebidas e modeladas pelas nossas interpretações de experiências subjetivas refletem, para nós, significados dos nossos “sentimentos” e interações emocionais ?

Vejam que de modo implícito, o enunciado dessa pergunta nos direciona para uma possível resposta afirmativa, porque a nossa “capacidade de interpretar” tem por objetivo a busca de “significados”. No seu livro “Sentimentos, valores e espiritualidade – Um caminho junguiano para o desenvolvimento espiritual”, publicado pela Editora VOZES, explica a doutora Daniela Benzecry:

– A função sentimento é a função que determina o valor de algo para a pessoa. É por intermédio da função sentimento que avaliamos algo em termos de aceitação ou rejeição. Qualificar e definir o significado de algo no sentido de aceitação ou de uma rejeição subjetiva a partir do valor dele para a pessoa, é atribuição da função sentimento. Assim, o sentimento contribui para uma pessoa interpretar algo como bom ou ruim, feio ou bonito, se gosta ou não etc., “é ele que nos diz, por exemplo, se uma coisa é aceitável, se ela agrada ou não”(JUNG. OC, vol. 18/1, § 23).

Por sua vez, esclarece a neurocientista Marta Relvas, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento, e docente da Universidade Candido Mendes (“Cognição Humana”, artigo publicado em outubro de 2019, na Edição 166 da Revista PSIQUE, da Editora Escala):

– […] o cérebro funciona processando as informações que recebe por intermédio dos órgãos dos sentidos, sejam esses os órgãos da visão, da audição, do tato, do paladar ou do olfato, e depois de processar e elaborar os significados dessas informações emite uma resposta motora ou, conforme o caso, memoriza-a para, talvez em outro momento, utilizá-la e emitir a resposta correspondente.

Complemento, com estas minhas palavras:

– Nós somos o que sentimos ser para nós mesmos, diferente de como acontece nas nossas relações interpessoais em que o “Outro” conhece os “significados” de como, para ele, nos mostramos ser.
Pelas percepções sensoriais de muitas das nossas experiências emocionais, entendo que, principalmente agora nesta pandemia, o ser humano “precisa” e “pode” favorecer o “despertar interior” das suas necessidades de significar o seu “existir” e o seu “viver” em todas as relações com o seu “mundo exterior”. Pergunto: Como fazer? Estou convencido que somos nós que criamos “significados” para nós mesmos, para as nossas realidades.

Também merece registro que, no capítulo cinco do seu livro acima citado, Daniela Benzecky reconhece que as nossas buscas de “valores transcendentes” são importantes para dar “significados” à vida e à nossa existência individual. Em seguida, ela acrescenta:

– O sentido da vida de cada pessoa está se realizando; ele se manifesta em como a pessoa vive hoje e isto depende de suas escolhas e das consequências delas. Em função de quê as escolhas são feitas, ou seja, para o quê a pessoa vive é o sentido de sua viva. Desse modo, o sentido da vida se realiza no presente, ressignificando o passado e apontando para o futuro, a fim de dar significado à existência.

Pergunto:

COM AS INCERTEZAS DESTA PREOCUPANTE E TRISTE PANDEMIA O QUE PODEMOS, EM SÍNTESE, APRENDER COM AS NEUROCIÊNCIAS?

Gosto destas explicações de António Damásio (“A estranha ordem das coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, publicação da Editora Companhia Das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta):
1. Em circunstâncias comuns, os sentimentos comunicam à mente, sem o uso de palavras, se a direção do processo da vida é boa ou má, em qualquer momento, no respectivo corpo. Ao fazerem isso, eles naturalmente qualificam o processo da vida como conducente ou não ao bem-estar e à prosperidade.
2. Sentimentos são as experiências subjetivas do estado da vida.
3. Os sentimentos nos dizem o que precisamos saber. Não há razão para que fiquemos na dependência apenas deles para nos cuidar. Mas é importante salientar seu papel fundamental e seu valor prático, a razão indubitável de eles terem sido preservados na evolução.
4. A experiência sentida é um processo natural de avaliar a vida relativamente às suas perspectivas.

Avalie como você está se sentindo na pandemia. Nessa sua busca de “significados existenciais”, acredite em um nosso novo “renascer” de transformações humanistas.

Termino esta mensagem com este “sentir” do fisioterapeuta Serge Peyrot, criador da terapia morfoanalítica:

QUANDO O CORPO COMEÇA A FALAR E A MENTE A SENTIR, A PESSOA DESCOBRE UMA NOVA DIMENSÃO E COMPREENSÃO DE SI MESMA !

Notas:
1.A reprodução parcial ou total, por qualquer forma, meio ou processo eletrônico dependerá de prévia e
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Muita paz e harmonia espiritual para todos. !

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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