(327) Sentindo a necessidade de conhecer as nossas subjetivas interações emocionais (Parte II da 326).

“PERCEBER EQUIVALE SEMPRE A INTERPRETAR E, PORTANTO, A ATRIBUIR CARACTERÍSTICAS A SINAIS SENSORIAIS. AS PERCEPÇÕES SÃO SEMPRE CONSTRUÇÕES MENTAIS.”

“SEM A EXPERIÊNCIA SUBJETIVA QUE APREENDEMOS POR MEIO DA INTROSPECÇÃO, NÃO SE PODERIA FALAR DE CONSCIÊNCIA. NA VERDADE, NÃO PODERÍAMOS NEM FALAR DO QUE QUER QUE FOSSE.”

São palavras monge budista Matthieu Ricard, selecionadas do seu livro “Cérebro e Meditação – Diálogos entre o Budismo e a Neurociência”. Escrito em parceria com o neurobiologista Wolf Singer, foi publicado no Brasil pela Editora Alaúde com tradução de Fernando Santos. Foram escolhidas para iniciar este nosso encontro, porque todas “experiências subjetivas” são fontes de conhecimento e de aprendizados. Mas nessa imersão ao desconhecido da nossa “subjetividade interior”, reveste-se de importância quando temos “consciência” dos seus significados. Muitos deles, em nossas vidas, influenciados e modelados pela sensorial linguagem simbólica do nosso “inconsciente”. Sugestão de leitura (mensagem 268).

Sobre uma série de atividades integradas ao cérebro, gosto desta explicação da doutora Susan Greenfield, que é pesquisadora da Universidade de Oxford (Publicada na Edição 368, de novembro de 2016, da Revista Superinteressante, da Editora Abril):

– A consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma representação mental que é armazenada em sua memória. Quanto mais o mundo passa a ter significado para você, mas conexões são feitas no cérebro.

Agora, prestem atenção: “Emoção” é experiência subjetiva. Naturalmente todos nós “sentimos” as manifestações dos nossos estados emocionais. Ensina o neurocientista António Damásio no seu mais recente livro, “A estranha ordem das coisas – as origens biológicas dos sentimentos e da cultura”, publicado no Brasil pela Editora Companhia das Letras com tradução de Laura Teixeira Motta (a seguir, com minha numeração):

1. A experiência sentida é um processo natural de avaliar a vida relativamente às suas perspectivas. 2. Em circunstâncias comuns, os sentimentos comunicam à mente, sem o uso de palavras, se a direção do processo da vida é boa ou má, em qualquer momento, no respectivo corpo. Ao fazerem isso, eles naturalmente qualificam o processo da vida como conducente ou não ao bem-estar e à prosperidade. 3. O desencadeamento de respostas emotivas ocorre de modo automático e não consciente, sem a intervenção da nossa vontade. Frequentemente, percebemos que uma emoção está acontecendo não por causa da situação que a desencadeia, mas porque o processamento da situação causa sentimentos, isto é, experiências mentais conscientes do evento emocional. Depois do sentimento, podemos entender (ou não) porque estamos nos sentindo de certo modo. 4. Qualquer imagem que entra na mente tem direito a uma resposta emotiva.

Sobre as nossas interações existenciais esclarece o médico e psicoterapeuta junguiano Carlos São Paulo, na sua análise literária do premiado livro “Extraordinário”, da autora americana R. J. Palacio, que conta a história de August Auggie, um menino de 10 anos que nasceu com o seu rosto sem harmonia facial (Revista PSIQUE, Edição n.143, publicação da Editora Escala):

– Na Psicologia de C. G. Jung, cada sujeito precisa se relacionar com o mundo externo e objetivo se adaptando a ele; mas também existe um mundo interno e subjetivo, repleto de experiências do ser humano e de nossas próprias vivências guardadas, com diversas tonalidades afetivas, que também exigem que possamos nos relacionar e nos adaptar a ele. Nesse modelo da Psicologia, a estrutura da relação com o mundo externo foi chamada de “Persona”, que é um modo de imaginarmos como somos vistos pelos outros. A imaginação de Auggie, sobre nos conhecer com máscaras e depois nos sentirmos em contato com a verdade, evitaria o preconceito, para permitir que pudéssemos ser conhecidos em nossa essência. […] Na Psicologia de Jung, a estrutura da relação para com o mundo mais profundo da nossa natureza, o mundo interior, foi chamada de “Alma”. E são esses conteúdos existentes na “Alma” que, ao se manifestarem, sofrem a ação da consciência, separando-os em opostos irreconciliáveis. Na “Alma” não há separação entre o perfeito e o imperfeito, existe o ser. É ao passar pela consciência que esse ser pode se transformar no belo, com as suas formas harmônicas e proporcionais, ou em sua oposição, a feiura. […] O sentimento de assombrar o outro, ser motivo de risos, acontece até essas pessoas encontrarem a capacidade de amar a si mesma, para ser possível serem vistas em sua essência.

Muito antes desta mensagem, fiquei convencido de que nós precisamos conhecer os “significados sensoriais” da linguagem simbólica das nossas “emoções” (se possível, através de um nosso “escutar silencioso” elaborado e construído pelas projeções interiores recebidas da nossa “Sensibilidade da Alma”). Também é assim que tudo se mostra para nós, com as composições das matizes sensoriais das imagens do nosso imaginário. Talvez tenha sido por isso que no seu livro acima citado, Matthieu conta esta história:

– Dois cegos queriam compreender o que são as cores. Para um deles disseram que a neve é branca. Quando ele pegou um punhado de neve, concluiu que o branco era frio. Para o outro cego, disseram que os cisnes eram brancos. Ele ouviu um cisne passando por cima da sua cabeça e deduziu que o branco era o som do barulho de asas no ar.

Notas:
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Muita paz e harmonia espiritual para todos.

Notas:

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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