(314) Sentindo a subjetividade das nossas percepções sensoriais de “solidão” (Parte V).

“DEPENDENDO DA FORMA COMO RESPONDEMOS AOS APRENDIZADOS QUE SURGEM, PODEM NASCER NOVOS PRINCÍPIOS, NOVAS SOLUÇÕES E UMA NOVA CONSCIÊNCIA SOCIAL. NINGUÉM ESCOLHE O CAMINHO INCERTO, ELES PRECISAM ACONTECER COM A GENTE. MAS SÃO AS INCERTEZAS, E NÃO A RIGIDEZ, QUE NOS LEVAM ÀS MELHORES PERGUNTAS – AQUELAS QUE COLOCAM EM QUESTÃO PRÁTICAS JÁ FRAGILIZADAS E ABREM ESPAÇO PARA IMPORTANTES DISCUSSÕES MORAIS E SIGNIFICATIVOS AVANÇOES QUE MUDAM O FUTURO.”
São palavras da doutora Michele Müller, pesquisadora, especialista em Neurociências, Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação, que se dedica ao estudo e aplicação de estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Foram selecionadas do seu artigo “Experiência psicológica coletiva”. Sobre uma das consequências desta pandemia, em que o mundo inteiro se viu trancado em uma sala de “Escape Room”, afirmou que a nossa “confiança no suporte coletivo traz equilíbrio emocional para o indivíduo e para a sociedade, pois sem ela corremos o risco de entrar em pânico e isso nos cegar pela sensação de desamparo”. No decorrer da sua análise, também reconheceu que “nem sempre existe uma inteligência coletiva que tem respostas seguras e mantém inabalável a ordem que construímos. Em momentos como esse, nos lançamos juntos ao incerto, fazemos jogadas arriscadas e nos deparamos com nossa precária capacidade de prever resultados, com a nossa fragilidade e, mais importante, com a nossa interdependência e necessidade, urgente, de integração e cooperação”.
Para a doutora Michele, “a saúde passou a ser vista como questão pública e prioritária, a responsabilidade social pesou sobre cada indivíduo, a privação de liberdade tomaram novas perspectivas de pensamento, a necessidade de conexão e contato ficou evidente, a nossa capacidade de adaptação tornou-se questão de sobrevivência, a forma como vivemos e nos relacionamos passou a ser questionada”.

COMO VENCER A COVID-19?

Entendo que precisamos de práticas com demonstrações firmes e convincentes de responsabilidades “individual” e “social”, voltadas para a proteção das nossas vidas; precisamos repensar o nosso “existir”, para ajudar fortalecer o nosso emocional na superação de todas as imprevisibilidades, atuais e futuras, desta difícil e triste realidade que todos nós estamos vivenciando. São, portanto, iniciativas pessoais e coletivas de ações conjuntas necessárias e urgentes, porque também não podemos esquecer que o comportamento humano está sujeito aos possíveis aumentos de problemas psicológicos, principalmente relacionados aos conhecidos estados de ansiedades e depressão. No seu esclarecedor artigo “A ansiedade nossa de cada dia”, explica a psicóloga Francine Guimarães Gonçalves, Doutoranda em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):

– Pensamentos trazem percepção de vulnerabilidade e distorcem a forma de lidar com eventos estressantes. Em situações de crise, a ansiedade pode perder a sua função adaptativa e, assim, perder o seu papel protetor e motivador, tornando-se patológica e gerando intenso sofrimento. A ansiedade pode ser expressa através de componentes fisiológicos, cognitivos, emocionais e comportamentais. A incerteza frente ao futuro nos cerca diariamente. É natural. Constatada a nossa impotência, se faz necessário pensar em ferramentas de manejo da ansiedade.

Voltem para as palavras iniciais da doutora Michele, e respondam esta pergunta:

NESTA PANDEMIA, QUAIS SÃO OS APRENDIZADOS QUE PODEM DESPERTAR EM NÓS, NECESSIDADES DE BUSCAS DE SOLUÇÕES E DE DESCOBERTAS DE SENTIMENTOS QUE FAVOREÇAM O RENASCER DE UMA NOVA “CONSCIÊNCIA SOCIAL” DE MAIS RESPEITO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DE VALORAÇÃO E PRESERVAÇÃO DAS NOSSAS VIDAS, DE MAIS SOLIDARIEDADE E, COMO DESEJAMOS, PARA CONSOLIDAR UM NOVO FUTURO?

Nos momentos difíceis da pandemia tenho pensado muito nestas considerações (por mim recebidas em forma de advertência), da professora em cognição gerencial e organizacional, Keitiline Viacava, que é doutora em Psicologia pela UFRGS com pós-doutorado em Neurociência Cognitiva na Universidade de Georgetown, em Washington, D.C.:

– Não raramente, somos atraídos para certas situações de forma automática. Esse tipo de atenção opera de maneira implícita e, se ocorrer de forma sistemática, pode configurar um viés não consciente da atenção. (…) Outras vezes, concentramos nossa atenção de forma deliberada, explícita, quando temos objetivos claros, que necessitam de foco e determinação. É curioso como a atenção pode ser a base para nossos processos cognitivos mais elevados e, ao mesmo tempo, receber tão pouco enfoque nas ações voltadas ao autoconhecimento. Em um mundo onde a atenção é escassa, precisamos aprender mais sobre quais informações selecionar, descartar e, ainda, transmitir adiante para guiar planos, ações e tomadas de decisões. A forma predominante como a atenção é operacionalizada na nossa mente, se de maneira voluntária ou involuntária, também merece a nossa compreensão, pois influencia o quanto conseguimos orientá-la à busca de informações guiadas aos nossos objetivos.

Desejando que este nosso encontro tenha sido recebido por todos com a essência contagiante de uma nossa renovação de “união” e de “solidariedades humanistas”, em todos os sentidos do nosso “viver”, termino esta mensagem com esta interessante e bela percepção dos doutores em Psicologia Clínica da PUC-SP, Michel Alexandre Fillus e Ana Paula Navarro de Vasconcellos, sobre as nossas “realidades”, no seu interessante artigo “Mundus Imaginalis”, publicado na edição 139 da Revista “Humanitas”, da Editora Escala:

– Em suma, do mesmo modo que consideramos uma realidade externa – a qual costumeiramente chamamos de realidade com “R” maiúsculo – há uma realidade interna que é tão “real” como a primeira. Esta aponta para o mundo interior, o mundo das nossas emoções, das nossas representações internas, de forças que dirigem nosso desenvolvimento e apontam o caminho. Lidamos com a realidade externa a partir de nossos recursos internos, das concepções que nutrimos a respeito da vida e de como podemos enxergar nela um contexto de desafio pessoal para o autoconhecimento e desenvolvimento. Todas as noites somos inundados de novas imagens e histórias. A partir do “Mundus imaginalis” constituímos uma narrativa sobre nós mesmos e para entender o mistério de ser quem somos.

Espero você no nosso próximo encontro.

Notas:
1. A reprodução parcial ou total, através de qualquer forma, meio ou processo eletrônico, dependerá de prévia e expressa autorização do autor deste espaço virtual, com indicação dos créditos e link, para os efeitos da Lei 9610/98, que regulamenta os direitos de autor e conexos.
2. As citações das doutoras Michele Müller e Francine Guimarães Gonçalves foram, pela ordem, reproduzidas dos seus artigos “Experiência psicológica coletiva” e “A ansiedade nossa de cada dia”, publicados na edição 171 da Revista PSIQUE da Editora Escala; as citação da doutora Keitiline Viacava e dos doutores Michel Alexandre Fillus e Ana Paula Navarro de Vasconcellos, foram, pela ordem, reproduzidas dos seus artigos “Se a atenção é escassa, a informação é luxo” e a “Mundus Imaginalis”, publicados na edição 139 da Revista Humanitas, também da Editora Escala.
3. Havendo, neste espaço virtual, qualquer alegação que mereça ser melhor avaliada ou contrária aos interesses dos seus autores, mande a sua solicitação para edsonbsb@uol.com.br

Muita paz e harmonia espiritual.

Sobre Edson Rocha Bomfim

Sou advogado, natural do Rio de Janeiro e moro em Brasília. Idade: Não conto os anos. Tenho vida. Gosto de Arte, Psicologia, Filosofia, Neurociência, Sociologia, Sincronicidade e Espiritualidade. Autores preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Mark Nepo, Cora Coralina, Clarice Lispector, Lya Luft, Mia Couto, Mario Sergio Cortella e Mauro Maldonato. edsonbsb@uol.com.br
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