“OLHE PARA DENTRO, PARA AS SUAS PROFUNDEZAS, APRENDA PRIMEIRO A SE CONHECER”.
São palavras de Sigmund Freud, o criador da Psicanálise. O alcance desse seu “sentir” foi seguido pelo psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, fundador da Psicologia Analítica, por entender que o “olhar para fora é sonhar, para dentro é despertar”. Um despertar para o conhecimento do Si-mesmo, do nosso Self, que foi por ele definido como sendo uma imagem arquetípica da plenitude da nossa totalidade psíquica consciente e inconsciente. Talvez tenha sido em razão desse seu conceito, que Jung reconheceu “o autoconhecimento, como sendo uma aventura que conduz à amplidões e profundezas inesperadas” (OC 14/2, § 398). Por sua vez, gosto deste “sentir” do psicoterapeuta junguiano Mario Jacoby, que em agosto do ano passado escolhi para iniciar a mensagem 225 sobre a meditação Vipassana:
– O ‘SI MESMO’ PARECE CONTER DIMENSÕES DE SI QUE SOMENTE PODEM SER OBSERVADAS POR MEIO DE INTROSPECÇÃO DIFERENCIADA E CONTÍNUA. O QUE SEI SOBRE MIM NUNCA É O QUE SOU INTEIRAMENTE. SOMOS MUITO MAIS DO QUE CONHECEMOS SOBRE NÓS MESMOS.
A motivação desta mensagem pode ser explicada pelo meu antigo interesse de querer entender como, influenciados pelas imagens simbólicas do nosso “inconsciente”, criamos “significados” para as percepções sensórias da nossa subjetividade interior e para muitas das nossas experiências de interações existenciais. Refiro-me a uma imersão ao desconhecido da nossa “psique”, da essência da nossa “individualidade existencial”, porque nem sempre temos condições de “sentir” as vinculações de causalidades que possibilitam mensurar (ou não) a nossa subjetiva valoração de reconhecimento do que (para nós) terá “significado”. Também gosto deste entendimento da doutora Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, sobre uma série de atividades integradas do nosso cérebro:
– A CONSCIÊNCIA NÃO É UM LAMPEJO, MAS UM CONTÍNUO DE CONEXÕES DOS SEUS NEURÔNIOS, QUE VÃO OCORRENDO DO MOMENTO EM QUE VOCÊ NASCE ATÉ O FIM DA SUA VIDA. A CADA NOVA EXPERIÊNCIA, SEU CÉREBRO FAZ UMA REPRESENTAÇÃO MENTAL QUE É ARMAZENADA EM SUA MEMÓRIA. QUANTO MAIS O MUNDO PASSA A TER SIGNIFICADO PARA VOCÊ, MAS CONEXÕES SÃO FEITAS NO CÉREBRO.
Sobre essa retenção na “memória”, merece atenção este entendimento do neurocientista António Damásio sobre as nossas decisões de escolhas:
– O PROCESSO DE ESCOLHA É LONGE DE SER UMA ANÁLISE RACIONAL, POIS FAZ REFERIMENTO ÀS EXPERIÊNCIAS PASSADAS, QUE DEIXARAM UM CAMINHO EMOCIONAL NA PESSOA, EVOCANDO EMOÇÕES E SENTIMENTOS QUE INFLUENCIAM A TOMADA DE DECISÃO.
São muitos (além do equilíbrio corpo, mente e espírito), os benefícios que podemos alcançar com as conhecidas e silenciosas práticas meditativas de “interiorização” (mindfulness). Certo é que as percepções elaboradas pelos nossos processos psíquicos são reveladas por “imagens”. Elas compõem a linguagem perceptível do nosso “inconsciente” que, para a neurociência, é responsável por 95% da nossa atividade cerebral. Aliás, como acredito, essas “imagens” também podem ser projeções intuitivas vindas da nossa “Sensibilidade da Alma” (como são as emergentes do nosso “inconsciente”), que podem influenciar os nossos “modos de ser”, de “agir”, de “sentir” e de “pensar”. Esclarece o doutor Carlos São Paulo, médico e psicoterapeuta junguiano:
1. A vida civilizada nos tem distanciado do inconsciente, e este se revela por meio de símbolos. Na Psicologia de Jung, chamamos de símbolo qualquer imagem que funcione como veículo de energia e mistérios. Imagens que mostram uma face conhecida e outra que se esconde da consciência.
2. Jung nos explica que fatores interiores, em conjunção com fatores exteriores, registrados pela percepção, recebem forma e sentido ao projetar imagens. A atitude da consciência, que, em sua ilusão de realidade, tenta decifrá-las, destrói o símbolo e o reduz a algo como se tivesse existência própria.
3. A vida humana construiu seus símbolos e lhes deu a condição de nos orientar de volta a essa natureza de que um dia nos afastamos, mergulhados na ilusão da lógica do ego. Os símbolos não precisão dessa lógica e eles são os guias que, verdadeiramente, nos levam pelo caminho do destino a ser cumprido.
4. Símbolo é o termo que, para Jung, melhor traduz um fato complexo e ainda não apreendido pela consciência. Quando tomamos o símbolo como algo conhecido, sem respeitar suas dimensões desconhecidas e suas leis não lógicas, perdemos a mensagem que a sabedoria na natureza pretendia nos passar.
5. Vivemos imediatamente apenas no mundo das imagens. É através dos símbolos que damos sentido ao existir.
6. Precisamos que a vida tenha significado e, para isso, o “EU” necessita voltar a se relacionar com o “todo misterioso” ou o Deus dentro de cada um de nós.
Sobre essas considerações do doutor Carlos São Paulo, tenho pensado muito sobre este seu “sentir”:
– NA LINGUAGEM DA PSIQUE, É ATRAVÉS DOS SIMBOLOS QUE DAMOS SENTIDO AO NOSSO EXISTIR. PRECISAMOS QUE A VIDA TENHA SIGNIFICADO.
Pergunto para você:
– QUAIS SÃO OS “SIGNIFICADOS” (INCLUSIVE DE TRANSCENDÊNCIA ESPIRITUAL) QUE PODEMOS SENTIR PARA A NOSSA “EXISTÊNCIA” E “VIDA”?
Entendo que a natureza e o alcance dos “significados” da nossa “existência”, nesta dimensão de vida, são definidos pelas possibilidades de favorecimentos de realizações dos nossos “propósitos”. Todos nós temos liberdade de escolhas para criar os “propósitos” que desejamos para melhor atender as nossas “conscientes” necessidades de completudes “existenciais” e “espirituais”. Acontece que muitos deles não são alcançados, porque nem sempre dependem do nosso “querer”. Concordo com a afirmação do doutor Carlos São Paulo de que “é através dos símbolos que damos sentido ao nosso existir”. Mas não me parece que todas as “imagens” recebidas da nossa “psique” sejam nitidamente simbólicas. Para serem precisam, necessariamente, imantar o nosso imaginário, tocar o nosso coração com a força dos nossos desejos “viver”. Para isso, devemos “buscar” e “sentir” um permanente “significado” para a nossa “existência” e para as nossas “vidas”. Será quando ficaremos “despertos” para a plenitude infinita da nossa elevação espiritual, ainda nesta dimensão de vida.
Notas:
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2.A citação da doutora Susan Greenfiel foi reproduzida da Revista Super Interessante, edição de novembro de 2016, da Editora Abril; a do neurocientista António Damásio, do artigo sobre “Como a indecisão pode afetar a vida”, do escritor Eduardo Shinyashiki, publicado na edição 101 da Revista PSIQUE, da Editora Escala; as do doutor Carlos São Paulo, da sua coluna “Divã Literário”, das edições 95, 96 e 101, também da Revista PSIQUE, da Editora Escala.
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Muita paz e harmonia espiritual.